A Vida se faz caminhando, para frente, horizontes largos. Não
podemos retroceder.
Estamos travados na História, hoje, 12 de julho de 2016. Altiva
e perplexa me mantenho. O Brasil não pode recuar diante das árduas conquistas destes
últimos anos. Não vamos ficar na escuridão.
Escrevi na primavera de 2015: estamos
vivendo a flor da imbecilidade sem horizontes, do egoísmo dos tacanhos. Importante
reativarmos a memória, e não cairmos em retrocessos depois de tantas conquistas
democráticas. Perplexa diante de nossa pseudo política (de fundo de quintal), da
ausência de ética, de brio e de dignidade, de valores que visem o bem comum,
vontade mesmo é viver o recolhimento monacal, mas algo me impulsiona a ação.
Sair do silêncio, repassar pelo passado maldito e indagar “o que fizemos nós
para chegarmos à tamanha mediocridade?” Rio de Janeiro.
Tribuna da Imprensa
Brasil Livre - cartaz - 16/09/1966. Estou na 1ª página / Passeata contra o Golpe. Av. Rio Branco, Rio de Janeiro, RJ.
Memória – 1964
Anos sessenta e setenta
foram anos da paralisação; atraso em todos os níveis do saber. Ditadura
perversa que cristalizou a desigualdade social. Anos das torturas e mortes na
calada da noite. Estado de injustiça social, ditadura cruel, ausente de direito
cívico e humano. Anos de perversidade gratuita e planejada. Anos de estupidez
pela ausência de dignidade. Passado que não se esquece pelos abusos e poderes
sem limites; nação joguete na mão de estrangeiros manipuladores. Amigos que desapareceram,
outros que foram torturados, castrados e exilados.
Golpe perverso em abril
de 1964 não se esquece. Impossível passar em silêncio diante desses 50 anos do
que foi o Golpe de 1964.
Divórcio insuportável
entre o corpo civil e o corpo militar foi vivido com amargura e dor.
Implantou-se o comando unilateral militar da força por ignorância e medo do
Comunismo, visto como um fantasma. Controle das riquezas nacionais.
Ser humano, generoso,
bom e ter atitudes de alteridade era ser inimiga/o do Estado/governo, neste
caso o caminho era a cadeia, a tortura e a morte por consequência. As bocas
amordaçadas.
Ausência do direito à
liberdade de pensamento, educação de qualidade e cultura geral. Proibido
pensar. Proibido falar. Industrialização, toda ela centrada para a classe mais
bem favorecida, alta elite. Os tributos recaindo para os mais pobres, sempre
pagando mais e mais. Nenhuma reforma de base. Ferrovias e transportes por água,
nem pensar. Rodovias a serviço do latifúndio e indústria. Nenhum apoio à
agricultura, saúde ou saneamento básico. Direito trabalhista só para os
patrões, empregado sempre seguindo de cabeça baixa. Defender empregados tinha o
cunho de fumaça das esquerdas comunista. O mínimo seria a advertência e/ou qualquer
deslize na certa a prisão com torturas e barbáries.
As mídias têm marcado
pontualmente, em vasta programação, presença, registros e testemunhos vividos
naqueles vinte e um anos de escuridão medonha, de atraso e retrocesso inconcebíveis
para nação, Brasil.
O povo brasileiro pede
desculpas, envergonhado?
A Igreja Católica
dividida. Clérigos e leigos atuavam em duas vertentes; uma conivente com o sistema
reinante denunciava e entregava ativistas impiedosamente e a outra dava as mãos
e o corpo se arriscando corajosamente por afeto e dignidade humana, sem
doutrinar; apenas por convicção cristã e solidariedade para com todos os que lutavam pela democracia, liberdade e justiça social.
Por muitos anos fui da
JEC e JUC - juventude estudantil e universitária católica. Movimento de esquerda
progressista, consciente e atuante. Acompanhava tudo sem nunca participar de
grupos mais radicais extremos.
Recém-formada em Direito,
Universidade do Estado da Guanabara, hoje, UERJ, 1965, sedenta de trabalho na
vara de família e trabalhista que horizonte me aguardava? O mundo caiu com o
golpe de 64. Defender operário, trabalhadores assalariados? Servir apenas os
donos do poder? Para me resguardar politicamente e me proteger, com cuidados,
voltei-me pouco a pouco para as Artes Plásticas e estudos de Filosofia Oriental,
quando esbarrei no mundo milenar da Astrologia, que me salvou nos finais do ano
sessenta e setenta; período o mais abominável da história recente do Brasil.
Estudar Astrologia só
pessoa alienada e fora de qualquer perigo político. Por outras vias fui
estabelecendo cuidados com meus saberes astrológicos. O olhar voltado para os ciclos
planetários no contesto mundial, nos sistemas de governo, nos golpes e governos
democráticos estabelecidos foram me ocupando e me preservaram de certa forma.
Visão abrangente celeste não era objeto de perigo para a cegueira militar e nem
para conservadores tacanhos sem extrato de inteligência e grandeza humana. Na
ausência de finura intelectual, reinava a desconfiança e a alienação instalada
como padrão de comportamento.
Os registros e
depoimentos, em tempo histórico, de abertura democrática e liberdade de
pensamento, em todos os meios de comunicação, estavam caminhando na mais alta importância para o conhecimento
e grandeza do que é ser nossa terra, nosso povo, Brasil. Lugar no Planeta
Terra, nossa casa comum. O Sol nasce para todos, igualmente para todos. Era
verão de 2014, em Santa Teresa.
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