quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Santa Teresa de Jesus - comemorações IV




















Gravura séc XVIII / José de Orga. 
Interferência – bico de pena e aquarela /2015
Santa Teresa de Jesus, carmelita mística, escritora e poeta (28/03/1515 - Marignam, Espanha - 15/10/1582 - Alba de Tormes).

Vivo sem viver em mim 
Vivo sem viver em mim
e de tal maneira espero,
que morro por que não morro.

Vivo já fora de mim,
Depois que morri de amor;
porque vivo no Senhor,
que me quis para si.
Quando o coração o dei
coloquei nele nossa inscrição:
que morro por que não morro.

Esta divina prisão
do amor com que vivo
fez a Deus meu cativo,
e livre meu coração;
e causa em mim tal paixão
ver a Deus meu prisioneiro,
que morro por que não morro.

Ai, que longa é esta vida!
Que duros estes desterros!
Esta prisão, estes ferros
em que a alma está metida.
Só esperar a saída
me causa dor tão terrível,
que morro por que não morro.

Ai, que vida tão amarga,
do não se gozar o Senhor!
Porque si é doce o amor,
não o é a esperança larga;
tira-me Deus esta carga,
mais pesada que o aço,
que morro por que não morro.

Só com a confiança
Vivo de que hei de morrer.
Porque morrendo o viver
me assegura minha esperança;
morte do viver se alcança,
não te tardes que te espero,
que morro por que não morro.

Olha que o amor é forte:
vida, não me seja penosa,
veja que só te resta,
para ganher-te, perder-te;
venha já a doce morte,
o morrer venha ligeiro,
que morro por que não morro.

Aquela vida do alto,
que é a vida verdadeira,
até que esta vida morra,
não se goza estando viva;
morte, não me seja esquiva;
viva morrendo primeiro,
que morro por que não morro.

Vida, que posso eu dar-te
a meu Deus, que vive em mim,
Si não é o perdendo a ti
pra merecer ganhar-te?
Quero morrendo alcança-te,
pois tanto ao meu Amado quero,
que morro por que não morro.
   Interferências e tradução do espanhol - martha pires ferreira
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