Teologia Afetuosa da Libertação _ artigo escrito em 7 de março de 2013, antes da eleição do Papa Francisco, o qual em quase tudo me alinhei a sua visão de mundo e espiritualidade. // Agora, outro momento, igualmente decisivo de transição para outros níveis de consciência e espiritualidade, que desejo, elevado, seguindo, essencialmente, o exemplo de vida de Jesus de Nazaré, razão da cristandade.
Teologia da Libertação, sim. Teologia Afetuosa da Libertação.
Teologia amorosa, fraterna, solidária, por opção preferencial pelos mais carentes, marginalizados, esquecidos, pobres, sem ou com poucos recursos necessários para viverem com autonomia e autodeterminação, vida digna e justa, igualitária e humana. Teologia do Amor que liberta e promove o ser humano em sua essência. Teologia que não visa promessas longínquas de recompensa e felicidade a serem vividas somente na eternidade, pos mortem, mas a Teologia viva, não dicotomizada, vivida com dignidade, com espiritualidade, no reino de Deus a partir da reflexão e interioridade, no aqui e agora; no chão da Mãe terra, acolhedora, democrática, sem excludências. Teologia, sede do sagrado, ciência vivida por todos, não por uma classe rançosa, pretensiosamente “teolocrática”. Teologia Afetuosa da Libertação com o Arquiteto Celeste, na inspiração, respiração e transpiração; no centro do Cosmo; no coração da existência; fonte primordial que não está em parte alguma e está em todas as partes.
A Igreja, o Templo, a Capela, a Casa
de Orações, a Sala de Meditação, é um espaço geográfico que foi estipulado para
recolhimento e orações. Não foi criação de Jesus Cristo ou Buda, mas dos seres
humanos com objetivo de encontros comunitários, fraternos, com a finalidade de
proporcionar interioridade em conexão com o sagrado, o Divino. Locais de diálogos
profundos entre o eu e o sagrado, tendo as mensagens de Jesus Cristo, no caso
do cristianismo, como horizonte ou finalidade de se estar aqui no mundo
relativo e em contato íntimo com Deus absoluto – a experiência do reino de Deus
em nós.
A Igreja católica tem como meta, por
meio das mensagens do Evangelho, proporcionar ensinamentos deixados por Jesus
Cristo; a compreensão das manifestações humanas e divinas na criação, e, a
tomada de consciência de que a ressurreição vence a morte. Adquirir o saber que
o outro, também, está em mim e eu nele. O outro é tudo que não sou na minha
individualidade relativa, mas que está em mim por entendimento da totalidade, da
essência indivisível. Teologia que nos liberta, que nos conscientiza da fonte
primordial, do incognoscível. Que seguir a mensagem de Jesus é ouvir e se
pronunciar com liberdade igualitária diante dos bens da Natureza, sem posturas
privilegiadas, mas de alteridade. Quem é a Igreja? É a comunidade, o povo que a
compõe. Ouvir a voz da comunidade, do povo, é ouvir a voz de Deus. Deus fala
através do povo.
A Igreja católica, hierárquica,
monarquista e fechada na cúpula, perdeu seu rumo, sua postura, sua dignidade,
seu lugar. Distante dos anseios da cristandade, do conjunto de indivíduos que a
compõe, está isolada; não terá saída.
Sem a presença do feminino em seu
corpo decisório, liturgias e homilias, a Igreja católica fracassará plenamente
porque não condiz com o mundo moderno onde a mulher se posiciona em plena
consciência de seus valores humanos como pessoa e cidadã responsável. Não mais
segue padrões obsoletos, arcaicos e unilaterais excludentes. A mulher
conquistou seu lugar na sociedade civil que não mais lhe será tirado. Ela
alcançou sua autonomia política, social e espiritual. A Igreja dos homens ficou
isolada com os homens. A mulher que superou a si mesma, em sua interioridade,
por estar à margem das decisões clericais, é livre espiritualmente, está além
das normas e princípios eclesiásticos. Silenciosa permanece em seu quarto,
fecha a porta, e conversa com o Criador que tudo apreende neste sábio estar
sendo. O espaço sagrado não é um espaço geográfico determinado, demarcado, por
imposições litúrgicas machistas e de uma única demanda. O sagrado contém o
masculino e o feminino por complementação, por integração dos opostos; dia e
noite, bem e mal, luz e sombra, ativo e receptivo, o rígido e o flexível.
A Igreja, inflexível, onde os homens
se ilharam, agoniza. Não ouvem os clamores de seu povo. Na escuridão, surdos e
cegos, gritarão pela presença do afeto e flexibilidade feminina; na cultura
chinesa, Yang e Ying.
O cristão que encontrou o caminho
seque o Cristo com liberdade criadora; Ama o próximo como a si mesmo. Palavras
do poeta hermético, eremita escondido em sua caverna: “O Grande Homem, mantém o
seu modo de pensar independente da opinião pública. (...) Respeita somente a verdade.
Tem mente de homem e coração de Criança. Conhece a si mesmo, tal qual é, e
conhece a Deus”.
Igreja
não é papolatria, não é hierarquia centralizadora, nem cúria romana com seus
aparatos monarquistas medievais, absolutistas, há muito ultrapassado diante da
realidade contemporânea. Igreja é prioritariamente lugar de recolhimento, de
orações e espiritualidade. Jesus Cristo, o mensageiro, o Ícone, o Deus
encarnado, é a ponte entre o ser e o não ser, entre a matéria densa palpável e o
universo das ideias, o logos; é a promessa escatológica da plenitude e
felicidade eterna, a partir do aqui mesmo terrestre. Jesus, o Messias, arquétipo
do inconsciente coletivo, é a integração possível dos opostos inconciliáveis; o
sagrado e o profano; a completude misteriosa da existência em sua infinitude.
O outro é Cristo e está em mim, logo
estou no outro, por semelhança. Não há dicotomia, separações, só existe
unidade; unus mundus.
______________ - martha pires ferreira, eremita urbana, pés descalços.
Dia 7 de março de 2013. Reflexões >>>> Teologia Afetiva da Libertação contrapondo artigos de sites católicos denegrindo a Teologia da Libertação e os teólogos que a compõe. E acompanhando à distância o isolamento dos bispos em Roma.... (...) ///
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