sábado, 27 de maio de 2023

Abrindo arquivo _ 3 poesias

         Para que deixar guardado o que a sensibilidade engendra, a imaginação induz, a imagem pictórica ou palavras sem dogmas pedem espaço?! Ouso.

Espelho

Minha miséria
mistério, alegria
nesta manhã de Sol.
 
Vejo no espelho primeiros
                    fios brancos,
pergunto o que tem sido
a vida até aqui?
Silêncios!
 
Ajeito os cabelos, sorriso
secreto, desço para o jardim
                   a vida me leva.
                                               [ anos 1980 ]
xxxx                                        
Transpiro
 
Inspiro, expiro, respiro
transpiro _ ciclo se faz,
há dor do mundo em mim
desigualdade tanta!
Há ternura profunda
há Vida plena!

xxxx

Sem pensar

Não se pensa D’us
não se pronuncia,
apreende-se.
 
O Desconhecimento
está além do sendo,
ouvir, ver, viver
                      tocar.
 
Incomensurável
_ meu tudo
minha vida
meu Todo.  
                     Martha Pires Ferreira
Folhagem 
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sábado, 20 de maio de 2023

Happy 33 _ poesia Londres, 1971/72.

      Lembranças passam em nossas memórias vividas. Estes dias percorri o tempo 1971/1972  em que conheci/passei, sozinha, por vários países da Europa e fui pousar em Londres, onde nem desejava. Isto ocorreu porque a passagem de retorno seria de lá. Amigas/os me instigaram a permanência.  Em 19 de Fev. fiz 33 anos e escrevi a poesia aqui manuscrita. Período marcante para a minha independência, ser libertária sem volta. Algumas fotos deste período. Ali me aprofundei na Astrologia embora as Artes visuais tenham sido mais importante. Fiz cursos, frequentava museus, salas de concerto, bibliotecas e mergulhava direto no "que" do mundo europeu. Quanto mais vivia, mais amava o Brasil, nossa natureza: flora, fauna e povo. __ Oportunidades tantas! 




Meu amigo Alex rindo da minha produção/performance _ indo para encontrar/negócio com um inglês muito afetado. Fui receber por um trabalho. Eu me produzi e risquei carvão num dente. hahahaa
Amigas portuguesas. A de roupa clara, amizade para sempre: Isabel Bugalho _ culta, viajante, amiga fiel, eterna.
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Happy 33
 
que os pássaros cantem
    as flores se desabrochem
          em coloridos mil
    as borboletas voem
          poetizando o universo
 
que as montanhas permaneçam
         estáveis e silenciosas
    e mares desvendam seus
         grandes mistérios
 
que o céu permaneça pleno
em beleza solar _ com
    lua, planetas e estrelas
 
que as árvores deem muitos
          frutos saborosos
    e a terra seja sempre
          fértil por todos os séculos
 
que toda a natureza se alegre
    e os homens se unam
          com maior compreensão
  
                        É o meu desejo _ 19. II.1972 _ Londres.

                               Martha Pires Ferreira 

domingo, 14 de maio de 2023

Ser Mãe - poesia

 Foto _ Marcia Kranz, 1980

 Ser Mãe    __   martha pires ferreira
Ser mãe é desdobrar
coração que ama
protege
cuida
se encanta
se espanta
se descabela
padece
se irrita
aconselha
briga
conversa
ouve
se diverte
silencia
espera.
Ser mãe é confiar
se alegrar
se preocupar
doar
acompanhar
provocar
instigar
calar
libertar
Sorrir.

      Aqui postei esta poesia, Maio de 2020, dia das Mães, em quarentena, domingo solar, tranquila. Meu filho, Thomas, em São Paulo com a Valéria seguem o rumo da vida. 

     A Vida é esta beleza sem distância, este mistério profundo. // Sou imensamente grata  meu D'us! 

    Meu D'us, quantas mães sem filhos e quantos filhos sem mães! 

A grande Mãe Natureza seja louvada! 
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terça-feira, 2 de maio de 2023

MST - Lembranças do RIO + 20 e Frei Betto

        Sou grande admiradora do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra. Sigo seus passos há muitos anos. Alguns amigos/as engajados. 

Dimensão de alto teor revolucionário do MST _ meu apoio incondicional.

com Dra. Ignez Maria Mattos

No RIO + 20 _ Junho de 2012 __Acompanhei as propostas e tudo assisti.

Sou Brasil _ somos uma Bela Nação lutando por um Mundo humanizado futuramente, como deve ser _ feliz com justiça social, solidário e culturalmente participativo.


Performance _ Cinelândia > Rio + 20 / 2012.

Pontual matéria __ Frei Betto ___

 POR QUE O MST ASSUSTA TANTO?

O MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), que vi nascer e ao qual permaneço vinculado, é o mais popular, combativo e democrático movimento popular do Brasil. Congrega, hoje, cerca de 500 mil famílias assentadas e 100 mil acampadas. Luta por um direito elementar, jamais efetivado no Brasil, um país de dimensões continentais e onde há muita gente sem terra e muita terra sem gente – a reforma agrária.

É, no mínimo, uma vergonha constatar que no século XXI os únicos países que não fizeram reforma agrária na América Latina foram Brasil, Argentina e Uruguai. O modelo de propriedade da terra que ainda perdura em nosso país é o das capitanias hereditárias. E a relação de muitos proprietários de terras com seus empregados pouco difere dos tempos de escravidão.

Nascido em 1984 e prestes a completar 40 anos em 2024, o MST sabe, desde seus primórdios, que governo é como feijão, só funciona na panela de pressão... Ainda que tenha contribuído decisivamente para eleger Lula presidente, o MST jamais se deixou cooptar pelo governo. Mantém a sua autonomia e sabe muito bem que a relação de governo com movimentos sociais não pode ser de “correia de transmissão” e, sim, de representação das bases sociais junto às instâncias governamentais. Muitos políticos enchem a boca com a palavra “democracia”, mas temem que passe de mera retórica para ser, de fato, um governo cujo principal protagonista é o povo organizado.

O MST se destaca também pelo cuidado que dedica à formação política de seus militantes, o que muitos movimentos e partidos de esquerda negligenciam. Os sem-terra mantêm, inclusive, um espaço próprio para o trabalho pedagógico, a Escola Florestan Fernandes, em Guararema (SP). E em todos os eventos que promove, o movimento valoriza a “mística”, ou seja, atividades lúdicas (cantos, hinos, painéis etc.) e símbolos (fotos, artesanato etc.) de caráter emulador.

O MST segue rigorosamente os ditames da Constituição Cidadã de 1988. A Carta defende o uso social da terra, que deve respeitar o meio ambiente e ser produtiva. E exige algo ainda em compasso de espera e imprescindível se o Brasil quiser alcançar o desenvolvimento sustentável e abandonar sua submissão aos ditames das nações metropolitanas, que nos impõem a mera condição de exportadores de produtos primários, hoje elegantemente chamados de “commodities”...

Ocupação não é invasão. Jamais o MST ocupa terras produtivas. Hoje, o movimento é o maior produtor de arroz orgânico na América Latina e defende a Reforma Agrária Agroecológica, capaz de facilitar o acesso à terra como direito humano; produzir alimento saudável e sustentável para toda a sociedade brasileira; oferecer ao mercado alimentos salubres e livres de agrotóxicos; valorizar o papel da mulher trabalhadora do campo; expandir o número de cooperativas de agroecologia; e ampliar a soberania e a biodiversidade alimentares no combate à fome e à insegurança alimentar.

A campanha do “Abril Vermelho” não usa o adjetivo como evocação da cor preferida dos símbolos comunistas (e, também, das vestes solenes dos cardeais), como querem interpretar os detratores do MST. É, sim, a cor do sangue dos 19 sem-terra cruelmente assassinados pela Polícia Militar em Eldorado dos Carajás, no sul do Pará, a 17 de abril de 1996. Sete vítimas foram mortas por foices e facões, e os demais por tiros à queima-roupa.

Cerca de 100 mil famílias aguardam assentamento no Brasil. E é no mínimo um desserviço o agronegócio promover o desmatamento de nossas florestas para expandir a fronteira agrícola, usufruir de isenção fiscal na exportação de seus produtos e concentrar sua produção em apenas cinco mercadorias: soja, milho, trigo, arroz e carne, controladas por grandes empresas transnacionais.

A fome cresce no mundo. Já são quase 1 bilhão de pessoas afetadas. E isso não resulta da falta de alimentos. O planeta produz o suficiente para alimentar 12 bilhões de bocas. Resulta da falta de justiça. No sistema capitalista, o faminto morre na calçada à porta do supermercado. Porque o alimento tem valor de troca e não de uso. Ora, enquanto a produção alimentar não seguir os padrões agroecológicos e a terra e a água, recursos naturais limitados, não forem considerados patrimônios da humanidade, a desigualdade tende a se agravar e, com ela, toda sorte de conflitos. Paz rima com pão.

O MST assusta tanto porque luta para que o Brasil, uma das nações mais ricas do mundo, e que figura entre as cindo maiores produtoras de alimentos, deixe de ser um país periférico, colonizado, marcado por abissal desigualdade social.

Tomara que, um dia, nunca mais se torne realidade os versos cantados por João Cabral de Melo Neto em “Funeral de um lavrador”: “Não é cova grande / É cova medida / É a terra que querias / Ver dividida”.

       Frei Betto é escritor, autor de “O marxismo ainda é útil?” (Cortez), entre outros livros. Livraria virtual: freibetto.org

Assine e receba todos os artigos do autor: mhgpal@gmail.com 

___  Postagem  __ Martha Pires Ferreira

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