sábado, 28 de abril de 2007

Reflexões / 1973 _ Caminho na contra mão.

        Caderno Aquariano é uma página criada para mostrar meus desenhos ou textos escritos em diferentes épocas, sem obedecer qualquer ordem no tempo. E colocar o que no momento me venha como um prazer são Flores do Bem neste mundo virtual.

CAMINHO NA CONTRA MÃO

Não faço parte de um Status estabelecido. Sou pessoa marginal que deliberadamente se afastou das formalidades da sociedade cultural na qual fui privilegiadamente criada, e me desenvolvi. Este afastamento teve um único objetivo; o de me aprofundar na experiência fundamental de ser humana, mulher, feminina.
Vivo na busca, ou na atitude, que não visa qualquer espécie de Status. Sou livre, independente, e permanecerei independente. Caminho na contra mão. Não faço farte que qualquer grupo formal, instituição ou sociedade estabelecida. Quase nada possuo, e tenho o prazer de quase nada possuir. Vivo do meu trabalho autônomo, sem vínculos preestabelecidos. Dou aulas, desenho, ministro cursos livres, vendo minha criatividade a troco de pouco. Optei pela liberdade, pela simplicidade de viver a cada dia, sem pensar no amanhã.
O que faço é trazer à tona o significado do que seja viver a vida, estar no mundo, sendo do mundo. O significado da vida está além da dicotomia, da divisão, entre a morte e a vida; bem e mal, acertos e desacertos, luz e sombra. A vida como dádiva da natureza é dádiva da criação, revelação contínua. Sede de complementação de forças opostas; consciente e inconsciente.
Gostaria de me comunicar mais intimamente com todos aqueles que permanecem fiéis ao seu próprio caminho, à sua realização pessoal, humana, genuína.
Levando a vida de maneira insegura, debaixo de risco, sem qualquer proteção, eu sigo minha intuição e escuto o meu coração sensível. Nada pretendo além de unicamente realizar a função de ser uma pessoa humana. O que a sociedade estabelecida acha ou deixa de achar em razão do meu viver, nada me diz respeito, não tenho ouvidos. Trago sim, o compromisso de afeto, entendimento, alegria e compaixão, particularmente, para com os excluídos, os marginalizados, os esquecidos nesta “nossa sociedade” tão arrogante e injusta que a preço de nada condena e mata.
Sempre estive consciente das grandes transformações que estavam para vir e que agora se dão no mundo. A morte de uma Civilização e o renascimento de uma Nova Civilização, um Novo Ciclo da Raça Humana. Não vejo futuro, mas olho longe.
Sonhamos com a comunicação em nível profundo que é comunhão, pré-verbal e pós-verbal. Tenhamos esperança por um mundo de plenitude e justiça social. De gestos largos, de grandeza humanitária.
Tenhamos muitos “gurus”, pessoas que nos iluminem a estrada. Sempre tive uma imensidão de seres maravilhosos a me apontar horizontes impensáveis; Mateus e João Evangelista, Teresa de Ávila, Henry Miller, Lao Tze, Tagore, Suzuki, Paul Klee, Picasso, Bach, Beethoven, Villa-Lobos, Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Tom Jobim, Thomas Merton, Teilhard de Chardin. Nise Magalhães da Silveira e C.G. Jung. Artistas, poetas, músicos, anônimos e gente simples foram meus guias secretos. Outros e outros; as montanhas, o fogo, o ar e a água que nos envolvem, os animais e toda a natureza em sua potência e magnitude é fonte de plenitude. Sejamos solidários sempre.

[ Hoje, abril de 2007, passado tantos anos, mantenho o mesmo modo de viver a vida e refletir sobre tudo o mais que me cerca / MPF ]
---postagem  Martha Pires Ferreira.
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2 comentários:

Unknown disse...

Querida Martha,

Sinto-me privilegiada de lhe "conhecer", e de tê-la na minha caminhada. Compartilho de muitos valores e sentimentos sobre a vida, o amor, o ser humano e outros expressados por você, seja verbalmente, ou na escrita. Que Deus continue abençoando-a...

Um forte abraço,
Eleonora Santos

denise senra disse...

Martha,
este teu texto me encanta!
Apaixonante!
Leio e não me canso de reler.

Vou indo mas deixo estes versos que li hoje e amei (só não gosto desta palavra "culpado").

"Somos donos de nossos atos,
mas não donos de nossos sentimentos;
Somos culpados pelo que fazemos,
mas não somos culpados pelo que sentimos;
Podemos prometer atos,
mas não podemos prometer sentimentos...
Atos são pássaros engaiolados,
sentimentos são pássaros em vôo."

Mário Quintana

Até!
denise