terça-feira, 5 de dezembro de 2023

À Nise poetizo

         Estes dias estive pensando muito em Dra.Nise, assim eu gostava de chamá-la. O mundo atual, esta travessia Oriente/Ocidente/Gaza... tantas coisas!. Grande amizade, 1968 - 1999. // Depurei uma poesia que fiz para ela, um perfil, como eu a via, apreendia.  

Numa das muitas felizes tardes, 1993.

À Nise poetizo
 
Delicada, pequena flor, suave gesto
_ dedos de agulha dançam no ar destemidos.
Afoita ousadia na travessia!
 
Felino olhar invade o dentro recanto
do outro _ penetra segredos na caixa
            apreende, dispensa chave.
 
Loquaz instante é chama a engendrar
                 espaços únicos;
preferência aos despossuídos, marginalizados
desqualificados, destroçados socialmente
           na secura _ vedados à emoção de lidar.
 
Mãos revelam interioridade por expressão
verbal, escrita e estímulo às imagens criadoras
            de seus clientes, seu entorno!
Sementes para plantar _ nova fonte de vida!
 
A liberdade tocando a existência; desafio
diante da estreiteza e frieza da barbárie
_ compassiva à ternura dos frágeis.
 
Altiva espadachim vence, corta obstáculos
            intempéries em torpes intensões.
Machadiana, em áspero repúdio, ecoa seca:
“Servi de agulha a muita linha ordinária!”
 
Aguadeira celeste; servir é doar-se inteira
            sem exclusões, sem fronteiras.
Por companhia o silêncio das gatas e gatos
   _ sábios mestres entre livros e papeis.
 
Prazer nos sacrários íntimos refinado humor
 à mesa; tardes com chá importado, torradas,
        marrom-glacê ou pamonha nordestina
_ fraterna troca; alegria em fiel acolhimento.
 
 A intuição vencendo a racionalidade
_ a morte extensão; reflexão profunda;
 completude numinosa _ o tudo é pouco!
 
Imensidão dos espaços; sede de infinito                  
_ o intransponível é eternidade, mistério!
Delicada, pequena flor em penetrante olhar.
          Fonte de vida, encantamento!
 
                                Martha Pires Ferreira
[podem copiar à vontade]
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