sexta-feira, 30 de outubro de 2020

Nise da Silveira - lembranças minhas e frases da sábia senhora.

   
  Nise da Silveira _ 1972.

Hoje, estamos lembrando da sábia Nise da Silveira (1905 -1999) quando nos deixou e partiu para outras instâncias!

      Em abril de 2013, aqui mesmo, publiquei este artigo. Muitos somos nós com imensas saudades. 

            A humanista, muito além de simples médica, Nise da Silveira, achava que o doente não devia ser visto como doente, mas como pessoa em sua totalidade. Nise estava légua acima dos jargões da psiquiatria. Seus clientes eram, carinhosamente, cumprimentados pelo nome para dar-lhe dignidade, cidadania: Raphael, Emygdio, Diniz, Otávio, José Bastos, Sacramento, Jair, Léia, Paulo, Francisco, Darcílio, Carlinhos, Adelina e outros frequentadores das atividades criadoras, seja no Museu de Imagens do Inconsciente ou na Casa das Palmeiras, ou onde quer que fosse. Dra. Nise fazia questão de pronunciar o nome de cada um deles com clareza e profundo respeito. Mesmo ao visitar ateliês ou oficinas de terapêutica ocupacional, dirigia-se com postura de respeito à pessoa humana, com particular e delicada atenção. Refinada e acolhedora para com pessoas dilaceradas em sua estrutura psíquica e emocional. Constatava doenças ou graves problemas, mas jamais diagnosticava seus clientes, fria e categoricamente. Não criava estigmas, dava espaço para chances de recuperação. Preferia palavras de um de seus mestres, Antonin Artaud: “estados alterados do ser”.

          Pessoa doce, delicadíssima, requintada e amável, com espírito de humor invejável era, por vezes, de uma irritabilidade surpreendente, capaz de dizer coisas terríveis e assaz duríssimas para com aqueles que por alguma razão insistiam com argumentações que se chocavam com suas ideias. Quem conviveu com Nise assistia perplexa cenas assustadoras à queima roupa. Intolerante com as bobagens ditas aleatoriamente. Costumava se justificar ao dizer: “Este meu temperamento alagoano... com Lampião debaixo da pele”. Suportava serenamente a ignorância das pessoas em suas atitudes francas e espontâneas, pela inocência, mas era implacável com a empáfia dos soberbos e dos “inchados” (como dizia); em desacordo podia ficar muda, estática, transparecendo frieza com desprezo absoluto.

          Não era nada confortável e fácil conviver ao lado da Doutora, como a chamávamos. Era preciso tomar cuidado com o que se dizia. Aqueles que desejavam seguir outras linhas de pensamento e interferindo no seu método com novidades, sem longa experiência e prática, sem o conhecimento profundo de seu trabalho, simplesmente, dizia com aspereza: “A porta é a serventia da casa, não me venham com novidades”.

          Quando jovens psiquiatras, recém-formados, se aproximavam de Nise da Silveira, para estudar ou trabalhar, ela lhes fazia um pedido bem-humorado: “Por favor, lave a cabeça com shampoo de coquinhos. Esfregue bem!... É preciso limpá-la, para que você se livre do que aprendeu na universidade.” Estas e outras incríveis saídas que assistíamos estão transcritas no livro NISE, de Bernardo Horta: “Ah, é? Se não sabe francês, você vai ler em inglês pra mim... Agora. Leia! Chega de tanta incapacidade. Vamos! Como não consegue? Consegue sim!... Leia, não se faça de boba!”. “Ah, minha filha, você ainda está muito crua! Vai ‘ralar coco’ até sangrar os dedos... Vou lhe dar uma sugestão: esfrega palha de aço na cabeça. Bastante palha de aço. Vai estudar!”.

          Respeitadíssima por sua radicalidade humana, por seu rigor científico e rica vida intelectual com espírito transgressor, por sua vivência profunda junto aos doentes estilhaçados em sua vida psíquica e emocional, dando-lhes oportunidade de se revelarem em suas potencialidades criadoras. Entretanto, temida, era intolerante para como os incautos. Chamada de Anjo Duro, por seu querido amigo, Hélio Pellegrino. 

          Frases de Nise que, eventualmente, aqui já publiquei: “Há psiquiatras muito inteligentes, não levam ao pé da letra quando chamei de burrice exemplar da psiquiatria. Jung, por exemplo, não era só um psiquiatra, era um gênio. Foi um homem que levou a psique ao encontro da matéria. Ele reúne matéria e espírito e se aproxima de algo, em psicologia, muito próximo de Einstein. Uma coisa é considerar que matéria e espírito são um só. Outra é a visão cartesiana, que considera a matéria, o bicho, o homem, uma máquina que funciona isoladamente com a razão no alto da cuca comandando”.

          “Sabemos muito pouco da mente, da natureza psíquica, das emoções. Desenhar, pintar, modelar, gravar, depois colocar os nomes, datar os trabalhos e guardá-los em série estas imagens plásticas para pesquisa é ter a possibilidade de um dia, no futuro, se chegar a uma compreensão mais clara e profunda do mundo interno destas pessoas tão enigmáticas, tão misteriosas. A ciência sabe muito pouca a este respeito. E o método para se aproximar de um conhecimento revelador é basicamente o pré-verbal, a pré-palavra. Temos oficinas de encadernação, carpintaria, música e teatro, dança e mímica, botânica, bordado e costura. Atividades expressivas podem apontar os caminhos da vida interna.”

           “A pesquisa e o estudo a partir das vertentes imagísticas estão apenas começando. Somente o ponto do iceberg despertou. A partir do século XXI, os interessados neste assunto devem se dedicar intensamente, pois das imagens surgirão não só revelações sobre o corpo psicológico e físico, como descobertas das potencialidades mentais dos seres humanos. As descobertas futuras sobre o inconsciente revolucionarão a história da raça humana.”

                           Martha Pires Ferreira

Casa França Brasil 1993 

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

 

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Reflexões na Pandemia _ Águas/Netuno _ Luz no horizonte mais distante.




                  Fonte Netuno - Praça em Madri 

             Estamos acompanhando o cortejo do Mundo _ leste - oeste, norte - sul. O Mundo é outro, queiram ou não, a página da História virou, mais rápida do se esperava. Algo no ar já havia tensões, certo peso na raiz dos acontecimentos, em geral,
insatisfações em todos os níveis do saber. Um anseio por mudar os paradigmas, os valores estabelecidos, insustentáveis.

Estamos no século XXI, outro milênio, outro caminhar.

Agora, teremos outras leituras a serem feitas com a atenção voltada para o Todo _ um Mundo que é nosso, de todos. O insustentável se degradou, por abusos de podres poderes. Urge movimentos das raízes, das bases essencialmente humanas a serviço do bem comum _ do coletivo humano para o humano. Lição que a Pandemia acelera. Caminhamos, vamos juntos _ sem esperar de governantes _ confiantes em nossas potências internas; nossa sede de acertar e vencer o monstro da miséria à nossa volta, vencer a pobreza reinante em todos os povos, a frieza da indiferença e do descaso aos valores mais nobres. Estamos juntos. Os “donos do mundo” tendo que se dobrar, se curvar. A noite é densa e escura, mas estamos juntos. A construção, obtenção, dos valores essenciais à vida, ao bem comum, é fruto de força tarefa conjunta, igualitária, solidária, participativa, afetuosa.

A Água nasce da fonte, límpida _ brota em pureza cristalina _ e se derrama, se junta às outras águas, torna-se um doce riacho e segue caudalosa como rio... se estende sinuosa até ao mar... alimenta a Vida.

Sejamos como as Água da Fonte límpida em doação contínua _ solidária, fraterna, sem medo e com alteridade. A luminosidade das águas em seu percurso se estende num horizonte distante, num percorrer contínuo, da fonte ao mar _ tempo e impermanência, temperatura.

Fonte Netuno _ Praça em Munique

Estou pensando no deus mitológico _ o impetuoso desbravador Netuno/Poseidon, senhor das Águas. Neste momento o planeta Netuno, com este mesmo nome, percorre o signo de Peixes 18º, seu domicílio no céu do Zodíaco _ simbolicamente atuando, irrigando, nas profundezas da matéria sensível, nas potências do corpo emocional, no cerne da natureza, nas raízes da terra e leito, borda, dos rios. Netuno nos convida às Artes, à música, à dança, ao maleável, à graciosidade, ao secreto, ao sigiloso. Pode ser aliado de ilusões, enganos, dissimulações, devaneios e abusos dos sentidos, sede exagerada dos prazeres, dissolução. Requer espiritualidade consciente e humanizada _ apreende o dom da graça, misericórdia e compaixão.

O coronavírus-19 invisível, silencioso, imperceptível. Real afinidade com o planeta Netuno e as águas de peixes. Um planeta isoladamente não expressa uma verdade – a leitura se faz por conexões, interações. Netuno se retira das Águas de Peixes em 2025, até lá muitas águas das fontes irão seguir seus percursos e alcançar o mar.

Luz no horizonte virá mais distante, em tempo, nada se solucionará num simples amanhecer do Sol. Caminhamos juntos, juntas. Anseios por uma dimensão fraterna espiritualizada, humanizada, afetuosa em níveis de consciência social mais elevados. 

                       Martha Pires Ferreira 

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

CEU – domínio de elementos TERRA e ÁGUA _ signos receptivos.

A vida externa se manterá estanque/parada. PANDEMIA/ Astrologia _ breve análise. Uma correlação da natureza dos elementos no Zodíaco.

 _ Mapa do Céu  _  26 de outubro de 2020. 

O Sol percorre o signo de Escorpião no Zodíaco, elemento Água junto a Mercúrio (estando Netuno e a Lua em água/Peixes) quatro astros neste elemento// Júpiter, Plutão e Saturno em Terra – Capricórnio. Signo de Virgem está Vênus e em Touro está Urano (cinco astros neste elemento – Terra), o planeta Marte em Aries, Fogo (um astro neste elemento). Não tendo nenhum astro em AR (apenas, o Nodo Norte/Cabeça do dragão em gêmeos/eixo-sagitário). 

A Água é fria e úmida – a Terra é seca e fria – o Fogo é quente e seco – o Ar é úmido e quente

No Zodíaco o domínio do elemento Terra/cinco astros e seguindo da Água/quatro _ receptivos. Um astro no Fogo – ativo, e, não se tem nada em Ar, hoje. Muito a refletir, pensar.

Domínio de elementos passivos _ nove astros _ deduz-se que tudo tende a ficar parado, estanque, pausado em repouso sem interrupção, na espera, sem circulação, isolamento.

Vivemos um Tempo de profunda reflexão sobre os valores da Vida.

Neste momento da Pandemia – coronavírus-19 - os astros se encontram em elemento passivo, apenas um astro, Marte, ativo, em Fogo -Aries. Ausência de elementos ativos, impulsionadores de energia – a Terra quieta, em silêncio.  Não temos elemento Ar, não circula o Ar que não vemos.

          Plutão atuando nas profundezas da matéria -Terra - Capricórnio.

       Como agir sem astros no elementos ativo Fogo ou Ar? Esperar. Esperar os Astros em elementos ativos para o fim deste ano de 2020 e a entrada do próximo ano, janeiro e fevereiro, de 2021, 2022, em diante.

Estamos em Tempo de espera, silêncio, escuta interior, observação interna, esperança pelo amanhecer das energias solares, Vitais.

---- Martha Pires Ferreira

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

domingo, 25 de outubro de 2020

Signo de Escorpião

 

O SOL inicia seu percurso anual no Cinturão Zodiacal, Signo de Escorpião, Rio de Janeiro, às 20h10, dia de 22 de outubro, último. Primavera / hemisfério sul.

Escorpião é o 8º Signo do Zodíaco. (de 22-23/out.- 22/nov.- dependendo da latitude e longitude de nascimento).

Não se pode falar em história do pensamento sem abordar a importância da Astrologia para a compreensão da natureza humana em sua complexidade desde épocas as mais remotas. Os astros sinalizam nossas potencialidades. Compreendendo nossa natureza, em seu todo, podemos melhor administrá-la. Astrologia é própria da linguagem simbólica. Estas características pontuadas são generalidades possíveis, não uma verdade em si; "Os astros inclinam, não determinam".

A riqueza da Mitologia grego-romana sinalizam ciclos terrestres.

Cabeça grega _  Marte / Ares.
Plutão/ Hades _ senhor do mundo subterrâneo - rapto de Perséfone _ Bernini.

Suas regências - os Planetas Marte/Ares (clássico deus das batalhas, impulsividade, sexualidade, desafios e guerras) e Plutão (com sua descoberta,1930, senhor das profundezas da terra, mundo subterrâneo, reino dos mortos – Hades; desafios, transformações, transições e ressurreição – Ave Fênix.

Características agradáveis ou desagradáveis deste signo. Sinopse:

    Transformação. Magnetismo. Desejo. Poder. Posse. Vida e morte. Riquezas pessoais e públicas. Regeneração. Renovação. Tenacidade. Bens comuns. Percepção aguçada, extra-sensorial. Sexualidade intensa, vigorosa. Paixão. Sede de imortalidade. Produtividade. Determinação. Realização. Engenhosidade. Energia. Extremismo emocional. Ira. Obsessão. Energia, Crueldade. Sangue frio. Vingança. Violência. Perversidade. Defesas. Gosto pelas mudanças e desafios. Destruição. Renovação. Hereditariedade. Inteligência aguda. Interioridade. Amor ao mistério. Enigmático. Fixação. Receios. Persistência. Obstinação. Tirania. Combate. Riquezas do solo. Pesquisas. Movimentos de massa. Capacidade de articulação e/ou cooperação em larga escala. Espiritualidade. Impenetrabilidade. Transcendência. Penetração. Maquinação. Intensidade. Força interior. Metamorfose. Ressurreição.

Plutão / Hades _ regente de Escorpião - senhor das riquezas subterrâneas, dos bens e da fartura da natureza em abundância.

---postagem martha pires ferreira

sábado, 24 de outubro de 2020

O ANO DA QUARENTENA _ Frei Betto

       Quarentena é um vocábulo de origem bíblica. O Dilúvio durou 40 dias e 40 noites. Antes de receber as Tábuas da Lei, Moisés jejuou durante 40 dias e 40 noites (Deuteronômio 9,9). Quarenta anos mais tarde, liderou a libertação dos hebreus da escravidão no Egito. A travessia dos hebreus pelo deserto – o êxodo – rumo a Canaã, teria durado 40 anos. O profeta Elias “caminhou 40 dias e 40 noites até o Monte Horeb, a montanha de Deus” (I Reis 19, 8). Jesus iniciou sua missão com um retiro de 40 dias no deserto (Marcos 1,13). Após a ressurreição, permaneceu 40 dias em companhia dos discípulos (Atos dos Apóstolos 1,3). Hoje, no ano litúrgico da Igreja Católica temos o período de Quaresma, os 40 dias que precedem o domingo de Páscoa. E estamos no ano de 2020, cujos algarismos somam 40.

       Entrei em quarentena em março. E nela prossigo, com raras escapadas estritamente necessárias, e tantos cuidados que me fazem parecer um escafandrista. Não que eu sofra de hipocondria. Mas estou no grupo de risco. Aos 76 anos já me incluo na turma (qual eufemismo usar? Melhor idade? Terceira idade?) da eterna idade, já que me aproximo da junção desses dois vocábulos...

       A quarentena não me pesa. Na falta de comorbidade, trago importante experiência preexistente de reclusão – os quatro anos (1969-1973) em que fui encarcerado pela ditadura militar. E, por vocação, sou afeito à solidão e à clausura.

       Prisão e quarentena se assemelham em muitos pontos: isolamento físico, distância de parentes e amigos, proibições e ameaças. No cárcere, de contrair doenças infecciosas, devido às más condições de higiene; e, agora, de pegar Covid-19. A diferença é que na prisão a chave da porta fica do lado de fora; agora, do lado de dentro. Sou carcereiro de mim mesmo. E o segredo para bem suportar uma e outra é não separar a cabeça do corpo, este retido e aquela virtualmente lá fora...

       A quarentena, para quem não precisa sair à rua e se expor em aglomerações (ônibus, metrô etc.) para garantir o pão de cada dia, é bem mais suportável que a cadeia: alimentação saudável, livros, TV, internet, e a liberdade de determinar a própria agenda cotidiana.

       Porém, cuidado! O inimigo é imperceptível e não conhece fronteiras. Pode vir na embalagem de uma mercadoria ou no envelope da correspondência. Ele mede apenas 85 nanômetros. Para se ter ideia do que isso significa, um fio de cabelo tem 100.000 nanômetros de espessura. Para detectar o novo coronavírus, um microscópio eletrônico precisa ampliá-lo ao menos 80 mil vezes.

       Aproveitei a quarentena para fazer o que mais gosto: meditar, ler, praticar exercícios físicos e escrever muito. Produzi meu 69º livro, “Diário de quarentena – 90 dias em fragmentos evocativos”, que a editora Rocco fez chegar ao mercado em meados de outubro.

       Quando cessará a quarentena? É a pergunta que todos fazemos. Ou quando voltaremos ao “novo normal”? Depende.  Para muitos, isolamento é coisa do passado. Flexibilização geral! Sem medo de surfar nas ondas vindouras. Para outros, como eu, quando todos forem vacinados. A mera notícia da descoberta da vacina não será suficiente para decretar o “liberou geral”. Geral terá de ser a profilaxia e a imunização.

       E quando surgirá a tão esperada vacina? Não me incluo entre os mais otimistas. A que levou menos tempo para ser descoberta foi a da caxumba, 4 anos. A da ebola, quase 6 anos. A da tuberculose, 13. A da catapora, 28. E a do HIV está na fila de espera há 40 anos...

       O que me constrange, como ser humano, é ver tanta mobilização global para combater a Covid-19 e quase nenhuma para erradicar a fome, que mata 24 mil pessoas por dia, cerca de 9 milhões por ano. Hoje, ameaça 820 milhões de pessoas e pode ultrapassar 1 bilhão até o fim do ano. Ainda bem que o Nobel da Paz foi concedido este ano ao Programa Mundial de Alimentos da ONU, o que faz soar um alerta.

       Por que será que combater a fome não suscita tanta mobilização quanto o combate à pandemia? A razão denuncia a falta de ética e de solidariedade nos tempos atuais! Ao contrário da Covid, a fome faz distinção de classe. Mata apenas os mais pobres. E pensar que somos mais de 7 bilhões de habitantes deste planeta que produz alimentos suficientes para 12 bilhões de bocas! Portanto, comida não falta. Falta justiça!

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ 

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Olhar para o Oriente com Daisetz T. Suzuki e Thomas Merton

       
Thomas Merton e D. Suzuki em New York conversando sobre o poeta Fernando Pessoa
 M
eu espírito inquieto sempre volta às fontes que me alimentaram ao longo de minha vida. Tenho revisto a beleza do Zen _ Daisetz Teitaro Suzuki _ Introdução ao Zen-Budismo, uma revolução radical em minha vida como um todo _ civilização brasileira, RJ, em 1966/67.

Em 1972 fui tomada pela obra de Thomas Merton - Zen e as Aves de Rapina, mais uma caminhada ao Oriente. Mergulhei no mundo Oriental, ao lado de outros autores, por alguns anos.

O que me atraiu no Zen é por não explicar nada, só indicar, observar por si mesmo _ o aqui e agora _ momento presente, sem conjecturas mentais, nem questões emocionais. A simplicidade Zen. O Zen não está preocupado com Deus; não nega, nem afirma Deus. Tudo é experiência humana. O Zen apenas vê, não um sujeito, um objeto, mas um ver pleno, Absoluto.

Algumas reflexões do sábio Suzuki que me apontou a beleza da vida cotidiana como um Mestre:

“A vida é uma afirmação em si mesma, e esta afirmação não deve ser acompanhada por uma negação, pois é relativa. (...) Para ser livre a vida tem que ser uma afirmação absoluta”.

“O Zen se propõe a disciplinar a mente por si mesma, fazê-la seu próprio mestre através de uma visão introspectiva na sua própria natureza”.

“O Zen é o espírito do homem. O Zen crê na sua pureza interna e na sua bondade”.

“O Zen desafia à confecção de conceitos”.

“A experiência pessoal é tudo no Zen. Não há ideias inteligíveis para aqueles que não tem alicerces na experiência”.

“O Zen percebe ou sente, não abstrai nem medita”.

“O Zen não tem nenhuma mente para assassinar. Não há assassino mental no Zen”.

“O Zen é contra todo convencionalismo religioso”.

“A meditação é algo artificial que se utiliza, não pertence à atividade nativa da alma. A respeito de que medita o pássaro no espaço? A respeito de que medita o peixe nas águas? Eles voam, eles nadam”.

        [A meditação é um recurso, disciplina interna _ um vazio; inspiração e expiração] _ [ A meditação não é um fim em si mesma, é um meio de percepção, apreensão, interior vazio de pensamentos]._[ "os seguidores do Zen propõem a prática do Dhyana, conhecida em japonês por zazen _ sentar para meditar" O treinamento sistemático da meditação Zen tem como finalidade a obtenção da introspecção espiritual].

“A vida é a base de todas as coisas, fora dela nada pode permanecer. (...) Aqueles que sonham com as estrelas têm, ainda, os pés na terra sólida”. “O Zen é uma nuvem que passa no céu”. Move-se quando quer”.

“o Zen deseja a mente livre, desobstruída”.

“Joshu declarou: ’O Zen é o vosso pensamento diário’. Depende somente das dobradiças abrirem a porta para dentro ou para fora”.

“O olho vê e o ouvido ouve. É certo. Mas é a mente que, na sua totalidade experimenta o satori (eu diria, pelas vias do coração sensível). É um ato de percepção sem dúvida”.

“O Zen tanta captar a vida no seu ato de viver”.

“Credo quia absurdum est _ Eu creio porque é absurdo, irracional _ Não é esta uma típica afirmação Zen?”.

“Na sua totalidade, o Zen é, por ênfase, uma experiência pessoal”.­­­

__ postagem, Martha Pires Ferreira.

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Santa Teresa d'Ávila - 15 de outubro

       
Velazquez séc XVII 
 Teresa d’Ávila _15 de outubro _ humanista, renovadora, visionária, silenciosa, profunda, ativa, fraterna, solidária, religiosa fundadora de conventos, cristã, escritora, amante do incognoscível Amor que transcende ao entendimento e a lógica.
A beleza da revolução mística de Teresa d’Ávila é o que me comove por afinidade.

“Nada te turbe
nada te espante
tudo passa,
Deus não se muda,
a paciência
tudo alcança;
quem a Deus tem
nada falta
só Deus basta.”

Aos céticos, uma observação: troque a palavra Deus por Vida, não precisa ficar esquivo/a diante de uma palavra que expressa o Desconhecido, o Inominável, a Fonte abissal da Vida _ existência.
Gravura, Santa Teresa escrevendo
___ postagem martha pires ferreira.
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Liberdade de escrever – O Ser Humano e o planeta Terra

           

Gravura renascentista

            O Ser Humano não é o proprietário do Planeta Terra _ o Planeta é um bem comum a todos os seres da Criação.

O ser humano é um animal pelado na Natureza: a sua nudez é uma realidade. Nasceu, de repente, há milhões de anos no planeta Terra; pensa, sente, ama, realiza feitos surpreendentes ao seu bem estar, se indigna, sofre, batalha,  luta, se comunica, tem prazer em criar vestes apropriadas ao ambiente e sabe se enfeitar – é um artista, cientista, músico, poeta. É um criador constante em novas possibilidades ao longo da história. Cultiva a Terra, respira o Ar, se banha nas Águas, se aquece ao Fogo.

Não sabe, ainda, é administrar os bens da criação, as maravilhas do mundo, seus feitos com direitos sociais justos, com fraterna consciência humana. Virtude a ser conquistada por todos os povos, no futuro, com alteridade e inteligência mais evoluída em sua totalidade. Nada impedindo afirmar que cada cidadão/cidadã possa, por direito e dignidade, adquirir sua casa própria, seu habitat.

Estamos, como espécie, em desenvolvimento, não temos a ampla visão do fraterno senso de coletividade, do bem estar comum.  Somos em nosso estado atual, ainda, estreitos e autocentrados em nossos anseios pessoais, exclusivos. Estamos em processo de evolução, do pensamento, do afeto e da intuição, numa caminhada lenta e árdua; a única possível, capaz de nos libertar como seres viventes das grades do individualismo egocêntrico e sermos felizes com alegria na utopia paradisíaca _ aqui e agora _ com toda a humanidade.

 Martha pires Ferreira, tarde de 13 de outubro de 2020

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

sábado, 10 de outubro de 2020

A Astrologia como Arte Analítica

                            Nascimento _ gravura, 1587
      Iniciando esta minha reflexão com a pergunta: o que são os astros?! As respostas podem ser as mais inusitadas dependendo do ponto de vista. Podemos responder que são todos os objetos que estão no Firmamento celeste, em constante movimento ou fixos, com ou sem luz própria, que são energias atuante no céu, no espaço infinito das galáxias, sem conhecermos toda a sua extensão.

O que nos atrai, como estudiosos do saber Astrologia _ na cosmovisão universo e partícula ínfima, Céu e Terra, macrocosmo e microcosmo, o infinitamente imenso e o infinitamente pequenino _ é o que está por trás de tudo isso; a essência mesma da vida, a razão de estarmos aqui neste Planeta, as centelhas das manifestações da Criação.

Mergulhando em profundidade apreendemos que o Firmamento é revelação de Amor, é doação de si. Os astros são recados sutis e concretos do mistério da Criação para a criatura. A Astrologia possui linguagem simbólica, própria. Etimologicamente, astro vem de Astra. Astrologia vem de Logos, razão, princípio mediador entre o mundo celeste sensível e o inteligível.  Astronomia vem de Nomia, o nome dos astros.

A Astrologia é um recurso, um caminho, para decifrar as razões profundas que movem a natureza, a vida no Planeta Terra, as questões primeiras e últimas da vida humana _ o caminho do ser humano em sua singularidade. É a via de que fala o Tao. Age como recurso no processo de individuação, nos possibilitando a oportunidade de nos conhecermos, realmente, quem somos, nosso eu pessoal; como sou, como estou agindo, como poderei estar agindo, com livre determinação?! Sim, o possível conhecimento do si mesmo e da própria natureza _ a vida terrestre.

O Mapa Natal, o Horóscopo, é traçado no momento em que se vem ao mundo, com a primeira inspiração e expiração do ar nos pulmões; tendo em vista o dia, o local e a hora do nascimento. Nada mais é que a radioscopia de nossa natureza; astrobiologia. Pode ser a análise de um momento dado; um fato, um acontecimento histórico, o início de uma nação, sua independência.

O conhecimento do Mapa Natal, Carta Natal, proporciona os meios mais eficazes para a tomada de consciência das nossas potencialidades inatas. Oferece a possibilidade de um verdadeiro progresso interior e exterior, com os inevitáveis confrontos de nossos opostos; claros e escuros, agradáveis e desagradáveis, positivos e negativos. O melhor e o pior que podemos reconhecer existir em nós mesmos; confrontos que nem sempre suportamos. A Astrologia, a análise do Mapa Natal, nos conduz à possibilidade de evolução mental e emocional, assim como os cuidados para se manter boa saúde física, corporal.

A Astrologia nos conduz ao alargamento de nossa consciência por auto determinação, por livre arbítrio. Um convite a sermos tal qual somos; autênticos, verdadeiros. Possibilita-nos a transformação e elevação consciente de nossas limitações, precariedade ou mesmo aspectos embrutecidos. Recursos para depurarmos num ou noutros aspecto de nossa natureza afetiva, para níveis mais evoluídos, para sermos mais humanos, mais completos em todos os sentidos.

O conhecimento profundo da Carta Natal é análogo a uma depuração alquímica; um deixar queimar-se no fogo do Opus Alquímico que tudo consome e transforma. É difícil sermos verdadeiramente humanos, plenos, nossas faculdades limitadas, pouco evoluídas, nos dificultam dar asas ao que somos em essência e sermos melhores – exige de nós essenciais esforços, contínuos. Nossos aspectos sombrios, por vezes, nos impedem ou nos bloqueiam a sermos mais solidários e generosos, no que aparentamos ser. A completude com harmonia surge do depuro cotidiano.

O papel mais nobre do astrólogo, através da interpretação, da leitura da Carta Natal, ao fazer um diagnóstico, é dar consciência individual ao seu consulente. Ajudando-o, ajudando-a, a se ver melhor como pessoa, como ser humano, e mesmo, orientar, se necessário, a viver o melhor de sua natureza com responsabilidade diante de si mesmo e da sociedade me que vive, no ambiente coletivo em que atua.

Ao revelar quem somos, aqui e agora, em nosso cotidiano, a Astrologia, com sua linguagem simbólica, nos define em nossa Cosmicidade, nossa correlação íntima com as forças primordiais que engendram a Criação.  O conhecimento da Carta Natal nos faz compreender nosso papel sutilmente delineado na harmoniosa arquitetura universal, nosso lugar na beleza da Natureza, nosso espaço diante do Cosmo, a nos proporcionar graus de liberdade e arbítrio sem visar cânones em valores hierárquicos _ nos oferece uma perfeita contemplação da Ordem do Universo.

Concluo, esta minha reflexão, com a metáfora dos Reis Magos-Astrólogos do Oriente _ do Oriente onde nasce o Sol da Consciência _ ao nos conhecermos basta seguir a estrela de Belém, a Cristologia Cósmica, o pertencimento à Totalidade. 

Novembro de 1992/artigo – aula / revisão 2020.

Martha Pires Ferreira

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Liberdade de escrever _ Conhecimento humano com sabedoria.

Temos que avançar, a vida exige níveis mais depurados, elevados em valores essenciais de sustentação, de fraternidade, de bens igualitários. O mundo das sensações, dos sentidos, dos consumos exacerbados, das desigualdades sociais alarmantes, das seguranças e deleites governamentais caminhando em direção à falência rápida e galopante.

O mundo não é e nem será mais o mesmo. É noite escura dos sentidos.  O tempo não para, a vida avança e se constrói a cada dia. Urge um horizonte possível, viável: humanitário, solidário. A função do ser humano é uma só - ser humano. O mais são peças ao largo, acessórios dispensáveis em sua essência primordial. A ciência e tecnologia pouco servem se não está a serviço do ser humano enquanto ser vivente. E aqui eu me reporto a um cientista, que em muito me influenciou na juventude, anos 1962, Bertrand Russell (prêmio Nobel 1950), com sua obra Perspectiva Científica, onde transparece o anseio de encontrar um sol de esperança, o fogo de Heráclito da alma. Um breve texto deste pensador e matemático:

“Até agora o homem se viu impedido de concretizar as suas esperanças por ignorar os meios de realizá-las. Mas à medida que sua ignorância vai desaparecendo, ele se torna cada vez capaz de transformar, no sentido que julga melhor, o seu meio-ambiente, o seu meio social e o seu próprio ser”. E completa: “Para que uma civilização científica seja uma boa civilização, é preciso que o aumento de conhecimento humano seja acompanhado por um aumento de sabedoria, termo este que está sendo empregado no sentido de uma concepção justa dos fins da vida. Isto é algo que a ciência não proporciona por si mesma. Consequentemente, em si mesmo, o aumento dos conhecimentos científicos não é suficiente para garantir qualquer progresso genuíno, ainda que seja uma das condições necessárias para esse progresso”. “A Matemática é a única ciência exata em que nunca se sabe do que se está falando, nem se aquilo que se está dizendo é verdadeiro”.

Façamos um esforço para sermos verdadeiramente humanos. Esforço por um quantum de conhecimento mais sensível, com mais sabedoria no dia a dia, no tempo interior, onde o coração tem voz e preciosos silêncios, onde a Vida é alegria conquistada.

postagem - Martha Pires Ferreira
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~