sábado, 2 de maio de 2020

Reflexões profundas em tempo de quarentena


Liberdade de escrever – reflexões profundas em tempo de quarentena                                         
                                        Martha Pires Ferreira    
Todo ser humano foi chamado, criado, para ser humano, viver no aqui e agora; viver na Mãe Terra em que habitamos. Sermos humanos, nossa função maior, fundamental.
O cristão não possui o monopólio dos valores essenciais da Vida pelo critério decisivo de ser um cristão. Milhares de pessoas não seguem Jesus de Nazaré, e mesmo desconhecem sua pessoa história, real. Jesus não é uma abstração, e sim uma pessoa concreta, exemplo e modelo de vida a ser vivida da forma a mais ampla possível. E poucos noutras vertentes interagem, profundamente, como os princípios deixados por Buda Gautama, o Tao de Lao Tsé ou as condutas de Confúcio, as leis de Moisés, Maomé, as emanações rituais Afro e suas vertentes, a religiosidade nativa dos Índios latino americanos e povos da floresta, ou ainda, os seguimentos religiosos do hinduísmo nas raízes remotas do Vedanta. Verdadeiras bases normativas humanas, independentes de ensinamentos espirituais, místicos.
Todos e todas as pessoas com certo nível de consciência e inteligência, devem dar exemplo de vida e atuarem frente a esta sociedade egoísta que nos cerca; dominadora, excludente e manipuladora a seu bel prazer. Devemos  trabalhar no sentido de despertar valores para elevar esta mesma sociedade, para comportamentos mais depurados; o ter mais consideração para com o seus pares, seus semelhantes, mais diálogo e comunicação, amabilidade, compromisso com os fazeres, o compartilhar e dividir um pouco o que possui de supérfluo, o saber arrepender-se sem falso orgulho e saber perdoar, exercitar o despojamento mesmo intelectual pela via da simplicidade. O real respeito pela vida como um Todo - todas as espécies e riquezas da natureza, seja mineral, vegetal, animal. E mesmo saber renunciar privilégios quando necessário. Sermos mais solidários, mais libertários em nossa vida individual e mais integrados na diversidade social, coletiva.  
Acabo de ler a obra de Hans Küng, físico e teólogo católico, O Princípio de Todas as Coisas, ed. Vozes, 2007, RJ – um diálogo de possível aproximação entre ciência e religião. Daí estas minhas reflexões, neste tempo de quarentena (vírus, Covid-19 que aprisionou cada um em sua casa). Fiquei um tanto tomada por Küng, lendo este livro desafiante e intenso por suas ideias, seu pensamento, lucidez e conclusões diante do mundo contemporâneo em que vivemos. Quase no final Hans Küng afirma, pág.. 267: “Na sociedade mundial, o destino da Terra importa a todos, qualquer que seja a religião, a filosofia ou a visão do mundo que eles adotem. As normas do ethos mundial podem ser a orientação básica para esta responsabilidade pelo mundo, o que de nenhum modo exclui o orientar-se de maneira particular pela própria religião ou filosofia. Pelo contrário, cada uma pode contribuir à sua maneira para o único ethos mundial”.
A meu ver o Princípio de Todas as Coisas nos é oculto, nada sabemos em essência, assim como o fim, nada sabemos concretamente, puramente, com nossa razão lógica que tudo quer saber e ver medido na balança da realidade palpável, entretanto o que Jesus de Nazaré nos legou com sua vida, sentido absoluto da Vida e Ressurreição, nos deixa seguros, mesmo em vagas apreensões por maior que seja a nossa Fé. E é neste viés, insondável mistério que é a Vida, que apreendemos o Todo Desconhecido pela sensibilidade intuitiva por extensão absoluta.
Algo acontece, imensa paz nos envolve, a certeza do Tudo no Nada Primordial habitando em cada um de nós. Se aqui estamos, neste planeta Terra, é aqui, precisamente, que devemos agir, vivermos o melhor possível como seres humanos em comunhão solidária e fraterna por uma sociedade mais criativa, justa, alegre e feliz. 

 Em quarentena, maio 2020.
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