E ...William Blake, Alquimia mística, 1794.
Vivemos um tempo histórico medíocre pelo
distanciamento do sagrado, e, no entanto temos sede do divino, do
incognoscível, do absoluto insondável.
A concepção pitagórica e
cristã até alta Idade Média era a beleza da compreensão de Deus como o supremo arquiteto da
ordem do Universo perfeito e geométrico, visando amor ao próximo como a medida
de todas as coisas criadas.
Hildegard von Bingen, Alquimia Mística, séc XII.
Com o avanço das ciências, em especial as exatas, a visão e compreensão do cosmo ficaram menores, em estreitos escaninhos. Só o que
se podia medir e pesar eram confiáveis, serem reconhecidas, por comprovação
formal, ao que se denominou de ciências exatas, como se o saber contínuo, ciens (o que move), nunca existiu. Engarrafaram a sabedoria, destinada apenas a
ser uma lâmpada, acadêmica.
Do século XVII em diante reduziram nossa concepção
de mundo dentro de uma caixinha de valores lógicos e formais, Subjugou nossa
inteligência a estreitos conceitos, nos aprisionando em academicismos de
laboratório farmaideológicos capazes de demonstrações pontuais em hipotéticas verdades.
A arrogância intelectual tomou conta do mundo, em especial no ocidente. Do
outro lado nada sei mais que a sensibilidade poética e espiritual.
Harmonia Macrocósmica - Andreas Cellarius, 1660
Muitos homens e mulheres
escolheram estar fora destes modelos de vida traçado pelo Ocidente.
Deliberadamente vivem à margem por vontade própria e seguindo outros meios,
horizontes novos de postura, saberes e conhecimento. São os alquimistas da contemporaneidade,
espalhados em recantos onde não são facilmente encontrados. Herméticos, vivem em
silêncio e solidão espiritual, caminhando em harmonia cósmica, felizes e
alegres a jornada humana de cada dia, sem exclusões, numa surpresa a cada
passo. Com afeto, amorosidade e alteridade preferem, em particular, os seres esquecidos,
marginalizados, espoliados, massacrados por esta mesma sociedade das ciências estratificadas
e dos podres poderes. São eremitas do asfalto urbano ou obreiros vivendo no
campo junto à verdejante selva pouco explorada. São seres humanos como qualquer
um, sendo com todos, conscientes da divina geometria, sem início e fim.
Marginais líberos vivem à
margem do status quo dominante, nada
tendo a mostrar, medir ou provar. Não são apóstolos do saber nem do achado, são
apenas testemunhas de seu tempo, vivendo escondidos e altivos em secreta
comunhão espiritual com a Terra Mãe e o Cosmo num processo alquímico interno. ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
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