Cultura astrológica _ sinais do céu _ 1998 - 2023

Escrito em1998, pontuais acréscimos, 2023 _ Martha Pires Ferreira 

            Da observação e reflexão das leis do firmamento surgiu a Astrologia. A etimologia da palavra Astrologia vem da raiz grega Astron (estrela) e Logos (verbo, palavra) _ O verbo das estrelas, a portadora do ritmo e da harmonia que rege o universo. A Astrologia é a mediadora entre o mundo sensível, inteligível, que habitamos, e o Cosmos. A Astrologia é um saber simbólico de correspondências entre a Polis e o Cosmos.

            Os mais arcaicos sistemas de observação do universo eram astrológicos e astronômicos, estes dois conhecimentos caminharam juntos por séculos. A palavra Astronomia vem da mesma raiz grega Astron (estrela) e Nomos (nome). O estudo das posições e movimentos dos astros desde a Antiguidade constituiu a mecânica celeste, a Astronomia de nossos dias.

            Os astrônomos observam o universo em sua cosmografia, plasmam os céus em sua imensidão. Descrevem os movimentos dos Astros com pesos e medidas lógicas, racionais, com as mais rigorosas leis de precisão física _ mecânica celeste. Os astrólogos observam o universo em suas conexões física e somam; procuram entender a simbologia da natureza dos astros e tudo que os envolvem _ correspondência em suas dimensões energéticas, suas inserções físicas na matéria/corpórea, atividades intelectuais, psíquicas e emocionais na vida da Polis. Sinalizações celestes no comportamento dos seres humanos, manifestações possíveis, aqui, no planeta Terra. Observam o mistério que é a Vida.

            A Astrologia, por tanto, é a afirmação da correlação acausal de fluxos e refluxos entre os corpos celestes envolvendo todo o sistema solar, e, naturalmente, este planeta maravilhoso que habitamos, a Terra.

            Não somos apenas um cisco perdido no universo, marionetes dos astros, engendramos com a grandeza da criação, somos o cosmos em corpo e espírito – evolução contínua.

 

            As tradições afirmam que a Astrologia foi “inspiração divina”, talvez dos sábios da velha Atlântica. A Astrologia pertencia às Escolas Iniciáticas.

Transmitida oralmente de mestre a discípulo quase que em segredo. A  Astrologia, posteriormente, querendo ou não, caiu no mercado de consumo, foi perdendo sua força simbólica nos meios de comunicação e sua preciosa coerência original, embora seja transmitida, até hoje, com profundidade, em círculos mais fechados. 

            Os astrólogos que defendem a tradição afirmam, apenas, pertencer a tradição _ fato consumado. Em nada querer “provar“ as razões da tradição. O que se sabe, e, é correto, é que a Astrologia foi vivida intensamente por vários povos ante mesmo da escrita. O conhecimento era passado oralmente há mais de 4.240 a. C., como datam registros de pesquisas históricas.

            A Astrologia que conhecemos, hoje, no Ocidente, tem suas origens nos povos antigos da Suméria, Assíria, Babilônia, Caldéia, toda a Mesopotâmia. O Egito, a Pérsia, os árabes, a velha China, o Tibet, os Hebreus, a Índia, Íncas, Maias e Astecas são civilizações que conheciam a Astrologia muito séculos antes de chegar à Grécia e Roma. Significativo avanço, chegando no ano 1125, na Universidade de Bolonha, instituir a cadeira de Astrologia, e em Cambridge, em 1250. Tendo ponto alto, de reconhecimento por toda a Renascença. A descoberta heliocêntrica de  Nicolau Copérnico revolucionou as teorias geocêntrica de Ptolomeu.

            A Astrologia, a Matemática e Geometria eram as bases do conhecimento científico na Antiguidade.

            Por uma Astrologia culta e erudita necessário nos estendermos ao conhecimento deste saber, desde suas origens, as mais remotas. Um caminhar mais amplo e exigente neste processo, consciência maior, em seu papel à serviço da sociedade, neste mundo em que vivemos, nos pede pesquisas, mergulhos. Só assim podemos obter a compreensão do Cosmos em relação à vida na Terra; nossa correlação com o absoluto.

Não basta ler manuais, os melhores livros de Astrologia, programas computorizados de Cartas Natais. A Astrologia profunda não se satisfaz em armar Cartas Astrais, manipular coordenadas; planetas, casas, aspectos, declinações com suas posições; Sol, Lua, Ascendente, e, por aí vai, se comprazendo com leituras da Mapas de Países, nações.  Postura mais elevada não se limita ao exercício de horoscopismo, com seus aspectos e complexas coordenadas; ciclos anuais, trânsitos, progressões, retorno solar, lunar, sinastria, pontos médios, evolutivos. Fundamental ir mais longe, observando o Zodíaco em sua totalidade, grandeza simbólica sem esquecer dos estados cósmicos, ciclos anuais, em relação aos elementos _ Fogo, Terra, Ar e Água. Somos resultado da Mãe Natureza em estrutura orgânica, somos matéria física-humana.

             A astrologia profunda, em nível mais depurado, não se basta no exercício das  análises bem-feitas de uma Carta Natal, ou mesmo o dar bons conselhos aos seus clientes, diante das mais complexas solicitações, necessidades emergentes dos consulentes. Nem tão pouco se realiza por previsões maravilhosas.

            Os socorros sentimentais, questões pessoais, ou soluções para artimanhas de poder, não trazem as respostas fundamentais da vida. Um vasto conhecimento adquirido ao longo da vida, nada preenche o saber astrológico se estiver vazio da compreensão simbólica, raízes em suas bases. Em Astrologia o fundamental é compreender a linguagem dos símbolos, é saber fazer as analogias _ pontual _ análise combinatória: signos, natureza dos elementos, estado cósmico, casas, aspectos, ângulos.

            O saber astrológico, compreendido com a riqueza de seus símbolos, nos leva a percursos cada vez mais profundos; uma entrega às dimensões mais abrangentes em responsabilidade social, bem comum, assim como espaço da espiritualidade, sentido da sacralidade em nossa vida cotidiana, também, estão presentes.

            Para o entendimento deste saber mais amplo, saber iniciático, hermético, a Astrologia caminha junto do conhecimento de mecânica celeste, a tecnologia em si, o saber cultural em mitologia, filosofia, psicologia, ciências humanas-naturais, sociologia, política, história da civilização, artes e medicina, e, aqui, não estendendo mais. Um saber portanto transdisciplinar, multidisciplinar em seu todo _ visão de mundo. 

            A história do pensamento tem suas origens no pensar astrológico, ou podemos dizer, o pensar astrológico faz parte da história do pensamento em suas origens. Não se pode falar no processo da evolução humana e da história do pensamento omitindo a importância da Astrologia.

            Outro aspecto importante que não se pode deixar passar é dizer, afirmar, que a Astrologia aponta questões das massas sociais, sentido do coletivo, anseios do povo, pela leitura de seus ciclos anuais. Podemos observar o estado psíquico de uma sociedade, de uma nação, a cada época.

De alta mestria é analisar estados vigentes de uma sociedade; se em seus valores efetivos de progresso, bem comum, ou decadência,  corrupção, hipocrisia. As polaridades de sombra e luminosidade contam efetivamente. Os Astros podem mostrar, sinalizar, o que está se espelhando em vários momentos da história civilizacional; política, econômica, cultural, artística, portanto, social; evolução ou decadência, destroços governamentais, institucionais ou soberania de cada povo, nação.  

            Por seus ciclos celestes é possível constatar avanços civilizatórios, assim como, riscos de decadência, degradação; lado sombrio, em dados momentos. Conjunturas astrais sinalizam travessias difíceis para pessoas ou nações. São demarcações, dos ciclos planetários, posições celestes complexas; transições necessárias, verdadeiros desafios.

Aspectos entre planetas mais lentos, como Júpiter e Saturno, e, os transpessoais, Urano, Netuno e Plutão configuram situações mais tensas. Desafios; oportunismo para corrupção ou esforços para a evolução civilizacional. Os astros inclinam, pelo livre arbítrio, somos nós quem engendramos os feitos; destruição ou construção, realizações sociais visando o coletivo; estagnação, exploração egocêntrica ou avanço solidário, participativo pelo bem comum. Não somos marionetes dos Astros, engendramos com o Cosmos!

Desde a mais remota Antiguidade encontramos a Astrologia, em vários momentos, comprometida com abusos de poder, e se agravou com a pos Renascença; expandiu-se, foi alvo de poder imperial e religioso. Obteve poderes incabíveis de manipulação; o charlatanismo, oportunismo leviano, crendices, receitas com aguinha de açúcar e perfumes sentimentais.  Caminhos fáceis, principalmente, quando a sociedade cai em níveis mais baixos; valores moral e cultural. Astrólogos impostores aproveitam-se de sistemas fracos, podres poderes sociopolítico, religioso e econômico para fazer a festa das ilusões, venda de diagnósticos, quimeras! Por consequência, a Astrologia séria e profunda perde a credibilidade. Astrólogos e astrólogas estando à serviço do sistema fraco, corrupto e enganador, não observam suas sombras escuras, se omitem, se colocam banais e superficiais, por ignorância.

O saber astrológico em suas raízes profundas não se submete à sistemas, dogmas nem poderes. A Astrologia tem sua autonomia própria, alteridade. O astrólogo serve à sociedade ao sinalizar o que descrevem os Astros, seus ciclos, movimentos diários, anuais. Conhecimento que passou da História Antiga, atravessando a Idade Média, Renascença, Moderna até a Contemporânea por filtragens diversas; altos e baixos, aceitação e descrença. Percorreu caminhos sinuosos. Manteve-se secreta em alguns momentos críticos, preservou-se em seus cânones fundamentais, enriqueceu-se em novos valores com o avanço da ciência e humanidades. Adquiriu novos valores de leitura/visão Cosmos – Terra. Do saber mais ortodoxo e conservador ao que surgiu de mais atual, acompanhando o progresso da física quântica,  e, descobertas no campo biológico e psicológico.

Com riscos de banalização pelos recursos tecnológicos, atuais, verdadeira fábrica de Mapas Natais, novidades cosmológicas e mídias virtuais elaboradíssimas! As mídias sofisticadas, a Internet, uma festa para as sensações! O depuro, vem com o tempo, o essencial é a sustentabilidade, como sempre foi.  O que importa é que a Astrologia está atuante, novamente, viva nos plurais meios de comunicação, tentando dar respostas aos anseios humanos, de cada povo, nação. O coração sensível pulsa no corpo humano, cheio de afeto e anseios e não nas máquinas, nas tecnologias avançadas. É o retorno sem volta, gostem ou não os acadêmicos e conservadores de uma cultura cartesiana, séc. XVII, séc. XVIII, que amarraram a Astrologia num poste sem fio.

Retornou um tanto materialista, pragmática e funcional, mas anseia o espiritual, a Anima Mundi aprisionada na matéria. Os próprios ciclos se encarregarão disto. A Astrologia sempre acompanha o espírito das épocas. O Cosmos por sinais e os seres humanos por pensamento e ações, por consciência mais depurada há de avançar, é o natural em expansão evolutiva.

O pensar astrológico contemporâneo, para se afirmar sério e reconhecido como saber notório, não leviano, excludente, nem fatalista ou enganador terá que amadurecer seus cânones, bem fundamentado no conhecimento técnico, mecânica celeste, visão cosmológica, no que diz respeito ás “ciências exatas” e se ocupar em suas bases simbólicas, analógicas, intuitivas. Apreensão da totalidade _ valores interno e externo, sombra e luz, masculino e feminino, Yang e Ing _ percepção conjunta das realidades quantitativas e qualitativas.

Para conceitos, visão de universo formulados por Copérnico, Kepler e seguido por Newton temos a Astrologia newtoniana, clássica; determinista e quantitativa. Para o universo de Einstein e seu seguidor o físico e filósofo Heisenberg, por sua obra Os princípios físicos da teoria quântica, temos a Astrologia qualitativa, baseada em princípios de probabilidade. _ “Astros inclinam, não determinam”, é um conceito grego em suas raízes.  As descobertas da física quântica foram fundamentais para uma nova visão de Astrologia e sua função prática. Pontualmente enriquecida em sua epistemologia própria, estudos críticos, hipóteses e resultados, no viés das ciências humanas, biológicas e sociais.

Importante levar em conta os valores quantitativos, precisão científica, ao calcular Mapas Natais e nas observações dos ciclos anuais, assim como, os valores qualitativos que a sensibilidade impõe como recurso interpretativo das possibilidades a serem vivenciadas, levando em conta as complexas combinações celestes.

A Astrologia não é um saber em busca de se possuir algo, como objeto adquirido; um jarro, um bem pessoal, aquisições objetivas, um afeto definitivo, um sucesso de carreira, uma loteria. Não se vai ao um astrólogo como se vai a um programa social; cinema, teatro ou entretenimento. Consulta-se um astrólogo como um recurso dos processos de autoconhecimento, de entendimentos do si mesmo, tendências gerais. Um desejo de se conhecer a própria natureza humana em sua estrutura caracterológica, raízes básicas. Ilusão pensar que a Astrologia terá respostas para os enigmas profundos de nossa existência, nos devolver ao paraíso perdido.

A astrologia deve ser entendida como um processo de compreensão a tudo que envolve nossa natureza humana e integração com o Cosmos, com a Mãe Terra, aqui onde habitamos. E o mesmo para com as análises de situações dadas; eventos, início de negócios, fundação de estabelecimentos. Astrologia pode ser vista como um dos caminhos, recursos, para a compreensão da totalidade da vida. A Vida em sua importância primordial; a Astrologia como instrumento de percepção das realidades, uma porta para o conhecimento de nossas tendências possíveis. Não é um saber isolado, frio, distante das emoções e fatos objetivos, ela atua como precioso instrumento de orientação às nossas potencialidades.

Se a Astrologia profunda não é um segmento capaz de nos ajudar a compreendermos o nosso lugar no mundo,[MPF1] [MPF2]  a serviço de nosso crescimento pessoal, depuro humano, evolução social, devemos, então seguir outra direção. Outra via para o autoconhecimento, integração e conhecimento do nosso estar aqui na Terra, no Universo.

A Astrologia não pode ser um processo fechado, de técnicas e hábeis manipuladores em controle de poderes. Pertence aos cânones das liberdades interpretativas, levando em conta o profundo conhecimento epistemológico e sensibilidade analítica. Processo analítico para o alargamento da consciência. Voltada apenas para as questões externas, pragmáticas, alimentando caprichos e oportunismos fáceis, se revelará uma ilusão, açucarada ou mesmo uma farsa, se diminui, se rebaixa de nível. A astrologia deve atuar como bússola, instrumento sutil a nos orientar em nosso todo – interno e externo – nossas polaridades agradáveis e mesmo as mais obscuras, subjetivas, sombrias. Serve de orientação, luz na escuridão.

O Processo de individuação astrológica pode ser igualado à viagem de Dante Alighieri, conduzido por Virgílio, na Divina Comédia _ para se chegar ao paraíso é imperativo descer ao reino dos infernos, com todos os seus percalços, saber atravessar as regiões subterrâneas, antes de atravessar o purgatório e ser velado aos céus. Percorrer os caminhos da evolução é ser herói diante de  abismos. 

A astrologia é via iniciática a nos apontar níveis possíveis de estados de consciência mais depurados, elevados. O preço da passagem de nível mais rudimentar para outro mais depurado é altíssimo. Nem todos são audaciosos bastante para chegar até o fim da jornada, processo de individuação, conhecimento de si mesmo, como nos mostrou o sábio suíço C. G. Jung.

O gosto pela sabedoria exige constante trabalho, depuração em tudo que se vive, e é assim com o conhecimento das conexões céu e terra _ “o que está acima é o que está abaixo” como observava o velho Trimegisto. Uma trajetória mais ousada nos convida a mergulhos muito profundos; caminho de humildade, despojamento e simplicidade exterior, sutileza interior a nos tocar no grande mistério que é a fonte da criação, berço de onde a Vida emerge.

Todos nós somos herdeiros das estrelas há bilhões de anos. No interior do átomo não há códigos ou lei de causa e efeito, o que existe é a imprevisibilidade. Nenhuma teoria científica pode ser completa porque determina limites às investigações do ilimitado, o mesmo se dá com o saber astrológico. Nenhuma teoria é completa sem integrar o ser observador e o objeto observado. A matéria densa e a sutil não são inseparáveis.

A Astrologia tem suas raízes nas Escolas de Mistério. O sagrado é mistério, abre a dimensão para a deidade, para a convergência Deus _ apreensão do Uno!

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