segunda-feira, 3 de junho de 2024

Prato-refeição _ recordar é viver, hoje.

 

Almoço em 2020 e estes dias, junho 2024.
              O prato: refeição 2020 - 2024

             Durante a pandemia, desde o início, março de 2020, tendo que almoçar sozinha, resolvi fotografar o prato feito, sobre a toalha _ mesa posta, dia a dia. Hoje, menos. Arquivei uma coleção significativa.

            Iniciei, este desejo íntimo,  num gesto de oração por todos que colaboraram para ter a minha refeição _ desde  quem plantou, colheu, vendeu, repassou, e, de mãos em mãos, por feiras livres ou mercados disponíveis; as verduras, cereais, legumes, e frutas. Assim como carne, peixe e ovos _ tudo em gesto de agradecimento à Vida, às pessoas, à mãe natureza que tudo provê.

            Quantidade enorme de pratos, refeições do almoço, foram fotografados, registrados. Pratos meus comuns e ingleses, que herdei de família. Diante da refeição, um gesto de amor solidário a todos confinados, a todos em sofrimento e transtorno em razão da pandemia _ Covid.

            O cuidar da refeição, entre outras atividades, mesmo os trabalhos caseiros, culinários; o fogão e as panelas, me davam sentido à Vida. Travessia dolorosa no mundo, acompanhava. Por algumas razões estive bem na solidão; reflexiva e bastante criativa. Posso dizer que amadureci profundamente _ valores internos e espiritualmente.

            Só agora escrevi uma poesia a respeito. Aliás, uma ocupação importante durante a pandemia _ cuidar dos escritos; revisões, poesia, ler muito e desenhar. Caminhadas ao Sol nunca faltaram _ a Vida é plenitude! 

           Prato-refeição: 2020 até hoje, junho de 2024

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Desafio refeição
 
Mãe Natureza tudo sabe provê
_ do chão de terra faz brotar
vegetação; alimento farto,
desafia a cada dia, a refeição.
 
Longa a caminhada, o cuidar
_ plantio à colheita, em tempo.
Destino; múltipla fortuna _ cereais,
frutas, legumes, verduras tantas!
 
Riqueza chega aos que podem
_ nada chegando aos esquecidos,
frágeis, marginalizados, perdidos.
Repassa colheita, pessoas anônimas.
 
Consagrar o alimento _ deveria ser
um gesto de oração, reverência
_ agradecer desde a horta, cultivo,
passando às feiras livres, mercado.
 
Sobre bancada o alimento pousa.
O fogão, a panela, a travessa acolhe
_ olhos, mãos, acompanham o fazer.
Sobre a mesa posta, está a refeição!
 
Tudo brota, floresce do chão de terra,
desafio dadivoso é fonte de Vida.
O prato, alimento _ o sabor, prazer
consumido, se faz impermanência.

     Martha Pires Ferreira






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