domingo, 3 de setembro de 2017

Flores _ processo criativo

  


Flor exótica, bico de pena e aquarela, 16 x 28 cm, 2017 
          Flores! Por que flores? Desde criança prazer em desenhar flores. Há intervalos curtos ou longos na pretensão de fazer arte. Avanço em múltiplas direções. Estanco no vazio que tudo contem. Aguardo no deserto.
         Observando amigas e amigos se expressando em relação aos meus desenhos, em particular os de flores, me reanimei.
        Internamente deixei que as mãos engendrassem conteúdos do inconsciente em forma de flores, mais uma vez. Elas voltam a aparecer exóticas, um tanto bizarras, e até me espantam enquanto os traços se fazem reais. Receios em mim. Paro um pouco temerosa, recuo e retorno. Os pontos e linhas, em caneta de nanquim, bico de pena, me tomam e falam coisas em silêncio. As linhas falam por expressão própria, em linguagem secreta que só a inteligência da sensibilidade apreende intuitiva, em gráficas sutilezas. Excluem racionalidade, conceitos. É direta e crua, sem reservas. As linhas falam enquanto as escuto atenta, muda e submissa. Não consigo dar cor por algum tempo. Dar cor ao desenho estragaria a imagem primeva? Receios abissais. Medo sutil se faz, é quando me recuo servil. Ousaria pegar nos pinceis e nas aquarelas, água e micro tensões musculares arriscando no universo das cores? Não é colorir, não, é simplesmente dar cor, outra instância à revelação imagística.
    Processo que desaba sobre fibras nervosas centrais, fibras musculares imperceptíveis. Às vezes dor, lágrima, beleza, vislumbre, receios, ignorância. O traço é que fala bem mais alto, a cor é secundária, enquanto as mãos engendram.  As linhas puras marcam o fator da liberdade criativa. Elas me desafiam; pontuam incontestes minhas inúmeras limitações. Celebração, interioridade, experiência sem mistura. Límpida. Exercício árduo do polimento da pedra bruta que sou, apenas, saber sendo impermanente e sedenta de eternidade como a Flor da esperança! Ato criador é entrega lúcida de amor à vida. Além disso, nada sei. 
      martha pires ferreira - inverno, 3 de setembro de 2017. 
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