domingo, 7 de novembro de 2021

Sexualidade e Espiritualidade _ Liberdade de escrever.

 

Inanna _ Suméria, 3.900 a.C.

             Egypt - Hathor, 2.000 a.C.

      Falar da sexualidade, sensualidade, é falar da beleza da vida.

   A abordagem da sexualidade aqui se faz em razão da onda de hipocrisia, revestida de preconceitos moralistas, em torno deste assunto; o corpo, desejos e anseios físicos da natureza orgânica, que explodem em flor e frutos na adolescência, juventude e se estendem pela maturidade até sua serenidade, suavidade, na idade avançada, se bem canalizada e vivida.     
  A sexualidade é função sagrada. Não existe separação entre corpo e espírito/alma, ela faz parte essencial de um todo vital. Ela é afrodisíaca sempre que houver amor afetuoso para sustentá-la, vigorosamente. Seu uso inconsequente traz desapontamentos, temores, dissabores e mesmo angústia. A banalização do corpo é estrago, é frustração.
   A sensualidade é outra questão, sutil e delicada, que pode se manifestar em todas as nossas múltiplas percepções sensoriais, pela vida toda, no tempo e espaço. Tudo se interage, naturalmente.
  A ignorância e a estreiteza das religiões fundamentalistas, moralistas, se afirmam no fato de dogmatizar e policiar os desejos sexuais, em vez de orientar as pessoas, com tranquilidade, sempre que necessário, em suas funções orgânicas, seus impulsos vitais, sua intensidade criadora.
  Sem liberdade da inteligência é inviável o amor satisfatório em plenitude. A inteligência foca a intenção desejada pelas vias da atração e comando do coração. O anseio amoroso é por si mesmo afrodisíaco.  
 A sexualidade, esta potência, energia atômica, bem canalizada é impulsionadora de criatividade constante; estímulo para agir, produzir, realizar. Esta energia reprimida, negada, atrofiada, em geral, é causa de graves distúrbios, por vezes, degradantes.
   A afetuosidade alimenta as funções orgânicas, fazendo-as sadias e vigorosas. Os casais em harmonia, bem realizados, mantêm pelo afeto amoroso o estímulo necessário ao apetite da sexualidade em ternura, prazer intenso e felicidade. A amorosidade pede reciprocidade, trocas pessoais, olho a olho, pele a pele.
  Não há qualquer erro no uso destas funções orgânicas movidas pelo desejo, pelo instinto da natureza humana-animal. Pode, sim, ser desastroso o abuso da sexualidade, pela ansiedade sem limites, a gozos sem consequências. Seu mau uso, em tempo inapropriado, em parcerias vazias, sem o mínimo de troca em valores emocionais, mesmo que passageiras e fortuitas, será sempre ilusória.       Uma relação vazia é vazia, pode trazer certo alívio físico momentâneo, mas é fria, e, geralmente decepcionante. É importante haver algo de impulsionador no emocional, algo de afetivo nas atrações. O afeto pela vontade consciente envolve o bem da pessoa. Pontuando: o erro não está no uso da sexualidade, ela é dádiva da natureza, o erro está é no abuso dos instintos sem consciência de sua magnitude e sacralidade.     
  Quem tem sua sexualidade sadia, livre de censuras, sem medo de seus impulsos, sem repressões amargas, e se deixa ser levada pela sensualidade afetuosa e natural, viverá a vida com intensidade e alegria. Certamente, não será uma pessoa que use sua inteligência e vontade para promover guerras, não se alimentará de ódios, vingança ou ofensas plurais, não projetará em outros seus próprios recalques e hipocrisias. Quem está tranquilo com sua sexualidade, seus instintos, na ativa ou não, sabe caminhar e se alimentar da Amorosidade própria contida nesta energia que impulsiona e move nossa existência. E que tantas vezes nos encanta.
  Homens e mulheres, instintivamente, buscam seus pares na ânsia de complementação de opostos, com sede de prazer no que tange a expressão masculina e feminina; percepções internas e realizações dos impulsos vitais.
Matisse
Eliseu Visconti

                                       Rodin
                                      Picasso
                        Adolf Erbslöh, 1910 

                     
     Roberto Moriconi

                                                 Chagal

Isthar _ Assíria, 2.600 a. C. 
   A abordagem aqui não se limita à heteroxessualidade. Se o ser humano tem opções sexuais em gênero, se a pessoa é homossexual, lésbica ou transexual, para ela tudo é natural, é da sua natureza. Nada a contestar. A sociedade, como um todo, está em processo de amadurecimento e compreensão destas questões vitais. O mundo se abre para outras perspectivas e entendimento do ser humano.
  O que devemos nos ocupar nas orientações sexuais não são as opções de escolha dos parceiros, parceiras, mas a boa conduta humana, um proceder digno em distanciar-se das banalizações instintivas, explorações degradantes, repressões moralistas, desamor hipócrita, frieza afetiva, ausência de calor humano. E por aí vai.
  Necessário chamar atenção no que diz respeito à realização pessoal em harmonia com a vida cotidiana, obtenção da felicidade por viver corpo e alma num todo Amorizante.
  Existimos porque a sexualidade se fez revelar em nossos pais! Somos frutos da vida, potência da natureza. A vida não pede licença, cria.
  A inseminação artificial é outra questão da fonte da vida. Não cabem aqui explanações sobre os avanços da ciência, nem suas consequências.
  A castidade, voluntária ou não, é assunto muito pessoal. Pode ser um dom, e raro, quando assim desejada, por escolha, intenções íntimas. Merece respeito. Canalizada por sublimação, para outras funções, geralmente espirituais, religiosos de instituições e monges em geral, e, como ocorreu em livre decisão de Mahatma Gandhi, são exceções. Aqui, também, não cabe tal abordagem, e, que nem tampouco vamos questionar. 
  Amar, conhecer o corpo. Deixar o corpo amar com arte, vigor e ternura. Sejamos seres humanos, esta é a nossa função. Viver a vida em plenitude! A sexualidade em seu nível mais elevado transborda vida com Amor incondicional, pleno em gozo e beleza criadora!
  Concluo com uma frase de um homem muito sofrido em sua vida sexual, humana - “Os cavalos”, de Octavio Ignácio (SAMII, 1978, Rio de Janeiro” - “É a posição que deveria ser. O sujeito tem que dominar o animal pelo espírito e não pela força”.
 
                           Martha Pires Ferreira
      – Santa Teresa, 18/08/2018, depois do café da manhã, reflexões. Revisão e acréscimos em 2021..
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