Gravura séc XVIII /
José de Orga.
Interferência – bico de pena e aquarela /2015
Santa Teresa
de Jesus, carmelita mística, escritora e poeta (28/03/1515 - Marignam, Espanha - 15/10/1582 - Alba de Tormes).
Vivo sem viver
em mim
Vivo
sem viver em mim
e
de tal maneira espero,
que
morro por que não morro.
Vivo
já fora de mim,
Depois
que morri de amor;
porque
vivo no Senhor,
que
me quis para si.
Quando
o coração o dei
coloquei
nele nossa inscrição:
que
morro por que não morro.
Esta
divina prisão
do
amor com que vivo
fez
a Deus meu cativo,
e
livre meu coração;
e
causa em mim tal paixão
ver
a Deus meu prisioneiro,
que
morro por que não morro.
Ai,
que longa é esta vida!
Que
duros estes desterros!
Esta
prisão, estes ferros
em
que a alma está metida.
Só
esperar a saída
me
causa dor tão terrível,
que
morro por que não morro.
Ai,
que vida tão amarga,
do
não se gozar o Senhor!
Porque
si é doce o amor,
não
o é a esperança larga;
tira-me
Deus esta carga,
mais
pesada que o aço,
que
morro por que não morro.
Só
com a confiança
Vivo
de que hei de morrer.
Porque
morrendo o viver
me
assegura minha esperança;
morte
do viver se alcança,
não
te tardes que te espero,
que
morro por que não morro.
Olha
que o amor é forte:
vida,
não me seja penosa,
veja
que só te resta,
para
ganher-te, perder-te;
venha
já a doce morte,
o
morrer venha ligeiro,
que
morro por que não morro.
Aquela
vida do alto,
que
é a vida verdadeira,
até
que esta vida morra,
não
se goza estando viva;
morte,
não me seja esquiva;
viva
morrendo primeiro,
que
morro por que não morro.
Vida,
que posso eu dar-te
a
meu Deus, que vive em mim,
Si
não é o perdendo a ti
pra
merecer ganhar-te?
Quero
morrendo alcança-te,
pois
tanto ao meu Amado quero,
que
morro por que não morro.
Interferências e tradução do espanhol - martha pires ferreira
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Nenhum comentário:
Postar um comentário