sexta-feira, 8 de maio de 2020

Alquimia - processo interior que nos completa - tempo de Quarentena


Retomando minhas reflexões sobre a Alquimia neste momento de silêncio, isolamento voluntário e necessário. Abril e Maio de 2020, em comunhão com o mundo em transição pontual; em razão do Coronavírus-19, este “algo” micromolecular, silencioso, que surgiu não se sabe de onde; que tomou conta do planeta Terra, sem pedir licença; de leste a oeste, de norte a sul. Inimigo invisível que não conseguem destruir, com qualquer arma branca, de fogo ou substância química, nem mesmo com um simples alfinete.
Interessei-me pela Alquimia quando em 1974, Dra. Nise da Silveira pediu que me juntasse ao Dr. Nelson Bandeira de Mello para aprofundar o que vínhamos lendo em Psicologia e Alquimia de C. G. Jung; para uma apresentação no MAM – Centenário de Jung - 1975. Saber muito difícil. Desafio que aceitei por atração curiosa, e, que, nunca mais larguei de todo; sempre me acompanha o interesse sobre a riqueza simbólica e metafórica deste conhecimento milenar. Li diversos autores e por variadas fontes. Hoje, tenho uma razoável biblioteca sobre este fascinante assunto. O livro que mais me impressionou foi o de Marie-Louise von Franz; Alquimia - Introdução ao Simbolismo e à Psicologia, Cultrix.
Neste momento, leio um seguidor de Jung, Edward F. Edinger: O Mistério da Coniunctio - Imagem alquímica da individuação, Paulus, 2008 – (The  Mystery of the Coniuntio, 1994, Inner City Books, Canada). Conferências esclarecedoras; didáticas.
A Alquimia nada mais é que um caminho de compreensão de nosso processo de individuação, nossa caminhada individual – Opus Alquímico - o Ouro/Sol e a Prata/Lua, potências nossas internas, simbolicamente. Atravessamos a Vida sozinhos com nossa própria natureza tão complexa; relações com nossos opostos internos, em atração e aversão; percepções que emergem do inconsciente, energias masculinas e femininas – Yang – Ing; o claro e o escuro; em seguida nossa relação emocional, sensorial e física com o outro que desejamos que nos complete, o outro que amamos na intimidade; outros mais que simpatizamos ou excluímos por alguma razão, e, os tantos muitos outros mais do mundo coletivo, que fazem parte do nosso conviver social, do mundo que habitamos. Enfrentamos forças opostas e atrações por confrontos constantes nestas etapas; sejam nas emoções por hostilidade ou por amor. A Vida psíquica depende destas relações profundas do pessoal para com o outro em particular e a nível do coletivo; valores do bem e do mal; luzes e trevas; agradável e desagradável existentes em cada um de nós; que se manifestam e que fazem parte de um Todo Absoluto; objetivo e subjetivo; céu e terra; divino e profano.
Nossa vida aperfeiçoada depende de como lidamos com o que rejeitamos por exclusões naturais, instintivas e/ou do que atraímos por valores essenciais à nossa natureza, e que, possam nos completar, nos enriquecer como seres humanos; luta constante inconsciente ou conscientemente.
Percepções pessoais, únicas, que emergem das raízes da psique inconsciente, nos impulsionam, nos revelam, desvelam e nos integram, por meio da consciência, a sermos seres mais completos, mais plenos, mais bem resolvidos.
Viver em harmonia é eterno desafio nesta complementação de opostos; saber lidar com o que nos incomoda; nossas sombras pessoais e as sombras da sociedade; saber lidar com o que nos trava sem que nos impeça vivermos plenos e criativos no que nos dê prazer, alegria e amorosidade constantes. Viver é o desafio na beleza do mistério cotidiano.~
Lendo um pouco de Alquimia compreendemos, de alguma forma, o que estamos vivendo no mundo inteiro, confinados por um Vírus, que nos aprisiona no Útero da Mãe Terra.
        Martha Pires Ferreira, maio de 2020.
PS _ Aprofundando o texto - Alquimia - tempo de  Quarentena. 
Toda e qualquer projeção externa; para com pessoas ou valores mesmo sociais, mais cedo ou mais tarde será constatada como ilusão, frustração ou decepção ao não se conseguir o que se esperava querer. Importante manter a chama interna acesa em plena atenção, para se alcançar, na transição, outros níveis de consciência mais depurados, mais elevados. Redescobrir-se, sempre, nas conquistas, internamente; acompanhando o fio condutor da vida pessoal – o significado maior da vida. Reintegrar novas percepções essenciais, profundas, que habitam na interioridade; sentimento, intuição, que fazem parte de nossa natureza. 
Nada está perdido em razão das frustrações; uma sensação de morte. Um imenso silêncio e dor; experiência de trevas que toma a pessoa por inteira, mas que, entretanto, se confrontada com cuidados, certamente, a conduzirá a uma nova manhã, a um novo nível de consciência, luminoso, solar. Aceita-se as derrotas quando nada mais pode ser feito; com altivez seguir em frente no processo de individuação; caminhada de encontros e desencontros e novos encontros no pessoal, intransferível. 

A complementação de opostos é exercício para a vida inteira _ Unus Mundus.

Sol e Lua - União dos opostos - Totalidade.
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