Teologia da Libertação, sim. Teologia
Afetuosa da Libertação.
Teologia amorosa, fraterna,
solidária, por opção preferencial pelos mais carentes, marginalizados,
esquecidos, pobres, sem ou com poucos recursos necessários para viverem com
autonomia e autodeterminação vida digna e justa, igualitária e humana. Teologia
do Amor que liberta e promove o ser humano em sua essência. Teologia que não
visa promessas longínquas de recompensa e felicidade a serem vividas somente na
eternidade, pos mortem, mas a Teologia viva, não dicotomizada, vivida com
dignidade, com espiritualidade, no reino de Deus a partir da reflexão e
interioridade, no aqui e agora; no chão da Mãe terra, acolhedora, democrática,
sem excludências. Teologia, sede do sagrado, ciência vivida por todos, não por
uma classe rançosa, pretensiosamente “teolocrática”. Teologia Afetuosa da Libertação com o
Arquiteto Celeste, na inspiração, respiração e transpiração; no centro do
Cosmo; no coração da existência; fonte primordial que não está em parte alguma
e está em todas as partes.
A Igreja, o Templo, a Capela, a Casa
de Orações, a Sala de Meditação, é um espaço geográfico que foi estipulado para
recolhimento e orações. Não foi criação de Jesus Cristo ou Buda, mas dos seres
humanos com objetivo de encontros comunitários, fraternos, com a finalidade de
proporcionar interioridade em conexão com o sagrado, o Divino. Locais de
diálogos profundos entre o eu e o sagrado, tendo as mensagens de Jesus Cristo,
no caso do cristianismo, como horizonte ou finalidade de se estar aqui no mundo
relativo e em contato íntimo com Deus absoluto – a experiência do Reino de Deus
em nós.
A Igreja católica tem como meta, por
meio das mensagens do Evangelho, proporcionar ensinamentos deixados por Jesus
Cristo; a compreensão das manifestações humanas e divinas na criação, e, a
tomada de consciência de que a ressurreição vence a morte. Adquirir o saber que
o outro, também, está em mim e eu nele. O outro é tudo que não sou na minha
individualidade relativa, mas que está em mim por entendimento da totalidade,
da essência indivisível. Teologia que nos liberta, que nos conscientiza da
fonte primordial, do incognoscível. Que seguir a mensagem de Jesus é ouvir e se
pronunciar com liberdade igualitária diante dos bens da Natureza, sem posturas
privilegiadas, mas de alteridade. Quem é a Igreja? É a comunidade, o povo que a
compõe. Ouvir a voz da comunidade, do povo, é ouvir a voz de Deus. Deus fala
através do povo.
A Igreja católica, hierárquica,
monarquista e fechada na cúpula, perdeu seu rumo, sua postura, sua dignidade,
seu lugar. Distante dos anseios da cristandade, do conjunto de indivíduos que a
compõe, está isolada; não terá saída.
Sem a presença do feminino em seu
corpo decisório, liturgias e homilias, a Igreja católica fracassará plenamente
porque não condiz com o mundo moderno onde a mulher se posiciona em plena
consciência de seus valores humanos como pessoa e cidadã responsável _ não mais
segue padrões obsoletos, arcaicos e unilaterais excludentes. A mulher
conquistou seu lugar na sociedade civil que não mais lhe será tirado. Ela
alcançou sua autonomia política, social e espiritual. A Igreja dos homens ficou
isolada com os homens. A mulher que superou a si mesma, em sua interioridade,
por estar à margem das decisões clericais, é livre espiritualmente, está além das
normas e princípios eclesiásticos. Silenciosa permanece em seu quarto, fecha a
porta, e conversa com o Criador que tudo apreende neste sábio estar sendo. O
espaço sagrado não é um espaço geográfico determinado, demarcado, por
imposições litúrgicas machistas e de uma única demanda. O sagrado contém o
masculino e o feminino por complementação, por integração dos opostos; dia e
noite, bem e mal, luz e sombra, ativo e receptivo, o rígido e o flexível.
A Igreja, inflexível, onde os homens
se ilharam, agoniza. Não ouvem os clamores de seu povo. Na escuridão, surdos e
cegos, gritarão pela presença do afeto e flexibilidade feminina; na cultura
chinesa, Yang e Ing.
O cristão que encontrou o caminho
segue o Cristo com liberdade criadora; Ama o próximo como a si mesmo. Palavras
do poeta hermético, eremita escondido em sua caverna: “O Grande Homem, mantém o
seu modo de pensar independente da opinião pública. (...) Respeita somente a
verdade. Tem mente de homem e coração de Criança. Conhece a si mesmo, tal qual
é, e conhece a Deus”.
Igreja não é papolatria, não é
hierarquia centralizadora, nem cúria romana com seus aparatos monarquistas
medievais, absolutistas, há muito ultrapassado diante da realidade
contemporânea. Igreja é prioritariamente lugar de recolhimento, de orações e
espiritualidade. Jesus Cristo, o mensageiro, o Ícone, o Deus encarnado, é a
ponte entre o ser e o não ser, entre a matéria densa palpável e o universo das
ideias, o logos; é a promessa escatológica da plenitude e felicidade eterna, a
partir do aqui mesmo terrestre. Jesus, o Messias, arquétipo do inconsciente
coletivo, é a integração possível dos opostos inconciliáveis; o sagrado e o
profano; a completude misteriosa da existência em sua infinitude.
O outro é Cristo e está em mim, logo
estou no outro, por semelhança. Não há dicotomia, separações, só existe
unidade; unus mundus.
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texto - martha
pires ferreira, eremita urbana, pés descalços.
Dia
7 de março de 2013. Reflexões; Teologia Afetiva da Libertação; acompanhando à distância o isolamento dos bispos em Roma,
possivelmente se debatendo intelectual, emocional e organicamente diante dos
escândalos da Cúria; Igreja mergulhada na corrupção e desqualificada em sua
moral. Momento de transição para outros níveis de consciência ou petrificação. Espero que para níveis mais depurados.
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