segunda-feira, 2 de junho de 2025

Poesia _ narrativa

 
Da janela tenho o mundo, suas dores e encantos / junho 2025

Escrever ... deslizar na poesia, deitar-se na rede das palavras.

A poesia pode ser concreta, abstrata em vertentes múltiplas. Tendências, juízos de valores, regras ou mesmos princípios do mundo literário estão aí impondo gramática, leis. Sou desenhista, livre e sem códigos. Escrever é tão antigo quanto o ar que respiro; escrevo narrativas_ prosa poética.

Pensamentos sem compromisso além do prazer de jogar palavras no papel, sentir a imagem configurada, descansar na rede do silêncio eloquente. Por vezes, sou tão hermética que só interessará a mim reler. Não importa, deixo a critério de quem desejar navegar comigo encontrar algo que agrade sem maior espera. A poesia é uma entre outras centelhas de conexão com a realidade, a Vida!

Quatro poesias em distintos momentos

Amanhecer
         
Noite negra esconde as horas
corpo repousa dia... seu labor,
manso anuncia ouro solar!
 
Pássaro livre canta solitário
voa quer árvore, quer frutos,
doce noite se desvela silenciosa
na melodia da alvorada ave!
 
Olhos cerrados a espera do ouro
reluzente vagaroso transpassar
a vidraça, no vão da janela o ar,
semiaberta cortina à luminosidade.
 
Olhos distantes ressonam vagando
repouso quieto, sem mais...
o amanhecer é manto dourado!      /2025
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Sentir é preciso

É preciso pensar
nas coisas do mundo.
É preciso pensar
nas dores dos homens.
É preciso pensar
na fome dos companheiros.
É preciso pensar
no que transcende a vida
para sentir a beleza
das coisas do mundo e
das dores dos homens.
É preciso não mais permitir
que os companheiros de vida
morram de fome
sem mesmo terem vivido.       /1967
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É assim
                   
Amo a vida na intensidade
olhos de gazela perdida
no vazio corredor sombrio.
É assim, sou assim.
 
Amo com o corpo
seu corpo quente
com a alma, sua alma.
 
Amo na fúria do vento
que chega de longe e abrasa
este seu jeito de querer
ser bom e puro,
violento e selvagem ao mesmo tempo.
 
Sou campesina, contemplo a vida
quereres os mais simples.
É assim, sou assim.               /1968.
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Vagando repouso
 
Pés no chão, sentada à mureta
me encosto _ permito calor no rosto,
pernas, seios, braços, minhas mãos!
 
Leio, rabisco traços sem direção
_ lagarto surge, parece me ver
sacode a cabeça, abana a cauda,
se banha ao sol escalando altura.
 
Borboleta-amarela plaina, outra listada
brinca de correr, leveza... beleza,
a última pousa em meu joelho e foge.
 
Passam dois carros, três pessoas
bicicleta _ criança no carrinho
acena mãozinha iniciando na vida.
 
Barulho, o caminhão de carga
_ o silêncio espera em seu tempo.
 
Caminho devagar ao bar da esquina
_ meu sorriso para jovens do balcão;
quero frutas e sabor do pão e café.
 
Contemplativa ao ninho retorno
_ Vida é acolhimento, doçura na
simplicidade... essencial estar na música!  /2023

      Martha Pires Ferreira
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