terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Poesia dispensa intelectualidade _ três momentos


 Flor azul, detalhe, nanquim e aquarela, 2021.

A convite de Manuel Bandeira fui com ele tomar um chá no Petit Trianon. Nos conhecemos atravessando a Rua, ofereci ajudá-lo. À mesa permanecemos em silêncio, ele saboreando torradinhas com manteiga. Ele o Poeta, eu apenas amante da poesia.// Rabisquei muito o que vivi, apreendi, com pudor guardei na caixa, nos envelopes. // Ouso mostrar, agora, que a idade perdeu avaliações intelectuais e a simplicidade se fez presente.

          Martha Pires Ferreira.

Vento sopra, descobre
 
Tempo sem espera _ prossegue
vento sopra. O relógio marca                          
                              sem ponteiros
nada a exigir ou querer, observa.
 
Quietude expressa imagem
no céu imaginário, interioridade!
 
Acorda ideia longínqua, perdida,
tecida no verde do gramado
_ vida soprando reta e certeira.
 
Vento contínuo sopra sem espera,  
descobre sutil recanto _ vivências
 na caixa secreta do coração ferido. 
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Medo
 
Não é seu olhar felino
tecendo fios de medo,
nem seu corpo hábil
que sabe dar prazer
sorriso longo,
ideias fortuitas
sem qualquer futuro
_ não é, não é.
 
Outro medo real
invade o emocional
_ perder a presença
viva no ar tecendo
sentimento, acalentando
minha frágil alma.
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Transpiro, respiro
 
Inspiro, expiro, respiro
transpiro _ ciclo se faz,
cada ano revelações _
há dor do mundo em mim
desigualdade, iniquidade tanta!
 
Há sutileza profunda na pele,
há anseios de plenitude
_ lugar da beleza humana
em tudo que se toca, ternura!
Igualdade, equidade, alegria
_ há Vida plena! Transpiro!
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