Tive na vida muitas paixões profundas;
sejam intelectuais, sejam corpóreas, sejam espirituais. Paixões emocionais e/ou
silenciosas, arrebatadoras e encantadas, doces e refinadas. Paixão, sobretudo
pela liberdade pessoal. Afeições com magia pela beleza essencial.
Aqui, neste momento, quero pincelar
minha amorosidade e ternura por um homem, entre os geniais que me influenciaram
na flor das minhas descobertas culturais, em 1962, nos meus 23 anos; Erasmo de Rottedam (1466-1536) com sua
obra Elogio da Loucura. Obra que reli algumas vezes.
Estou relendo, bebendo sedenta, sua
escrita; as obras que encontro. Memórias
de Erasmo (organizadas por Édouard Beauduin) me enternecem, sua visão de
mundo no início do século XVI, em plena renascença, é impressionante, profética
e de uma humanidade única exortando à razão e ao amor do coração tendo como
princípio a Filosofia de Jesus. Acabo de ler Diálogo ciceroniano; pura ironia didática e mestre diante da cega imitação.
Iniciando A Guerra e depois lerei Queixa da Paz. Desejo encontrar seus Adágios/Colóquios publicados em
português.
Aqui transcrevo alguns de seus adágios/colóquios/dizeres:
“Nas grandes coisas, basta
apenas ousar”.
“A verdade, quando não
ofende, tem algo de ingênuo que agrada; e foi somente aos loucos que os deuses
concederam o dom de dizê-la sem ofensa”.
“O mal não é mal para quem
não o sente”.
“A amizade é o maior de
todos os bens: tão necessária à vida como a água, o fogo ao ar, é para o homem
(espécie) o que para a natureza é o Sol”.
“Doce é a guerra para quem
não a conhece”.
“Nenhum animal é mais destruidor
do que o homem, pela simples razão de que todos se contentam com os limites da
sua natureza, ao passo que apenas o homem se obstina em ultrapassar os limites
da sua”.
“Aquele que conhece a arte
de viver consigo próprio ignora o aborrecimento”.
“A felicidade consiste em
nos transformarmos com a sorte”.
“O amor recíproco entre
quem aprende e quem ensina é o primeiro e mais importante degrau para se chegar
ao conhecimento”.
“De que vale a sabedoria?”.
“Convida um sábio (grifo é meu) para jantar, irá
perturbar com um estranho silêncio ou com molestas questiúnculas”.
“A mentira agrada mais que a verdade”. Poucos
suportam a verdade.
“Para ganhar é preciso
gastar”.
“A loucura é a origem da
façanha de todos os heróis”.
”Deve-se respeitar o
casamento enquanto é um purgatório, e dissolve-lo quando se tornar num inferno”.
“De forma alguma fala bem
quem não fala convenientemente”.
“Em grande parte, os
maridos são como as mulheres os fazem”.
“Deus, arquiteto do
Universo, proibiu o homem de provar os frutos da árvore da ciência, como se a
ciência fosse um veneno para a felicidade”. Ciência, sem sentimento e afeto, é
veneno. “Todos te vaiam; que te importa, se tu te aplaudes?”.
“Não há prazer em possuir
algo sem companhia”.
“Saber mesclar a loucura
com a sabedoria”; seguindo Epícuro.
“Se colocares numa parte
da balança as vantagens e na outra as desvantagens perceberás que uma paz
injusta é muito melhor que uma guerra justa”.
“O louco à sua própria
custa é que aprende a ser sábio”.
“A sabedoria divina tem
sua eloquência própria”.
“É bom divagar no momento oportuno e alhures”.
“Grande sabedoria saber
ser louco na ocasião oportuna”.
“Quanto mais perfeito o
amor, tanto maior a loucura, e sensível a aventura”.
“Não há nada melhor que a
vida”.