quarta-feira, 29 de abril de 2020

Poesia _ Canto ao Sol, além do Sol


Canto a Luz do Sol, algo além do Sol
                             _tarde de quarentena, abril, 2020.
Sol meu Rei.
Luz, minha Rainha majestosa
das manhãs nas trevas destes dias
sombrios, temerosos, incompreendidos
de quarentena!
Abrace a humanidade indefesa,
desprotegida, insegura.
Oh, luz que se estende
no Firmamento infinito,
cuide dos corações sensíveis
aprisionados em nossas habitações,
sem tréguas, sem respostas.

Resguardados estamos
frente microscópico desconhecido
Coronavírus-19,
invisível inimigo,
enigmático ser que se faz possuidor
de nossas frágeis moléculas,
que venenoso invade o ar que respiramos
que retém seu poder malévolo
atado à matéria sem pedir licença,
ocupando espaços inconcebíveis,
invadindo territórios, nações,
de leste a oeste, que se alastra
inconsequente possuindo nossos poros,
nossos pulmões, nosso chão. E mata.
Como surgiu não sabemos.
Arranca nosso fôlego, nosso bem estar,
nos privando o caminhar livres sem direção,
em dias ensolarados ou não, pelas
Ruas e Avenidas, Praças e Jardins.
Restringe nossos trabalhos, nosso ir e vir.
Aprisiona multidões em hospitais
e jaz corpos solitários no Campo Santo.

Oh, Luz fonte de Vida,
nossa Rainha resplandecente
do ponto mais alto do meio-dia
ao mais suave fim de tarde,
em horizontes vagos, em saudades
eternas sem retorno, diga-nos algo.
Oh, Luz que marca os ciclos de cada dia,
que surge ao amanhecer e nos deixa
a cada anoitecer, repito, diga-nos algo.

Oh, Luz gloriosa do alvorecer,
nos abrace como a mãe amorosa
que sabe alimentar, cuidar, proteger.
Diga que a Vida é um sim, um acolhimento.
Que a Vida é Impermanência, porém,
maior que o entendimento,
que os tropeços financeiros,
o conforto, a segurança emocional.
Que a Vida é incomensurável,
e somos para o Absoluto,
que este transtorno passará,
que tudo retomará em seu curso habitual.
Diga que este instante relativo
em noites escuras, quase trevas,
há de passar e retornaremos a respirar
inspirar e expirar libertos, libertas
com a Natureza renovada, verdejante,
com os familiares, amigos, amigas.
Voltaremos a lutar, a sorrir e cantar,
brigar, abraçar e beijar.

Oh, Luz irradiante,
me vejo mergulhada no vazio,
num silêncio abissal, neste instante,
me vejo em dimensões
desconhecidas; toques de eternidade.
Sinto o incomensurável,
olho a matéria densa em que habitamos,
dimensão plena da existência!
Oh, Luminosidade do Desconhecimento,
Mistério Primordial que liberta
o espírito do mundo aprisionado
no coração da matéria!
Oh, Amorosidade na escuridão!

                        Martha Pires Ferreira



















SOL poente - ontem, 28 da abril, da minha janela. Lá longe, um pontinho no horizonte é Vênus com sua beleza vespertina a nos encantar. 
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