Liberdade de escrever - desenho 1966 - canetinha esferográfica.
Início do ano
escolar, totalmente angustiada com o andamento da ditadura militar, a
estreiteza intelectual do meu entorno e o cerco à volta com impossibilidades de
se viver livre no ir e vir, dizer e se expressar, e, não enxergar qualquer vislumbre
de retorno à democracia, numa tarde, curvada sobre a mesa, no tradicional Colégio
Jacobina, Rio de Janeiro, onde eu era uma das coordenadoras das alunas, apanhei
um papel qualquer e fiz o desenho de uma casa, ampla e meio retirada num campo
como imaginei. Disse para mim mesma, chega, dou as costas para este ocidente
estreito e cruel, quero só desenhar pra nada, pra meu prazer, minha fuga, meu
amparo emocional. Vou me segurar nas imagens sem preocupar-me com estilo,
estética, forma, conteúdo; liberdade criadora, apenas. Abandonei a coordenação
e segui na escuridão. E assim o desenho foi minha âncora, meu horizonte sem
regras, sem metas. Até hoje desenho por desenhar, sem qualquer compromisso com
a aceitação como produto de arte.
- Computador, bico de pena, nanquim, 1982.
Por pura liberdade fiz exposições, participei
de salões, viajei e mostrei meus trabalhos, mas sempre sem critério, sem
amarras, sem compromissos. Se existe algum é somente o prazer de engendrar o
que o cérebro e as emoções apontam com liberdade plena. Sim, disciplina, aperfeiçoamento,
qualidade com materiais. Fico espantada como passou o tempo Kairos e Cronos,
vertentes da vida. Várias fases e versões.
Agora, novamente, um
aperto no peito diante do massacre á democracia, neste abrir para o terceiro
milênio, em proporções grotescas, veladas, capciosas e não menos perversas, depois
de mais de 50 anos em retrocessos e avanços. Coração ferido não enxerga o fio do
horizonte neste ano de 2018, fio da cristandade que desconhece a humanidade
real de Jesus de Nazaré histórico. Mesmo assim meu coração tão ferido tem a
marca da esperança salvífica, diante dos atritos, das discórdias e, sobretudo,
dos medos de evolução e progresso. O ser humano tem medo de ser feliz, de sair
de suas acomodações e vícios, entretanto, espera-se que em sua sede de
humanidade há de encontrar uma saída de renovação, entendimento, bondade, sabedoria,
mais igualdade e fraternidade entre todos sem exclusões. É o que apreendo da Mãe Natureza que nos ama e nos abraça.
Flores Lilás para suavizar o coração sensível, bico de pena e aquarela, 2018.~
postagem - martha pires ferreira.
postagem - martha pires ferreira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário