sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

O Brasil agora é um país descartável ? _ Universidade Livre _1996


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Estados Alternados da Política - Universidade Livre do Rio de Janeiro e Fundação Planetário - Palestra em 2/11/1996 /// Passado 20 anos > avançamos? Acompanhando os ciclos planetários _ Plutão estava a 2º 07' do signo de Sagitário, hoje, ele está a 17º 37' de Capricórnio.

     O  BRASIL  AGORA  É  UM  PAÍS  DESCARTÁVEL ?

                                  Martha Pires Ferreira / 1996.

           Não, o Brasil não é um país descartável.
         Os ciclos planetários sempre foram objeto de observação desde idades as mais remotas.  O que estava nos céus correspondia ao que se passava na Terra.  Macrocosmo e Microcosmo se interagiam.  Não havia separação entre o Céu e a Terra.  Fazíamos parte de uma só realidade - Unus mundus.
          Os astros inclinam, não determinam /
                          astra inclinant non determinant.
       Embora a Astrologia que conhecemos hoje tenha como origem os povos da Mesopotâmia e do Egito, é no mundo greco-helenístico que ela se estrutura. Não mais o determinismo inexorável, mas sim a livre-determinação, a forte dedicação às causas da liberdade.  Esta época marca o avanço da história do pensamento, a intimidade com a razão e os símbolos do cosmo. Os astros ajudavam na auto compreensão e nos destinos das nações. Explicavam as paixões humanas, seus anseios e o domínio de seus impulsos.
         Não somos marionetes dos astros.  Os astros apenas sinalizam, em seus ciclos anuais, direções demarcadas pelo tempo.  Simbolicamente vistas como fases - as mais fáceis e harmoniosas ou as mais difíceis e dolorosas.  A Astrologia diagnostica no espaço /tempo acontecimentos possíveis, prováveis, em acordo com a livre determinação de cada um de nós, seres humanos.
          O que vivemos hoje no Brasil?  O determinismo causal, a fatalidade engendrada por uma trama do Universo ou estamos, perplexos, presenciando a livre-determinação da perversidade reinante onde não há mais lugar para a pessoa humana com seus sonhos naturais, suas utopias de viver em paz e alegria?                                                         
       Não está escrita nas estrelas a nova ordem dos caminhos para o abismo do capitalismo ilimitado e amoral.
         Não estou dizendo nada de novo. Todos conhecem a face desta civilização de hienas que domina o mundo da atualidade; o império do mercado econômico, e que vive seu próprio abismo na ordem social.
         Plutão, Senhor dos Hades, dos Infernos, percorre no céu o signo de Sagitário, reino de Zeus. Signo das leis, princípios, diplomacia, viagens, expansão intelectual, justiça, dignidade. O ciclo de Plutão é de 248 anos, aproximadamente. Ele se autodetermina fisicamente na repetição de seu ciclo acompanhando os movimentos aparentes do Sol, da Lua e dos outros planetas. Nada se repete no firmamento. É um pulsar cósmico admirável. Um aviso.
        Para a Astrologia profunda, o importante é a leitura simbólica de cada ciclo planetário com suas sinalizações, é outro olhar que não é o da física, da cosmologia. Vivemos hoje, no Brasil e no Mundo, aspectos astrológicos semelhantes e mais complexos do que aqueles que se desenhavam nos céus trinta a quarenta anos antes da Revolução Francesa, quando o Ocidente gemia em crises desumanas. Eram gritos de desespero e de liberdade diante das perversidades da sociedade feudal reinante. A elite, como nos dias de hoje, só se comprometia com as glórias do poder e do dinheiro.
         Os anos que antecederam a Revolução Francesa foram de crueldade e barbárie. Lutas desesperadas. Com outras categorias, a história se repete.
        Não é mais a casta da realeza feudal que reina, e, no entanto, muito pouco se avançou além da produção industrial-científico-tecnológica. Onde os ideais de igualdade, de direitos humanos, onde as conquistas de cidadania e liberdade de opinião? 1/5 da humanidade é miserável; passa fome, frio, não tem teto, não se alfabetiza. É doente, excluído e morre sem compreender porque vive; o que é viver.
         Plutão, aquele que possui o poder da invisibilidade, da escuridão subterrânea, percorrerá o signo de Sagitário até o ano de 2008. Com sua potência simbólica transformará tudo o que nem podemos imaginar. Plutão é a morte/ressurreição, a mais radical transformação de conceitos em todos os níveis do saber. As perdas e as metamorfoses de Plutão são irreversíveis. Plutão em Sagitário sinaliza a desestabilização de tudo o que represente estagnação e estratificação do Estado dominante. As árvores velhas não dão mais frutos. De raízes velhas nada se pode esperar. A primavera renovada só florescerá em explosão de beleza depois da frieza do inverno. O sol só renasce depois de percorrer a noite escura. A noite da inteligência antecederá a luminosidade das ideias.
         A violência urbana - verdadeiras guerras civis espalhadas pelo planeta - não é força apenas de Plutão, mas força marciana e uraniana em plena compulsão, sede de justiça e de democracia que se chocam diante de obstáculos enrijecidos. A arrogância a que chegamos como seres humanos não têm medida. Devastamos a Amazônia, promovemos envenenamentos e desastres ecológicos, criamos produtos químicos tóxicos, esgotamento energético excluiu os mais deserdados de conhecimentos ou bens materiais, multiplicamos com perícia incomum o buraco na camada de ozônio, chuvas ácidas e fabricamos violência para todos os tipos. Destruímos solos, ideias, artes, imaginação poética, sonhos, inocências, geleiras, climas.
       
       Para onde estamos indo? O que nós desejamos? A engenharia genética ao construir réplicas constituirá sabedoria? Generosidade em clones? Solidariedade e justiça social virão de qual engenharia? De qual gênio cria- dor?
          Estamos cansados. Miséria, fome, doenças, atraso social, vazamento de reatores etc., nos perseguem como fantasmas. A questão armamentista nos aterroriza. Armas poderosas de pequeno porte se proliferam numa velocidade alarmante. Como nos livrar disso? Deve haver uma saída.
        A nossa civilização chegou ao ápice de sua ascensão, sua sofisticada militarização e tecnologia, e, no entanto, vivemos o máximo de tensões na mais cruel e inadmissível qualidade de vida.
       Constatamos a curva para o declínio, percebemos que não temos mais a quem dirigir nossos apelos. Nossos ideais agonizam. Os deuses gregos estão mortos, o Deus único está morto, as ideologias político-materialista estão mortas. O que nos resta?
      Precisamos aceitar com dignidade a agonia da civilização atual, ou ela nos destruirá. Precisamos questionar a nossa qualidade de vida. Precisamos conviver com as perdas que nos cercam e nos prepararmos para outra chama viva do amanhecer do ano 2000.
      Somos uma civilização antimetafísica, anticontemplativa, antitradicional, antifilosófica, antissimbólica. Dessacralizada. Em que nos apoiaremos, se a ruptura que presenciamos é cada dia mais radical? Pensem no que quiserem, por insensibilidade e egoísmo, nada ficará. Um Plutão mata e transforma. Urano caotiza e socializa. Netuno, deterioriza e purifica velhos valores obsoletos.
         A idolatria ao poder, à vaidade e ao dinheiro distancia a humanidade de sua natureza intrínseca.
          A Astrologia profunda é muito subversiva e sutil, não aborda perfumarias nem oferece receitas paradisíacas. É um exercício profundo dos sinais e códigos celestes. Tenta decifrar enigmas para a melhor orientação em tempos de primavera ou verão, outono ou inverno, na história da nossa vida terrestre.
          Os antigos sabiam das coisas, por isso eram sábios. E eram simples. Viviam com naturalidade.
          Onde nos situarmos nesta dança meio à escuridão no tempo/espaço Brasil?
      Onde o Brasil que contemplamos crianças, os sonhos luminosos dos anos 50, cheios de ideais libertários / anárquicos / irreverentes / criativos, e que foram crucificados nos finais dos anos 60, mortos nos 70 e 80, e que não ressuscitaram nestes anos 90? Onde a Ave Fênix? Esperança para o novo milênio.
         Somos uma sociedade mundial mentirosa / cínica. Os meios de comunicação tudo estilhaçam, tudo nivelam e globalizam, não oferecem saídas para o atual impasse. Uma sociedade decadente com raízes apodrecidas nada pode oferecer. Os cavaleiros do apocalipse estão aí com a nova roupagem da atualidade, com seus cruéis poderes manipulam ou negam a liberdade das massas. Aprisionam a opinião pública. Os novos cavaleiros do apocalipse, os que administram a máquina do Estado Mundial e os gananciosos que se aproveitam das vantagens da opressão, não constituem a fina flor da sociedade e nem conseguem fazer a felicidade de seus povos: medos imaginários os devoram.
         Para as civilizações materializadas, vaidosas de título de nada, hierarquia de nada, o que pesa são as exterioridades, o consumo desenfreado de bens palpáveis ou o acúmulo de saberes que não promovem o bem estar social, a alegria, a afetuosidade ou a concórdia.
        Neste final de milênio o que se é interiormente, potencialmente, como ser humano, não representa coisa alguma. Parece que vivemos à beira do abismo, ostentamos um luxo demente ao lado da mais insuportável miséria.
           Há os sonhos da Internet, como um messias salvando a humanidade. Isto se não cair nas armadilhas do Poder maledicente e cruel que tudo absorve para si, como no mito de Saturno. O poder que devora absolutamente tudo aquilo que possa expressar liberdade, independência, solidariedade e direitos pessoais adquiridos.
          Um estudo profundo e atento da cosmogonia clássica greco-romana poderá nos oferecer algumas luzes diante dos enigmas do tempo presente que estamos vivendo e que ainda vamos viver.
      Simbolicamente podemos dizer que Zeus (Júpiter) e Cronos (Saturno) se confrontarão, não há outra saída - uma guerra de Titãs. Teremos que enfrentar Gigantes ou seremos estrangulados. Somente Zeus, a dignidade, a justiça enfrenta Cronos, o estratificado, o tempo inexorável, que tudo devora. E para tanto precisa dos recursos e das conquistas de Urano para a evolução, o humanitarismo, de Netuno para a purificação espiritual e de Plutão para a ressurreição depois da morte, do holocausto.
          O Brasil, independente das formações regionais, não sabe o que fazer diante do esvaziamento de nossos valores culturais, nossas tradições, nossa história. Tudo é cruelmente nivelado em nome da globalização. É a nova ordem do Estado-mundializado, em nome do neotudo, menos da liberdade pessoal e da dignidade humana.
         Tudo parece se inverter na face da terra, nessa imensa Terra-de-Santa-Cruz-Brasil. Nada para o que diz respeito à saúde, educação, seguridades sociais, direitos de cidadania, cultura, chão a quem não possui.
         Tudo isto é descartável, não serve para nada. Consagra-se a globalização do egoísmo, do oportunismo, da estupidez oficializada e garantida pelas máquinas. Somos cada dia mais o quintal do paraíso econômico internacional. Nossos valores tradicionais são descartáveis, nossa cultura popular é descartável. Nossas conquistas no campo industrial e científico são descartáveis. Nossos sonhos e pensamentos são descartáveis. Percebemos que nossa soberania está ameaçada enquanto identidade pessoal e nacional.
         Só nos é dada atenções enquanto “proprietários” do solo e seus minérios, sua flora, petróleo, espaço aéreo, fluvial e marítimo. Como criaturas humanas nada somos para esta sociedade de hienas do mundo capitalizado que só visa exacerbação dos lucros fáceis. Na ilusão de que poder e dinheiro compram tudo, a escória brasileira se compromete com a economia internacional perversa, mais cruel que as feras na selva. Há dignidade entre os animais selvagens, entre eles há respeito e grandezas mútuas.
          Não se trata de xenofobia, nem nacionalismo sentimental, e sim consciência de se pertencer a uma nação, a um povo com seus valores, sua expressão, seu temperamento, sua mesclagem, sua etnia. Nossa cultura política, não pode verter a interesses importados. Devemos cultivar cada dia mais, corajosamente, profundamente, nossa cultura. As trocas de valores enriquecem a inteligência, as imposições importadas ou não, estrangulam.
         Parece que o momento histórico nos convida à desumanidade. O homem-hiena, ave de rapina, nos escritórios bem montados, mata sentado comodamente frente às mais modernas tecnologias - o “deus” dos materialistas. O homem-hiena, individualista, decreta falências bancárias passeando pelo Jardim Botânico em celular importado. Exporta e importa o que a sua categoria mafiosa determina: objetividades e subjetividades. Não são determinações dos astros, são determinações de seus planos pessoais, determinações de uma classe econômica-social-política, e por vezes cultural, submissa às estratégias do poder internacional.
         O homem-filho-escravo da pura racionalidade científico-tecnológica se detesta e se odeia, e não desiste em seus percursos diabólicos. Professa a idolatria do mercado. Ele não busca ser o melhor como indíviduo, e sim apenas ser poderoso e rico, ter créditos econômicos e financeiros, e se divertir. Mais nada.
         Vivemos o conflito do homem real, autêntico, puro, genuíno, com a pirataria do homem-papel (usando palavras de Gabriel Marcel). O homem-papel, ávido de alcançar a máxima altura do pensamento, tudo perverte, tudo assina, tudo trama para satisfazer seus desejos de penetrar em cada labirinto das armações modernas, beneficiando-se dos jogos inescrupulosos do poder. Desconhece o que seja afetuosidade, generosidade ou leveza. Vive para o verbo Ter, desconhece o Ser. Inconsciente de si, nem sabe para que vive tão indigente que é.
         As aves de rapina sonham sentar-se refesteladas no establishment, sua carniça, aposento confortável da burocracia indolente reinante.
         O caldeirão ferve, e os ciclos da vida se fazem. Os planetas, nos céus, sinalizam como sinais de trânsito. Deveríamos estar mais atentos, e seguirmos o fio do que há de melhor.    
         Aqueles que detêm o poder e a ambição não se harmonizam com a bondade, a fraternidade e o amor, mas ao oposto, com as tramas da astúcia, do orgulho e da desonestidade.
         A sociedade sofisticada, ladina, covarde, decadente e fragmentada vive como a realeza feudal do séc. XVIII. Aliena-se do sofrimento da humanidade e de suas causas. Em razão de ser elite reinante é mais alienada que a pequena burguesia que sonha apenas com um bom vinho, um carro novo, a aposentadoria, a universidade para o filho ou passear em Miami.

         O Brasil está dividido em “guetos”:
 I - Os piratas, coniventes com os jogos e as tramas da burguesia reinante do poder internacional.

II - A elite econômica, e mesmo a intelectual, que não mais consegue adormecer em berço esplêndido.

III - A pequena burguesia, oprimida com seus sonhos, sem horizontes largos. Sem futuro para seus filhos.

IV - Os revolucionários de todas as classes sociais e culturais, indignados e inconformados, que se organizam ou não, e se rebelam como heróis no dia a dia.

V - E os excluídos, pobres, miseráveis, velhos esquecidos, doentes, deficientes e enlouquecidos que vivem à margem, perplexos ou não. Sem terra ou não.

         É preciso, em sã consciência, saber com clareza a que prateleira ou prateleiras cada um de nós pertence. O que é o joio e o que é o trigo. Como se dá o terrível confronto entre as forças do bem e do mal. A espiral que nos eleva não é a mesma que nos degrada.
         Tudo o que nos toca como valores conquistados é a cada segundo desvalorizado em nome da modernidade e de novos paradigmas. Devemos ter orgulho de nossas coisas, nossos gostos, nossa maneira própria de sermos brasileiros. Podemos ter largueza de espírito internacional e cósmico, isso em nada impede de preservarmos e cultivarmos nossas características miscigenadas, tecidas da mesclagem de tantas raças. Somos um povo singular que olha para um amanhecer, um vir a ser.
         Dentro dessas incertezas sem horizontes vemos corajosos e lúcidos homens e mulheres, que abandonam, por livre escolha, posições de vantagens para viverem com mais simplicidade, se identificando com os excluídos e com os mais conscientes de melhores níveis de vida humana.
         Resolveram que todos nós não somos capazes de administrar nosso próprio país, fazer nossa história, criar riquezas, ampliar nosso campo técnico-industrial, produzir artes, plantar e colher, construir e sermos felizes para sempre. Como nos contos de fada é preciso enfrentar a bruxa perversa e o dragão-de-setecabeças. Não podemos esquecer que se indignar e lutar são virtude de poucos, exige gestos heróicos.
         Não podemos permitir que tornem descartáveis nossos valores tradicionais. Mal começamos nossa História, vem o rolo compressor e tudo quer destruir em nome do materialismo consumista, e desenfreado. Em nome da “modernidade”.
         Nossa cultura não é matéria descartável. Precisamos preservar nossa arte, samba de raiz, chorinho, futebol, capoeira, cantigas de roda, artesania, flora, fauna, culinária, literatura, arquitetura etc. Nossas festas tradicionais: Folia de Reis, Festa do Divino, Cavalhadas, Maracatu, Curum-Siriri, Danças dos Mascarados, Festas Afros etc., toda nossa maneira de ser.
         Não podemos permitir que, em nome do progresso e de novos modelos, o que somos de autêntico e de genuíno se torne caricatura comercial enlatada.
        Somos um povo essencialmente criativo, jovem, e ávido de florescer. Somos feitos de uma argila que não é a mesma dos detentores do poder internacional.
         “Não resistir com o mal ao que classificamos como sendo mal, até que tenhamos encontrado um critério certo: e isto foi o que nos ensinou o Cristo” palavras de Leon Tolstoi. (O Reino de Deus está em vós. Ed. Rosa dos Ventos, 1994)
        Sejamos um coração aberto para novos acontecimentos. Os muçulmanos e os asiáticos estão chegando cada vez mais, não para colonizar, mas para viverem aqui no Ocidente, na esperança de serem felizes.      
        Plutão em Sagitário sinaliza êxodos, e que êxodos serão estes, senão o dos emigrantes se locomovendo em busca de chão, alimento, proteção, trabalho e lazer? Êxodos para sobreviverem.
          Os novos calaveiros do Apocalipse estão aí. Tudo será muito rápido. Tão veloz como as tecnologias, as mais avançadas. A Vida é um profundo mistério que a Internet não alcança e não alcançará nunca. Que homens e mulheres adquirindo novos níveis de consciência, tenham mais abertura para um mundo cheio de esperança e generosidade. O processo de unificação mundial, de universalidade, é hoje incontestável, mas isso não significa uniformizar o mundo numa ordem centralizadora, como “a práxis do Império Romano”. Todas as nações e culturas em suas diferenças precisam se intercambiar na busca de novos horizontes. Isso é troca. É transição para a Era da Solidariedade, da Liberdade.   
         O Brasil deve continuar um espaço de amorosidade e fraternidade. Um país de braços abertos para acolher, compartilhar, trocar e amar seja lá quem for, seja lá de que canto da terra. Não um país para ser explorado e excluído. É preciso ser herói. Os heróis não caem em armadilhas.
         O Brasil não é um país descartável, é um país luminoso para 3º e 4º milênios. Somos um povo repleto de potencialidade. Os nossos valores precisam emergir das nossas profundezas. Precisamos pertencer a um universo mais flexível, cheio de poesia e arte. Um aumento de conhecimento da natureza humana, de criatividade e de sabedoria.            
  
HISTORINHA ZEN
O POETA HAKURAKUTEN E O MESTRE DORIN

         O mestre Dorin costumava meditar no alto de uma árvore. Certo dia, o poeta Hakurakuten veio visitá-lo e, vendo-o encarapitado num galho alto, assustou-se e exclamou:
         - Cuidado, Mestre!
         O mestre gritou lá de cima:
         - Quem está em perigo és tu!
Que perigo ameaçava o poeta, que estava tranquilo, com os pés firmemente apoiados no chão? Hakurakuten perguntou, então, ao Mestre:
         - Qual é a essência do Budismo?
         - Não fazer o mal e praticar o bem.
         - Mas até uma criança de três anos sabe isso!
         - Sim, mas é uma coisa difícil de ser praticado mesmo por um velho de oitenta anos.
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sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Chardin e/ou Thomas Merton?

Reflexões leituras – 2017 – Chardin e/ou Thomas Merton?
/ martha pires ferreira

Minha obsessão pelos grandes da humanidade, suas obras, suas inquietações, suas vidas; parte da minha caminhada peregrina. Ano passado percorri o pensamento político da mestra Hannah Arendt, a política de fundo de quintal não interessa, exasperante, nada nos acrescenta. Bebi em 2016 mais uma vez nas águas cósmicas do profeta e visionário Theilhard de Chardin, reli suas obras, A Energia Humana e um livrinho/joia da filósofa Maryse Choisy – Teilhard e a Índia. Ganhei de presente de um padre jesuíta / PUC, em razão de um grupo de leituras e reflexões, a obra do papa Francisco, Amoris Laetitia, polêmico, instigante e fundamental para a cristandade, hoje. Terminando o ano mergulhei no precioso Bede Griffiths, Rio de Compaixão, comentário cristão ao Bhagavad Gita. Precioso. O silêncio interior abre portas de percepção.
Penso, continuarei a ler Chardin? O Fenômeno Humano? Não sei. Interrompi e parei em Thomas Merton (1915 -1968), arrumando meus livros, atraída por suas obras mais contundentes. Não suas obras devocionais como Na Liberdade da Solidão ou Espiritualidade, Contemplação e Paz, que são ricas e essenciais para a vida espiritual. O que me atrai em Merton, neste mundo tão conturbado, vazio do sagrado, na boca do abismo em que todos nós estamos mergulhados, é a ponte que ele fez com as religiões de tradição do Oriente; seu olhar agudo para com a espiritualidade na China - o Tao/ a via de Chuang Tzu - no Japão - o Zen e as aves de rapina / seu encontro com Suzuki - na Índia - a cultura milenar vedanta - no Budismo Tibetano, seus encontros com Dalai Lama e sem esquecer-se do Oriente médio, sua correspondência com sábios mestres do Sufi. Pontos de convergência nos diálogos entre Ocidente e Oriente. Ainda, me instiga seu interesse pela cultura latina americana - Hermana América - povos das Américas, tão relegada e mesmo desprezada por estudiosos.
Tudo na inquietação de Merton movia do conhecimento da interioridade profunda à vida prática – a vida de eremita e de amante da natureza. Ébrio do Deus Desconhecido, não menos angustiado diante das injustiças, guerras, violência e questões sociais desumanas - tudo uma só realidade. Unia o céu da solidão amorosa à beleza da matéria, mãe terra - o transcendente aos apelos sociais de toda a humanidade.

Enquanto vou juntando estes interesses em comunhão, mais que uma simples comunicação, me detenho em uma das mais controvertidas de suas obras - Paz na era pós-cristã – livro proibido por seu superior, o abade geral do mosteiro de Gethsemani, em 1962. Este livro proibido de ser editado foi mimeografado e distribuído clandestinamente naquela ocasião. Somente 42 anos de sua morte ele foi finalmente publicado – Orbis Books, 2004.  Pontualmente relevante, hoje, num mundo em transição das mais radicais e profundas. Leitura imprescindível aos que lutam pela concórdia, harmonia entre povos e nações.
 – Thomas Merton / Paz na era pós-cristã, Editora Santuário, 2004.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Reis Magos, Reis Astrólogos, anunciaram ao mundo o nascimento da Criança Divina !

Hoje, dia 6 de janeiro comemora-se a Epifania – Mistério da encarnação de Jesus Cristo – o Messias – o salvador da Humanidade. Comemoração na Igreja rito Oriental. Riqueza simbólica que permanece viva.
Os Reis Magos, sábios astrólogos do Oriente, representam em si todos os povos do Universo. Vendo a Estrela do Oriente disseram uns para os outros: “Este é o sinal do Grande Rei” (S. Mateus 2, 1-12)
Baltasar, o rei negro, aqui representado pelo índio, ofereceu a Mirra, uma resina aromática, Gaspar o incenso e Melquior de barbas branca ofereceu o ouro, símbolo da realeza e da imortalidade.
Que o simbolismo dos Santos Reis permaneça vivo nas Festas de Folia de Reis por todo o interior do Brasil como tradição perene.
Em Santa Teresa, na Casa Amarela, teve comemorações como todos os anos - Folia com Arte.

Ó de casa, nobre gente,
Escutai e ouvireis,
Lá das bandas do Oriente
São chagados os três Reis!

Quadrinha popular
 
Reis Magos a caminho da Estrela - Senegal
Adoração dos Reis Magos - Hans Memling Museu do Prado

Adoração dos Magos Duc de Berry

Adoração dos Reis Magos - séc. XV - E. San Giorgio.

Adoração dos Reis Magos - Albert Dürer

domingo, 1 de janeiro de 2017

RIO DE COMPAIXÃO - 2017

ANO NOVO - VIDA NOVA - Feliz 2017 !

RIO DE COMPAIXÃO  
Um comentário cristão ao Bhagavad Gita *
Bede Griffiths
Dom Bede – (1906- 1993) de origem inglesa, tendo cursado letras e filosofia, teve uma vida de singularidades. Morou na juventude, inicialmente, retirado junto á natureza em protesto contra o mundo moderno. Em 1932 entrou para um Mosteiro beneditino. Em 1955 foi viver na Índia, onde em 1958 ajudou a implantar um ashram. Em 1968 foi viver em Shantivanam, em Tamil Nadu, num ashram que havia sido fundado em 1950 pelo monge beneditino francês Henry Le Saux (Abhishiktananda). Estudou profundamente a cultura e religião hindu. Permaneceu monge beneditino adotando vestes cor de laranja da vida monástica hindu e recebendo o nome devocional Dhayananda. Deixou extensa obra escrita tornando-se cento de referência de vida contemplativa, de aculturamento e diálogo inter-religioso.
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* - É Realizações Editora, 2011. SP