Sou grande admiradora do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra. Sigo seus passos há muitos anos. Alguns amigos/as engajados.
Dimensão de alto teor revolucionário do MST _ meu apoio incondicional.
com Dra. Ignez Maria Mattos
No RIO + 20 _ Junho de 2012 __Acompanhei as propostas e tudo assisti.
Sou Brasil _ somos uma Bela Nação lutando por um Mundo humanizado futuramente, como deve ser _ feliz com justiça social, solidário e culturalmente participativo.
Performance _ Cinelândia > Rio + 20 / 2012.
Pontual matéria __ Frei Betto ___
POR QUE O
MST ASSUSTA TANTO?
O MST
(Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), que vi nascer e ao qual permaneço
vinculado, é o mais popular, combativo e democrático movimento popular do
Brasil. Congrega, hoje, cerca de 500 mil famílias assentadas e 100 mil
acampadas. Luta por um direito elementar, jamais efetivado no Brasil, um país
de dimensões continentais e onde há muita gente sem terra e muita terra sem
gente – a reforma agrária.
É, no
mínimo, uma vergonha constatar que no século XXI os únicos países que não
fizeram reforma agrária na América Latina foram Brasil, Argentina e Uruguai. O
modelo de propriedade da terra que ainda perdura em nosso país é o das
capitanias hereditárias. E a relação de muitos proprietários de terras com seus
empregados pouco difere dos tempos de escravidão.
Nascido em
1984 e prestes a completar 40 anos em 2024, o MST sabe, desde seus primórdios,
que governo é como feijão, só funciona na panela de pressão... Ainda que tenha
contribuído decisivamente para eleger Lula presidente, o MST jamais se deixou
cooptar pelo governo. Mantém a sua autonomia e sabe muito bem que a relação de
governo com movimentos sociais não pode ser de “correia de transmissão” e, sim,
de representação das bases sociais junto às instâncias governamentais. Muitos
políticos enchem a boca com a palavra “democracia”, mas temem que passe de mera
retórica para ser, de fato, um governo cujo principal protagonista é o povo
organizado.
O MST se
destaca também pelo cuidado que dedica à formação política de seus militantes,
o que muitos movimentos e partidos de esquerda negligenciam. Os sem-terra
mantêm, inclusive, um espaço próprio para o trabalho pedagógico, a Escola
Florestan Fernandes, em Guararema (SP). E em todos os eventos que promove, o
movimento valoriza a “mística”, ou seja, atividades lúdicas (cantos, hinos,
painéis etc.) e símbolos (fotos, artesanato etc.) de caráter emulador.
O MST segue
rigorosamente os ditames da Constituição Cidadã de 1988. A Carta defende o uso
social da terra, que deve respeitar o meio ambiente e ser produtiva. E exige
algo ainda em compasso de espera e imprescindível se o Brasil quiser alcançar o
desenvolvimento sustentável e abandonar sua submissão aos ditames das nações
metropolitanas, que nos impõem a mera condição de exportadores de produtos
primários, hoje elegantemente chamados de “commodities”...
Ocupação não
é invasão. Jamais o MST ocupa terras produtivas. Hoje, o movimento é o maior
produtor de arroz orgânico na América Latina e defende a Reforma Agrária
Agroecológica, capaz de facilitar o acesso à terra como direito humano;
produzir alimento saudável e sustentável para toda a sociedade brasileira;
oferecer ao mercado alimentos salubres e livres de agrotóxicos; valorizar o
papel da mulher trabalhadora do campo; expandir o número de cooperativas de
agroecologia; e ampliar a soberania e a biodiversidade alimentares no combate à
fome e à insegurança alimentar.
A campanha
do “Abril Vermelho” não usa o adjetivo como evocação da cor preferida dos
símbolos comunistas (e, também, das vestes solenes dos cardeais), como querem
interpretar os detratores do MST. É, sim, a cor do sangue dos 19 sem-terra
cruelmente assassinados pela Polícia Militar em Eldorado dos Carajás, no sul do
Pará, a 17 de abril de 1996. Sete vítimas foram mortas por foices e facões, e
os demais por tiros à queima-roupa.
Cerca de 100
mil famílias aguardam assentamento no Brasil. E é no mínimo um desserviço o
agronegócio promover o desmatamento de nossas florestas para expandir a
fronteira agrícola, usufruir de isenção fiscal na exportação de seus produtos e
concentrar sua produção em apenas cinco mercadorias: soja, milho, trigo, arroz
e carne, controladas por grandes empresas transnacionais.
A fome
cresce no mundo. Já são quase 1 bilhão de pessoas afetadas. E isso não resulta
da falta de alimentos. O planeta produz o suficiente para alimentar 12 bilhões
de bocas. Resulta da falta de justiça. No sistema capitalista, o faminto morre
na calçada à porta do supermercado. Porque o alimento tem valor de troca e não
de uso. Ora, enquanto a produção alimentar não seguir os padrões agroecológicos
e a terra e a água, recursos naturais limitados, não forem considerados
patrimônios da humanidade, a desigualdade tende a se agravar e, com ela, toda
sorte de conflitos. Paz rima com pão.
O MST
assusta tanto porque luta para que o Brasil, uma das nações mais ricas do
mundo, e que figura entre as cindo maiores produtoras de alimentos, deixe de
ser um país periférico, colonizado, marcado por abissal desigualdade social.
Tomara que,
um dia, nunca mais se torne realidade os versos cantados por João Cabral de
Melo Neto em “Funeral de um lavrador”: “Não é cova grande / É cova medida / É a
terra que querias / Ver dividida”.
Frei Betto é
escritor, autor de “O marxismo ainda é útil?” (Cortez), entre outros livros.
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___ Postagem __ Martha Pires Ferreira
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