Liberdade de escrever _ As confissões
martha pires ferreira
martha pires ferreira
Existe o menos que nos habita,
estreito a apreender o imenso
que tudo transcende e o contínuo
se faz presente, intensa realidade viva.
Somos assim, menores, sedentos
do mais amplo possível, inalcançável!
Este sentir é suave como as flores.
O vento de encontro à luz do Sol
toca meus pés nus (ossos agradecem).
Chão, concreto, folhas pousam adormecidas.
Jovem passa, pede dinheiro, a jovem pergunta
onde a Rua Hermenegildo, outro homem
apressado segue quieto de cabeça baixa
_ mantenho olhar vago e reflexão atenta!
Os pés nus ao Sol da manhã outonal,
energia que acolhe e envolve gratuita, nada
desejando, nada a esperar voltada a reler
As confissões _ de Agostinho de Hipona,
relatos vividos, séc. IV/V. Potente leitura.
Libertário escreveu corajosa memória
vencendo a dor, a perda da mulher amada
que partiu para a África, deixando aos seus
cuidados o filho natural que dela tivera.
Inquieto venceu a fúria da concupiscência
“de coração suspirava pela imortalidade
da sabedoria”.
Mergulhando na sede insaciável de absoluto
se permitiu à entrega ao Deus Desconhecido.
Na mureta, lagarto olha se banhando ao calor,
descanso meus pés nus à luminosidade solar
pensamentos vão e vem na impermanência
_ almejo a vida leve e plenitude feita de flores!
NOTA _ Movida pela eleição do Papa Leão XIV OSA, por gostar muito de Erasmo de Roterdã e ter lido vida de Lutero, também, foi da ordem de Santo Agostinho / renascentistas muito importantes, e, ter lido As Confissões de Agostinho em 1968, que apanhei o livro na estante e estou relendo _ obra instigante. Fui caminhar e descansando escrevi esta prosa poética. ~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
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