sábado, 17 de novembro de 2018

Flores do Bem - Os dois pássaros - Tagore

          A poesia sempre nos encanta, abrindo horizontes. Hoje, lendo Tagore separei Os dois pássaros, e, juntei aos pássaros azuis de Pablo Picasso. Alegoria ao Amor! Vivência tão bela; por vezes, sofrida e distante, presente e doce! A Vida é Poesia!


Os dois pássaros

O pássaro manso vivia na gaiola.
O pássaro livre, na floresta.
Encontraram-se quando chegou a hora
marcada pelo destino.
O pássaro livre cantou:
 - oh, meu amor, voemos para a floresta!
O pássaro preso sussurrou:
- Vem pra juntos de mim
Vivamos na gaiola!
O pássaro livre diz:
- Entre grades, onde está o espaço para se abrir as asas?
- Ah, diz o pássaro cativo:
Eu não seria capaz de pousar no céu!
O pássaro livre exclama:
- Meu amor, canta as canções da floresta!
O engaiolado responde:
- Senta ao meu lado, ensinarei a linguagem dos sábios.
O pássaro da floresta retrucou:
- Oh, não! As canções não podem ser ensinadas!
Então o pássaro da gaiola gemeu:
- Ai de mim! Não sei cantar as canções da floresta.
O amor de ambos é sem limites,
desejam-se um ao outro,
mas não podiam voar lado a lado.
Olhavam-se através das grades
e em vão o desejo de se unirem.
Agitam as asas e cantam:
- Aproxima-te mais, meu amor!
O pássaro livre grita:
- Não posso, tenho medo das grades, me assusta!
O pássaro engaiolado murmura:
- Ai de mim, minhas asas estão fracas e inertes!

(Rabindranath Tagore, em O Jardineiro)
Picasso, desenho - 1960
postagem - martha pires ferreira
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