Cristo diante de Caifás - A. Dürer, 1512
Para ninguém esquecer a resposta de Lula a seu inquisidor:
"Meritíssimo, Vossa Excelência acha que eu, em troca do que fiz
para todos os brasileiros, dos mais miseráveis aos mais ricos, sem nenhuma luta
de classes, sem nenhuma revolução sangrenta, a ponto de entregar meu governo
com aprovação de 80%, e com esse reconhecimento nacional e mundial todo, iria
me comprometer recebendo como recompensa um tríplex que mal vale R$ 2 milhões e
um sítio de terceira categoria? Se eu quisesse recompensa pelo simples
cumprimento de minhas obrigações como presidente da República, e se eu sou o
maior corrupto deste país, como a mídia poderosa anda espalhando por aí, eu
seria o dono e usufrutuário, com tudo passado em cartório, com tudo faturado e
pago, de um conjunto de bens à altura dessa fama toda. Eu seria o dono da
cobertura de Sérgio Cabral, na praia do Leblon, do apartamento de Fernando
Henrique na Avenue Foch, em Paris, da mansão do dono do Banco Safra, que valem,
respectivamente, 20, 20 e 200 vezes o tal tríplex de Guarujá. Em vez do sítio
em Atibaia, eu teria a suntuosa fazenda de Fernando Henrique em Minas Gerais,
ou um aeroporto privado construído com o dinheiro público, como Aécio Neves. Eu
teria ligações com o tráfico de drogas e armas, com o PCC. Eu teria a mansão de
1.100m2 dos donos da Globo em terreno de 29 hectares da Marinha em área de
proteção ambiental, com praia privativa, em Paraty. Eu teria ainda haras,
helicóptero, jatinho, iate, tudo de alto luxo, uma grande coleção de obras de
arte de alta cotação no mercado. Eu seria o dono do maior museu particular de
arte sacra do Brasil na cobertura do finado Antônio Carlos Magalhães. Eu teria
ainda o império de José Sarney no Maranhão. Eu seria tão rico quanto Jorge
Bornhausen, Sílvio Santos, Paulo Maluf. Eu teria uma fazenda com 500.000
cabeças de gado, como o banqueiro Daniel Dantas. Eu teria a casa da Dinda e uma
frota de carros os mais luxuosos e sofisticados, como Fernando Collor. Eu teria
um bom punhado de ações do Banco Itaú, do Bradesco, do Safra, do Santander e de
várias empresas que não pagam impostos e sonegam à Previdência Social. Eu teria
muitos milhões de reais aplicados em ouro, renda fixa e depósitos em paraísos
fiscais. Eu seria o dono de um império midiático para receber polpudas verbas
de propaganda do governo. O que é que eu tenho, Excelência? Onde é que eu moro,
Dr. Moro? Será que não posso continuar tomando minha cachacinha, comendo minha
mortadela, meu churrasco? Será que não vou poder mais sair pelas ruas e cair
nos braços do povo, esse povo que tanto deseja que eu volte ao Planalto? Será
que eu vou ser condenado e preso sem prova?" E virando-se para Deltônico
Dallafinhol: "isso é justo, Sr. Procurador?"
Claro que o dândi não respondeu nada.
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