É
vivendo a vida que se vive. Às 17h saí do meu eremitério, sozinha com meu sonho
de me confundir mesclada junto ao povão na Praça da República s/n com a Rua da
Alfândega, e acompanhar o cortejo na Igreja de São Gonçalo e São Jorge. Não sou devota do santo guerreiro, mas queria
ter a vivência deste acontecimento da alma popular que se faz intenso nesta cidade do
Rio de Janeiro, todos os anos, dia 23 de abril. E que me remete às festas que ia,
no início da adolescência, em Guapimirim, próximo de Teresópolis, na Igrejinha
de São Jorge, quando me misturava nas barraquinhas, via meninos subindo no pau
de sebo e apanhar umas notas como prêmio, e plasmava meio encantada, os fogos
de artifícios. Agora, aqui no Saara, só tem barraquinhas de comidas e bebidas.
Muitas mesinhas espalhadas e fraternalmente o convívio social se faz em plena
rua superlotada. Gente de todas as idades e tipos. É incrível como este santo arrasta
multidões esperançosas, sofridas, felizes, pedintes ou gratas aos benefícios
vindos do Santo. Muitas velas pra acender, brancas e vermelhas. Tinha é que ter
algo de vermelho, a cor simbólica da capa do santo. Era vermelho que não
acabava mais; vestidos, blusas e camisetas com a imagem no peito, bolsinhas,
colares, flores, sapatos, cintos, chapéu, calça, coletes, batom (meu caso). Camisas
brancas em cor vermelha diziam: “Soldados da Paz”. De repente uma Banda começa
a tocar na porta da Igreja, atravesso aproveitando um vão e me adentro passos a
passo até chagar perto da imagem de São Jorge montado num fogoso cavalo branco.
Nunca tinha entrado nesta Igreja. Curiosa queria ver o que viam e o simples
fato de ali se aportarem. A multidão contrita rezando, rezando, outros fotografavam
ou filmavam tudo que podiam, e há quem pedia para ser filmada. Sem empurrões as
pessoas caminhavam algo exprimida, tudo bem, incluindo eu mesma. Em calmaria
espiritual e delicadamente, sem afobações todos davam espaços. O padre no
microfone anuncia: “afastem-se, a Banda da Polícia Militar do Estado do Rio de
Janeiro vai passar pela nave até ao altar”. Repete. Silêncio e começa O Hino Nacional,
em seguida a Banda tocando entra em passos rápidos, em fila. Chegando ao seu
termo é aplaudida. Sem pressa alcancei a rua, comi um crepe de queijo, atravessei
o povo. Às 19h já estava em casa. Ao retornar, saindo na Praça, entrei pela Rua
dos Inválidos, em obra, sem calçamento, mas invadida de gente, sentada em torno
de mesinhas arrumadas por todas as partes como se fora uma praça; bebendo, conversando,
sorrindo, dançando me faziam ver que viviam a vida, muitos vestindo o vermelho,
neste feliz feriado em homenagem ao guerreiro de todos os dias; o misterioso
São Jorge que vence o dragão.
E viva São Jorge, o guerreiro de cada
dia!
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