Iluminura de Hildegard von Bingem, séc. XII
- o ser humano em sua totalidade cósmica.
As mulheres são meus espelhos, desdobramentos de mim, na identificação
com o universo feminino; delicadeza, afetuosidade, acolhimento, intuição. Sempre
tive e tenho queridas amigas que se fizeram na família; mãe, irmãs, tias, primas,
as da juventude, as mestras, e, outras muitas se estendendo ao longo da vida. Minhas
amigas, minhas queridas irmãs de coração; companheiras nos divertimentos, na
dor e na alegria.
A mulher é o princípio que assume o materno, que acolhe e protege
independente do fato de ter ou não gerado filho/a, é o fio feminino que emerge nas
origens de todas as coisas. A mulher tem por essência a função criadora da
psique; elo entre o mundo objetivo e subjetivo, consciente e inconsciente, o
sombrio/obscuro e o luminoso existente em cada um de nós. Tenho mais afinidade
com as mulheres criativas, realizadoras, produtivas, destemidas. Solidária no
convívio; senso de alteridade.
Jamais admirei mulheres submissas, servis. Não tenho hábito de
julgar, mas fico longe de posturas piegas, sentimentalismos de fundo de quintal,
carências emocionais infantis, conversas banais inconsistentes, e, historietas com
dramas amorosos. Não é ser moralista não entender, por exemplo, triângulos
afetivos velados. Prezo respeito pelo outro ser humano. Ser mulher é viver a
vida sabendo não ferir, saber se reservar, ser perceptiva e medir as
consequências. Ser livre não é sinônimo de ser leviana. Ser mulher é viver a
sensualidade e sexualidade com beleza interior; não é só o corpo a se
expressar, é toda a natureza feminina manifesta com inteligência. As sensações
se evaporam, no tempo. Preciosas amizades, sim, são saudáveis.
Não importa o nível de cultura, ser mulher é ter dignidade nas
atitudes, ter ética, certa dose de simplicidade, generosidade e consciência
social.
Com os homens aprendi a pensar, classificar, ordenar,
raciocinar, contestar, me impor altiva, mas foi no faro feminino que apreendi as sutilezas da intuição, sensibilidade, apreensão cósmica, tocar no mistério da
vida. Ah, a Mãe Natureza sempre me ensinou na caminhada.
Fiz grandes amizades com mulheres desafiadoras, responsáveis,
corajosas ao enfrentar a vida cotidiana. Impossível numerar as amizades com
tantas mulheres sábias, determinadas, sensíveis e corajosas que passaram e
estão em minha vida. Muitas são mulheres/alunas que se formaram em meu entorno
com plurais inclinações existenciais, culturais, e, se mantiveram amigas para
sempre.
Penso neste momento em mulheres que me abriram horizontes; Cecília
Meireles que só a conheci em suas palestras, Alice Marques dos Santos do Grupo
de Estudos C. G. Jung e Ir. Maria Emmanuel, prima e amiga, pelas traduções de
Thomas Merton. Sempre recorro às místicas Hildegard von Bingem em sua arte,
conhecimento e poesia, e, Teresa d’Ávila no Castelo Interior. Mais recente Hannah Arendt, leitura, sua visão política.
Teresa d'Ávila
Hannah Arendt
Influência imensa no caminho da individuação é a saudosa Nise
da Silveira, com quem convivi em preciosa amizade e colaboração de 1968 a 1999 quando partiu para outras
dimensões; sábia mestra em tudo, mulher-mãe dos despossuídos, degradados,
marginalizados, feridos mentalmente, amante da natureza, das artes e dos
animais. Nise, mulher ultra-humana, usando palavras de Teilhard de Chardin. Nise,
coração da loucura, na totalidade.
Alice, Nise e eu - 1993.
Tarde de 30 de maio de 2018, Santa TeresaFoto minha de Nise - Poema à Natureza, 1970 / instalação Santa Teresa.
postagem - martha pires ferreira.
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