A Natura tem suas trajetórias, seu caminho a percorrer; vida mineral,
vida vegetal, vida animal. A nossa vida, natureza humana, é mais complexa; instintiva,
sensorial, emocional, intelectual.
Somos pensamento, sentimento, intuição e sensação na pontual
classificação de C. G. Jung. Somos mais introspectivos ou mais extrospectivos. Somos
mais conscientes, mais lúcidos ou mais inconscientes, mais alienados de nossa
natureza humana.
Ao nascer somos chamados a viver a vida. Não fomos criados para sermos
mais inteligentes ou nos manter ignorantes, ser ricos ou pobres, famosos ou
desconhecidos, poderosos reconhecidos ou ignorados esquecidos, opressores ou
oprimidos, incluídos ou excluídos da sociedade. Fomos chamados, criados, a
sermos, acima de tudo, seres Humanos, gente, cidadãos e cidadãs em plenitude.
Para sermos plenos temos que ser essencialmente humanos, e como seres humanos
atravessar etapas pessoais no processo de vida, em consciência de si mesmo.
Caminhos escolhidos no desenvolvimento de nossa personalidade devem ter sua
meta de completude. Em essência somos
chamados a crescer, a completarmos nossa natureza como pessoas. Podemos chamar de Via este processo de
autoconhecimento. Isto independe do fator social, cultural; são vias naturais
da existência.
Para que sejamos em essência nós mesmos, autênticos, precisamos
atravessar etapas nesta via, neste caminhar de autoconhecimento.
A primeira etapa a percorrer é olharmos de frente para nossa imagem; a aparência
que projetamos, a que passamos para os outros, e que nem sempre corresponde à verdade.
Muitas vezes usamos máscaras, aparentando o que não somos. Mostramos natureza até melhor
do que somos; mais bem resolvida. Representamos para o mundo uma persona, uma imagem. O mundo não nos vê
como realmente somos. Não somos o que as pessoas pensam que somos. É preciso
termos consciência disto. Procurarmos ser mais verdadeiros/as, autênticos/as é
essencial. Nem sempre isto é possível nos meios profissionais, na sociedade, em
razão de não nos expormos, o que no caso é compreensível certa distância.
Usamos máscaras, uma persona, por defesa. O fundamental
é a tomada de consciência de como usamos a aparência, uma imagem agradável,
educada, como artifício para nos proteger. A persona é apenas artifício social, nós sabemos quem somos.
Diante do fato de olharmos para nós mesmos, quando encaramos quem somos
de fatos, nos assustamos porque vemos nossa sombra, nosso lado desagradável, escuro, secreto, que geralmente
não gostamos de ver, menos ainda mostrar. É a segunda etapa de nosso processo
de autoconhecimento; encarar nosso lado sombrio; orgulho, inveja, carências
emocionais, preguiça, luxuria, raiva, ódio, ganância ou soberba, e tantas
outras coisas desabonadoras que nos tomam com intensidade, que nos desagradam no
afetivo e mesmo no intelectual, pensamento.
Observamos a sombra. Lado
obscuro da vida que tantas vezes nós projetamos em pessoas do nosso entorno.
Apontamos nos outros o que na verdade é dificuldade ou defeito nosso, fantasias
nossas, anseios e problemas nossos. Fundamental é encarar a sombra, enfrentar nosso lado escuro e
sombrio procurando polir nossa natureza, nossa vida cotidiana. Corrigir nossos
defeitos. Quanto mais reprimida a sombra,
mais espeça, sem luz e negra ela se apresentará. Não esmagar nossas limitações,
e sim aceita-las ao polir nossa natureza.
É preciso não ter medo de olharmos de frente nosso lado obscuro,
sombrio. Aceitar nossos defeitos e limitações é básico para que novas frentes surjam
em níveis de consciência mais elevados.
A sombra poderá se positiva;
deve ser encarada por todos/as que se detém em baixa estima, pessoas que não
olham seus valores elevados, seus talentos ou dons. Por tanto a sombra poderá mostrar-se luminosa,
revelar-se positiva, criativa.
Quanto mais conscientes somos de nós mesmos, mais e melhor poderemos
confrontar nossa terceira etapa; a natureza complexa em forças opostas,
complementares; o feminino e o masculino que não se detém em fatores corpóreos
pertencentes ao mundo da mulher ou do homem; são potencialidades ing e yang como expressa a cultura chinesa – sombra e luz, receptivas e
ativas. Potencialidade feminina e masculina, existente em cada um de nós.
Ao encararmos o Animus, o quantum do lado masculino, guerreiro e
ativo que existe na mulher e a Anima,
o lado feminino, frágil e sensível que existe no homem, passamos a ter um
conhecimento mais apurado e profundo de nós mesmos, e, da riqueza da natureza
humana em sua totalidade; mais integração entre as pessoas na sociedade em sua
complexidade. Não se pretende perfeição humana, mas sermos mais completos,
harmoniosos.
Ao integrarmos nossos opostos, consciente e inconsciente somos mais
felizes. Quando aceitamos e compreendemos o que são estas energias que emergem
do inconsciente e as harmonizamos com nosso consciente, somos mais completos e
plenos. Compreender as forças que emergem do inconsciente é enriquecer o
consciente.
Na integração de forças complementares de energias opostas, sombrias e
luminosas, escuras e claras, desagradáveis e agradáveis, passamos a sermos mais
firmes, corajosos /as, diante da fonte essencial da vida; chegamos ao Centro criador, o Self, usando conceito de C. G. Jung, a última etapa percorrida no
processo de individuação. O Quaternio, a
harmonia existencial.
O Caminho ou Via do Autoconhecimento não para nunca, percebemos
simplesmente que somos únicos, e pertencentes ao imenso universo coletivo, ao
todo indivisível que nos cerca numa inter-relação, interdependência e comunhão
com toda a espécie humana em sua diversidade, sem exclusões, no campo relativo
e integrado no Absoluto, no Cosmo. Quando percorremos a Via do Autoconhecimento adquirimos Visão de Totalidade; visão maior que nos transcende, algo de divino
que se expressa na matéria. Sentimos pertencimento de novo ser “liberado”,
“realizado”, diante da vida.
Martha Pires
Ferreira - palestra-aula - 2006.
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