domingo, 25 de março de 2007

O saber Astrológico

      A humanidade perdida, sem direção, nas rédeas da ideologia cartesiana, vê-se perplexa. A redescoberta do conhecimento hermético pode mostrar a saída.

Martha Pires Ferreira *
     
    A Astrologia quer queiram ou não, retoma espaço significativo nos meios de comunicação, com um vigor e uma ousadia que não eram esperados pelos meios acadêmicos bem comportados.
     Ela explode nos seus mais variados níveis, desde o que há de mais ingênuo ou enganador, até no que existe de mais elaborado e requintado, onde a analisa combinatória, analógica e simbólica se interagem, em sincronia, numa visão de totalidade. A Astrologia aparece exatamente no momento em que a ciência chega ao topo e não sabe o que fazer com sua tão articulada onipotência – esvaziada do significado mitológico, inerente à vida, a tudo o que nos cerca e nos envolve. O saber astrológico ressurge com o seu sutil processo capaz de analisar potencialidade prescritas em configurações celestes e dar significado essencial à nossa individualidade em correlação íntima  com Todo – nosso papel fundamental na sociedade.
     O sábio-astrólogo jamais pretendeu ir além dos limites da linguagem simbólica desenhada nos céus estrelados. Ao que se sabe, desde a Antiguidade ele apenas agia como intérprete, ao apontar os caminhos dos mistérios da criação – decifrava o que estava gravado em cada instante dos acontecimentos terrestres. Acompanhando os fluxos planetários, orientava na agricultura, na procriação, nos destinas das nações em tempos de guerra ou de paz. Propiciava a harmonia dos povos. Procurava fazer entender o quanto é necessário se viver de acordo com a Ordem do Cosmo – a Lei da Felicidade. Cosmo e Polis eram apreendidos como Unicidade absoluta, coesa, indivisível. Céu e terra faziam parte de uma só realidade.
        A Astrologia que se conhece hoje tem suas origens na Mesopotâmia – Suméria, Assíria, Babilônia e Caldeia e Suméria. A Babilônia, classicamente, divide com o Egito o privilégio das origens astrológicas. A velha China, Tibet e Índia, a Pérsia, hebreus, incas, maias, astecas, Grécia e Roma são civilizações que profundamente mergulharam, sem divisões, no saber da matemática, astrologia, artes e astronomia – a base do conhecimento científico.
      A teoria do pensamento tem suas origens no pensar astrológico ou o pensar astrológico faz parte do pensamento em suas origens – o que é a mesma coisa.
      No seu percurso histórico, a Astrologia perpassou por níveis de compreensão. Aqui e ali, em especial em Roma, extraviou-se de seu significado maior, a serviço do autoconhecimento e da sociedade. Caiu na vulgaridade individualista, tornou-se supersticiosa, adivinhatória, charlatã. Isso não é razão para descréditos fáceis. Em seu bojo, manteve-se fiel aos seus cânones. O academicismo científico (e religioso, uma outra questão) também se perdeu em suas diretrizes a serviço da verdade e da humanidade. Há 300 anos, a  Ciência tornou-se oficial, mandatária do saber. Rechaçou a Astrologia, e, em m\nome da cultura, tomou a cátedra em suas próprias mãos, certa de que poderia controlar tudo. Hoje, cansada de tanto mecanicismo, sufocada sem poder sonhar ou sorrir não consegue resolver problemas básicos para o bem comum. Teme a fome e a miséria exterior, mais que a interior.
     A humanidade perdida, sem direção, nas rédeas da ideologia cartesiana, vê-se perplexa; algo de equívoco em sua gloriosa malfadada trajetória. Seria interessante, agora nos “pós modernos”, de que tanto se fala e se congrega chamarmos os grandes senhores, pais da ciência. Acordarmos Aristóteles e outros para sabermos onde eles se colocam diante da dicotomia entre a lógica-razão e a analógica-intuição. Como eles apreendem, neste fim de Era, o interesse pela redescoberta da mitologia, saberes esotéricos, herméticos, simbólicos e místicos, matrizes arqueológicas da consciência de todos os povos. Interessante vermos estes sábios-homens defrontarem-se diante do mundo atual que, se de um lado está dilacerado e ferido, do outro é sedento de união entre a razão e a sã loucura, precisão e mistério, ciência e fé.
O saber astrológico é o resgate de nossa identidade diante do Universo.
- *  astróloga e artista plástica.

[ Revista Rio Capital julho 1993 ]

3 comentários:

Anônimo disse...

Excelente. Escreva bastante.

denise senra disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
denise senra disse...

Gosto demais de te ler!Que texto exuberante!Nossa! um espetáculo de literatura!
E "Ode aos Animais"?! Sublime!
um doce domingo!
denise