Luiz Carlos Maciel, amigo querido,
vive noutras dimensões! _ 1938-2017_ filósofo, escritor, “guru da contracultura”
anos 1960/70, pela divulgação da nova consciência no Brasil, jornalista e
roteirista. Homem, além de seu tempo, visão para o amanhã/futuro. Ele me solicitou matéria da Astrologia para o jornal
Rolling Stone, 1972/ era diretor // Para quem não conhece o artigo, mais uma vez aqui, bem
atual, pode ser lido na coluna do Blog em Artigos __ português e inglês.
Era de Aquarius Martha Pires Ferreira / 1972
A Astrologia, embora não seja ainda
levada a sério pelo academicismo de nossa época, é tão antiga quanto o homem. O
estudo dos astros surgiu de uma apaixonada tentativa de descobrir o segredo da
vida e da morte. Conhecida por todas as civilizações e culturas, a Astrologia permanece, até hoje, como ciência e
arte de predizer os futuros acontecimentos humanos através do estudo dos
astros. Inúmeras descobertas e acontecimentos, seja na esfera científica e
econômica, seja no terreno social, podem receber influência dos astros.
“Astra inclinant, non necessitant”.
Os astros inclinam, mas não obrigam - dispõem,
mas não impõem.
Aquário é mitologicamente
simbolizado por um ancião de barbas brancas – um velho sábio – carregando sobre
os ombros uma ânfora da qual se derrama um líquido ou fluido elétrico por todo
o universo destinado a alimentar aqueles que têm sede. Sua atitude é serena, a
expressão de sua fisionomia denota reflexão profunda. É interessante notar entre
todos os signos zodiacais, este é o único representado por um ente humano
completo. Aquário simboliza o homem na idade madura, biológica e
espiritualmente. Esta constelação tem seu nome derivado do Aquarium – O Aguadeiro Celeste. Na mitologia, o
Rei Gamínedes, a quem Júpiter obrigou a servir néctar aos deuses do Olimpo O
Aguadeiro Celeste é o símbolo do homem astral.
O planeta regente de Aquário é Urano –
o planeta da revolução, destruição, devastação, excitação, inquietude para
modificar, criar, inventar, transformar, evoluir. Uranos é o responsável pelas
grandes modificações. Representa o poder inventivo, a originalidade, o
imprevisto, a mais avançada evolução. Rege a indústria moderna: cinema, rádio,
televisão, radiatividade, eletrônica, aviação, etc. – sujeito às mudanças
bruscas e inesperadas. Numa Carta ou Mapa Individual podemos verificar este planeta
bem aspectado e em estado cósmico elevado, a personalidade estudada será
inegavelmente um progressista, um inovador que predispõe a humanidade para
amizades ideais, amor e solidariedade. Quem nasce sob as boas influências de
Aquário é um humanista por índole e um criador por vocação. Mas aqui não vamos
tratar das influências astrológicas particulares, nem dos fundamentos básicos
da Astrologia. O assunto é a ERA DE
AQUARIO.
De repente muitos querem saber o que seja a tão decantada Era de
Aquarius. Parece mesmo que os olhos brilham mais ao tocar nestes assuntos do
vir a ser do mundo futuro – o amanhã do ano 2000. Uma esperança, um anseio de
beleza, felicidade, gozo paradisíaco?!
Não darei dados de Astronomia para explicar que o eixo
vernal, por um processo de retrocesso se afasta do signo de Peixes, por onde
passou vinte séculos, e se aproxima agora do signo de Aquário. Este astro-rei
entrará em Aquário depois do ano 2000 – e a data prevista é aproximadamente,
por volta do ano 2014 (?!), podemos dizer que este eixo passou para a
constelação de Aquário, dando assim início a uma nova Era da História da
Humanidade.
Como não se pode afirmar categoricamente nada a respeito
de acontecimentos futuros, acredita-se apenas que esta época será de grande
esclarecimento mental para a humanidade inteira. A Era de Aquário é o despertar
da Intuição – apreensão imediata. Tendendo a humanidade então para maior
expansão espiritual e científica. Era da libertação, da independência, da autoexpressão,
da telepatia, da clarividência, da pré-cognição. O homem em busca da sabedoria
– e por uma espécie de vidência – sabe o que pensam, são ou desejam todos os
outros. Ele é um pouco qualquer outro. É o que chamamos vulgarmente “o homem
ligado” no sentido mais amplo da expressão. O desenvolvimento da percepção o
fará tão penetrante quanto o Raios X. É o ser se ampliando em todos os sentidos
e em todas as direções. É a ciência tomando novos rumos, rumos estes que
permitirão conhecimentos até agora enigmáticos para a humanidade. Anuncia na
verdade um estado superior da evolução humana – um estado de esclarecimento
individual – iluminação ou lucidez da consciência.
A Era de Aquário constitui um novo plano de
desenvolvimento na história do homem. Uma total mudança de nível – o homem
agindo noutro nível psíquico. A criatividade em toda a sua potencialidade,
força e vigor, transcendendo completamente a realidade atual.
A consciência do Deus interno – do Eu profundo – se
manifestará no centro mesmo da psique.
Cada ser humano terá como desejo primordial o autoconhecimento – o anseio de se
saber tal qual se é em
essência. O que no pensamento de C. G. Jung significa o caminho
da individuação. O homem experimentará por vivências pessoais o que
realmente seja harmonizarem-se uns com os outros. Um crescente sentimento-Amor,
sacrifício-generosidade, tomará conta de toda a espécie humana. O homem saberá
que somos todos da mesma família – que somos todos um só. Que a dor e o
sofrimento de um são a dor e o sofrimento de todos, o mesmo se dando em relação
ao bem-estar comum, às chances e oportunidades, alegrias e prazeres. O homem
aprenderá enfim a respeitar profundamente a individualidade própria e alheia –
a respeitar, sobretudo, e em absoluto, o outro como ele é, com seus
segredos, defeitos e virtudes. A Era
de Ouro da Humanidade, segundo a filosofia Yoga. A Era da Beleza porque a Era do Caminho da Sabedoria. E
quem sabe, a Era da Arte de Viver !!!
O homem se harmonizando com sua
natureza – com o alargamento do seu eu. O crescente emergir da criatividade
inegavelmente trará maiores possibilidades de felicidade e prazer na esfera
individual e coletiva. Os homens continuarão como sempre foram; com seus
aspectos claros e escuros, com suas contradições de seres mortais. Entretanto,
saberão melhor como lidar com esses aspectos escuros e sombrios que existem em
cada um de nós. As máscaras, tão comuns nos relacionamentos diários, não terão mais
sentido porque o homem novo na sua autenticidade e espontaneidade não terá mais
o que evitar, esconder, temer. Ele saberá aceitar-se e aceitar o mundo, assim
como será aceito na sua legitimidade de ser único, integrado no coração mesmo
do Universo. O homem da Era de Aquário é o homem independente. É o homem que
elabora o processo da liberação total.
É interessante me estender mais um pouco. E até mesmo
necessário. Estamos às portas do século XXI, esperando o decantado ano 2000 da
lindeza e da solidariedade, da cor e do som, da paz e da felicidade
paradisíaca. Para alguns, esta Era já iniciou por antecipação, mas apenas
aparentemente, porque a Era de Aquário não é como se sabe (e os videntes também
sabem), o privilégio de uns poucos ou de um grupo humano mais bem dotado, seja
lá em que for. A era do próximo milênio é primordialmente o reencontro da humanidade inteira –
na qual ninguém está interessado em aparecer mais ou menos, ser mais, ou melhor.
Não resta dúvida que os sintomas desta Era
da Intuição já se fazem presentes – em pequenos núcleos – nos mais
diferentes setores da atividade humana. Entretanto, antes de entrarmos nesta
plenitude de viver, sofrerá o mundo todo com a humanidade inteira, a mais
completa e fundamental transformação. Um cataclismo! E as décadas que vão dos
meados de 1970 ao ano 2000 não serão nada muito eufóricas, nem floridas.
A transfigurada explosão já se faz notar. A imaginação
parece se dilatar – o homem quer inventar, aparecer, criar, como nunca pensou
ser possível. A arte já não é mais o privilégio de um pequeno grupo de
artistas, não mais o dom de uns poucos – verifica-se que todo homem é
potencialmente um criador, um artista, em maior ou menor grau. E ao lado desta
efervescência vivemos paradoxalmente uma crise como nunca se ouviu falar – o
desencontro humano é geral. A mente inquieta e aflita tenta com todos os
esforços solucionar problemas cada vez mais complexos – impossíveis mesmo de
serem resolvidos. E mergulhando um pouco mais fundo, parece mesmo que qualquer
tentativa de harmonia geral entre pessoas ou nações é realmente inútil. A
humanidade está se desentendendo cada dia mais. Por todos os lados a violência,
a agressão, a insatisfação individual e coletiva. O homem está sofrendo e não
adianta querer esconder de si próprio tal verdade. A crise é cultural, moral,
política, econômica, religiosa, sociológica. E esta crise entrará num crescente
enorme – a fome aumentará cada dia mais – o descontrole geral chegará às vias
do absurdo ! ! ! Velhas tradições, velhas convicções, velhos ideais e costumes,
velhas leis éticas e metafísicas sofrerão assombrosas modificações antes do
surgimento do Novo Ciclo da Raça
Humana. Não são poucos os que estão atentos, conscientes e sabedores de
tais perspectivas. Parece mesmo que a humanidade inteira está despertando para
enfrentar a metamorfose morte-ressurreição! Como em todas as metamorfoses, em
todas as grandes mudanças – o que é formoso, belo e precioso, surge da
depuração – como na Alquimia. Depuração esta que se processa acompanhada de
muito trabalho e dor.
Este período de desencontro que antecede a Era de Aquário
e que já estamos atravessando, pode ser visto como um fenômeno apocalíptico. O
estado psíquico geral da humanidade se torna cada vez mais perigoso. É o
desabamento de velhos moldes: paradoxismos, incongruências, inconseqüências,
contradições, disparates – o imprevisível! Uma realidade altamente cheia de
dúvida e absurda.
Por toda parte, falsos profetas da verdade e do saber –
falsos cordeiros, falsos magos, falsos videntes, falsos sábios, falsos
iluminados. Muitos destes homens como dogmáticos “salvadores da humanidade”
ditam princípios e normas para a mente e para a alma, confundindo ainda mais a
inquietude geral do mundo. As dores aumentarão e a humanidade há de gemer, estremecer
e excitar-se. Ignorando completamente o que lhe falta, saberá apenas que sente
dor e que necessita urgente de algo que a alivie e tranquilize.
Quem tem a sua tocha individual bem acesa, quem permanece
em estado de plena atenção, não tem o que temer. O observador atento da
fenomenologia atual só tem uma saída: enfrentar o momento presente, enfrentar a
si próprio e à escuridão da sua época, sem ditar dogmas ou princípios, que em
pouco tempo estarão superados. O homem está correndo numa velocidade inacreditável
como todos nós sabemos. O homem lúcido não perde a meta – ele trabalha
incansavelmente por um mundo humano e pleno de alegria – ele sofre e não teme a
metamorfose. – Aceita o peso do mundo sobre os seus frágeis ombros e não se
desespera. Confia. Confia sobretudo nas forças da natureza. Acredita no
amanhecer da lucidez universal. Confia no princípio coordenador de energias,
nas forças renovadoras que emergem do centro mesmo da psique. Trabalha
no silêncio e no amor.
A Era de Aquário, uma utopia ou uma realidade? Consultem
geólogos, sociólogos e astrônomos; eles têm dados interessantíssimos a respeito
de acontecimentos singulares. Parece mesmo que tudo se transforma. Nada se pode
afirmar, entretanto, só o tempo constata e confirma.
Para alguns estudiosos, os 2.000 anos
que nos seguirão podem ser vistos também como a Era da Conquista do Espaço Cósmico,
e o homem já deu provas suficientes de que isso é possível. Mas a Era de
Aquário é, sobretudo a Era do Descobrimento do Homem Interior –
ERA DO HOMEM CÓSMICO. O estudo experimental da alma será o tema
principal no campo das investigações científicas, nas escolas e nas
universidades.
Num interesse profundo em conhecer a sua natureza íntima
e a sua essência eletromagnética, o homem descobrirá que a alma é o divino se
manifestando na matéria.
A
1ª publicação deste artigo em 1972 - Jornal Rolling Stone –~Nº 15, RJ.
Nota _ muitas publicações deste artigo foram feitas, distribuídas,
sem mexer com a data (hipotética) de 2014 _ Não há confirmação de Observatórios
astronômicos sobre a precisão da passagem Eixo Vernal, isto é, mudança de Era.
Contradições ou reservas, por observações mais pontuais.
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