Flor exótica, bico de pena e aquarela, 16 x 28 cm, 2017
Flores! Por que flores? Desde criança prazer
em desenhar flores. Há intervalos curtos ou longos na pretensão de fazer arte. Avanço
em múltiplas direções. Estanco no vazio que tudo contem. Aguardo no deserto.
Observando amigas e amigos se
expressando em relação aos meus desenhos, em particular os de flores, me reanimei.
Internamente deixei que as mãos
engendrassem conteúdos do inconsciente em forma de flores, mais uma vez. Elas
voltam a aparecer exóticas, um tanto bizarras, e até me espantam enquanto os
traços se fazem reais. Receios em mim. Paro um pouco temerosa, recuo e retorno.
Os pontos e linhas, em caneta de nanquim, bico de pena, me tomam e falam coisas em silêncio. As
linhas falam por expressão própria, em linguagem secreta que só a inteligência
da sensibilidade apreende intuitiva, em gráficas sutilezas. Excluem
racionalidade, conceitos. É direta e crua, sem reservas. As linhas falam
enquanto as escuto atenta, muda e submissa. Não consigo dar cor por algum
tempo. Dar cor ao desenho estragaria a imagem primeva? Receios abissais. Medo
sutil se faz, é quando me recuo servil. Ousaria pegar nos pinceis e nas
aquarelas, água e micro tensões musculares arriscando no universo das cores? Não
é colorir, não, é simplesmente dar cor, outra instância à revelação imagística.
Processo que desaba sobre fibras nervosas
centrais, fibras musculares imperceptíveis. Às vezes dor, lágrima, beleza,
vislumbre, receios, ignorância. O traço é que fala bem mais alto, a cor é
secundária, enquanto as mãos engendram. As linhas puras marcam o fator da liberdade
criativa. Elas me desafiam; pontuam incontestes minhas inúmeras limitações.
Celebração, interioridade, experiência sem mistura. Límpida. Exercício árduo do
polimento da pedra bruta que sou, apenas, saber sendo impermanente e sedenta de
eternidade como a Flor da esperança! Ato criador é entrega lúcida de amor à
vida. Além disso, nada sei.
martha pires ferreira -
inverno, 3 de setembro de 2017.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Nenhum comentário:
Postar um comentário