segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

A Poesia sempre presente.















    Vou abrindo meus arquivos, ousando mostrar a poesia, sempre presente em meus caminhos. Escrever é desenhar, as letras são traços sinuosos que as mãos engendram, revelam.
    Desenho nanquim do meu livro _ Zoologia Fantástica _ 1981 (Massao Ohno Editor.

Ser poeta
 
Se há sensibilidade
refinada na densa ou
leve apreensão das ideias
é poeta.
 
Seja o matemático
professor de geografia
cuidador de lampiões
esportista ou padeiro
pai, mãe com jardim de filhos
operário da escravidão voluntária
fotógrafo amador
timoneiro ousando águas
desenhista riscando
sutilezas da imaginação
é poeta.
 
Se há refinamento sutil no verbo
manejando sem escrúpulo
indiferente à pontuação rígida
simetria ou ritmo, tecendo
bordando em toalhas
fios de palavras e letras
é poeta.
 
Harmonia impulsiona
sem pedir incógnita licença
captura sem fronteira
olhos adentrando interioridade
é poesia!
********
Som do Cello
 
Pensamento voa, escoa
_ discursivo ativa ideias vãs
corta percepção, conclui.
                             
Som não raciocina, incólume
passa invisível, sem destino
habitando espaço, extensão.
 
Cello se faz sonoro, vibra
em harmonia quase humana,
corta incerteza _ suave acorde!
 
Olhar a paisagem extensa
bucólica _ instante único,
imperceptível _ o Cello invade
         a alma em doce simetria.
********
Sabor da fruta
 
Riqueza imortal _ sabor da fruta    
cor, olfato, tato, figura estética!
 
Tesouro habita sutileza real.
Encanto no encontro visual
_ prazer, sabor no céu da boca
matéria é beleza, a forma
                 _ a fruta, o aroma!
 
Manga, pêssego, banana, noni,
   pitanga, caqui, jaca, limão,
figo, tangerina, melão, kiwi,
   abacaxi, pêssego, abiu, amora,
 
mangaba, abacate, melancia, cajá
   laranja, mamão, goiaba, uva,
pequi, cupuaçu, jabuticaba, açaí,
   pera, maçã, ingá, tamarindo,
   
carambola, caju, graviola, acerola,
   umbu, jambo, morango, araçá,
fruta-do-conde, cereja, sapoti!
 
Coração pulsante, dentro vivifica!
Percorro a avenida das cores, formas
_ sabor da fruta no céu da boca
riqueza material, natureza imortal!    
******** 
Sede _ Presença
 
Sede de Deus mais que tudo
_ mística no seio da matéria,
chão árido, olhar longínquo.
 
Café na xícara, chuva na vidraça
                  _ contemplo!
Longe estou em D’us, percepção,
puro vazio... Ele me habita!
 
Nada possuo, nada ficou _ apreendo.
Corpo na matéria; sou mulher
transcendência e centelha
_ estando aqui, em parte alguma.

                                Martha Pires Ferreira

Resíduos da flor, nanquim, 2016

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~              

Nenhum comentário: