A espiritualidade, religiosidade, neste 3º milênio não será como no
2º milênio, nem regressão ou recuo ao passado, ao 1º milênio ou à mais remota Antiguidade. O ser humano beberá, sem
dúvidas, em muito das fontes primordiais, vivências dos primórdios no judaísmo
ou início da cristandade, quando esta difundiu o senso de fraternidade, compaixão
e igualdade entre os povos do Ocidente, não esquecendo que com o tempo se apoderou
do poder temporal perdendo sua meta inicial. A questão aqui é outra, é pensar numa
retomada às raízes da espiritualidade, no contesto contemporâneo. Ela se fará em
buscas internas noutras civilizações do Oriente e noutras culturas diversificadas;
expressões religiosas, bases formadoras de conceitos sobre o sagrado, a transcendência
e o divino. A sede de espiritualidade é inerente ao ser humano. Caminharemos
para a Espiritualidade-realidade das raízes, liberdade de comunhão com
percepções as mais profundas, e trabalhando por um mundo humanizado, mais
afetuoso para com a Natureza em seu todo. Especiais seres humanos e divinos
como Krishna, Lao Tsé, Moisés, Sócrates, Buda, Jesus Cristo, Maomé e tantos
outros de tradição, pouco conhecidas, como as da África e de povos Indígenas,
que possuem vozes da Verdade essencial, estarão sempre presentes. Continuarão a
ser luzes neste deserto cético da atualidade nos mais diversos recantos do
mundo. Não se descarta que haja fanatismo dos arraigados em fantasias
sentimentais e manipuladoras, próprias de seres limitados, estreitos, presos às
normas das submissões e crendices vãs. Não é um olhar para o submundo das
superstições ilusórias e seus entraves a ser tratado aqui, e sim algo mais
elevado, depurado nos anseios da alma, na sede de felicidade cotidiana, no bem viver
a vida.
No 3º milênio, ao que se deseja, não terá mais lugar um
olhar de esperança única por uma recompensa na vida vindoura; religiosidade construída
em temores, diante do julgamento de
Deus, o criador implacável _ conduzindo as almas não merecedoras para os
Infernos, sem chance de qualquer salvação e as almas obediente, submissas na
servidão, destinadas ao Paraíso, reino da felicidade eterna. Almeja-se
espiritualidade vivida aqui mesmo no chão da Mãe Terra, noutro nível de
consciência mais elevado, comprometida com todos. O ser humano com toda a
natureza, a criação em seu todo terrestre, estará nas questões centrais da Vida,
a existência em evolução contínua _ toda a Natureza um organismo vivo inseparável,
interdependente.
Os místicos jamais seguem pensamento que os cerceiam, amarram e
sufocam; sendo seres livres, interiormente, estão abertos às experiências mais profundas
da alma, atentos aos encontros com o terreno e com o sagrado _ uma só realidade.
Desconhecem dicotomia.
Neste início de 3º milênio que estamos atravessando, percebemos um
esvaziamento, quebra dos velhos paradigmas. Deseja-se que uma parcela de seres
mais evoluídos, com propostas e tomada de consciência, esteja voltada num
investir participativo, na própria evolução das espécies-criação, sem exclusões.
O desejo de bem-estar comum para com toda a humanidade, no aqui e agora, neste
chão que pisamos. E assim, também, há de ser o caminhar silencioso dos
eremitas, dos que preferem a vida de quietude, em comunhão com todos, o Todo
indivisível.
Por toda a Idade Média (476/1453) pensava-se de modo geral,
sobretudo, no Ocidente, no viver pastoril em submissão aos senhores feudais, e,
esperança das recompensas na eternidade. Com o surgimento da Renascença,
as grandes navegações em conquistas e explorações marítimas e terrestres, o surgimento
do pensar humanista, as potências criadoras emergindo do próprio talento humano
foram se afirmando e mostrando outras vertentes. Paradoxalmente, às grandes
realizações artístico - culturais, tivemos ascensão de domínios absolutistas, abusos
hierárquicos de poderosos ao manipular as massas escravos servis, assim é o que
nos relata a história da civilização. O poder imperialista da Igreja católica,
conivente com o Estado, criou tribunais eclesiásticos de inquisição se colocando
senhores absolutos dos direitos ao pensar e escolher. Normativas do como deve
ser o viver a vida, perdurou por séculos.
Tudo foi movido em complexidades plurais, com os avanços do
pensamento criador, desde a Renascença. Impensáveis as conquistas e
realizações que se estenderam nos anos seguintes com a Revolução Francesa e
a Industrial, as afirmações de direitos humanos, e, modernamente, os
desafios da Revolução Tecnológica _ um desdobrar das potências humanas
em prol da Vida e seu desenvolvimento.
Passagem do séc. XX para o XXI chegando ao ápice do
absurdo e da onipotência pelas conquistas e domínios exacerbados, constatamos
os seres bípedes humanos, se julgando “deuses” _ o homem subjugando o homem
pelas forças das armas com sofisticada crueldade. O animal carne, ossos, com desejos
e pensamentos (homens e mulheres), voluntariamente, se deixando ser escravo do
homem-máquina, manipulador e detentor dos poderes. O dominador-homem-máquina
mantem em suas mãos as rédeas do escravo-máquina _ são criadores de
artificialidades impondo suas mercadorias, ocupando espaços-negócios com ilusórias
propagandas em sofisticados programas midiáticos. A massa submissa se ajoelha
diante da única segurança terrena que lhes resta, a dos cifrões, visto que os
deuses celestes estão mortos ou indiferentes aos apelos de felicidade e do bem
viver a cada dia. A raça humana passou a ser atrelada a cruéis artifícios.
A religiosidade, a espiritualidade esmagada, manipulada,
massificada e vilipendiada, perdeu o espaço nobre de reverência e acolhimento.
O Deus dos simples sendo esmagado, pulverizado. Deseja-se um deus morto
_ a inocência espiritual esvaziada como crendice de ignorantes. O que impera como
norma é o reino frio dominante da “racionalidade” e da “materialidade selvagem”_
produção e lucros superlativos. Reinado do consumo e da ganância de uma pequena
minoria mantenedora do sistema perverso do capital, em plena decadência, e, que
por cegueira insaciável não consegue manter-se no equilíbrio. Assistiremos
notória caotização, generalizada, de paraísos econômico-financeiro.
Uma imprevisível Praga, contra-ataca aos predadores da
natureza. Não importa de onde ou como ela surgiu, se das sombras animais ou
laboratoriais, ou por ordem mesmo da Mãe Natureza. Com potência
esmagadora o Corona-vírus-19 surgiu inclemente, colocando de joelho todos
os humanos do Planeta Terra _ de norte a sul, leste a oeste. Toda a humanidade,
todos os poderosos, todos os “senhores exploradores e depredadores da matéria”
estão sobre seu silencioso domínio.
O Corona aprisionou a
alma do mundo na matéria! A Humanidade como espécie anseia ressureição, sair
das trevas. O lado obscuro, danoso e cruel da existência não pode impedir o ressurgimento
do fluxo renovador de energias criadoras e vivificantes para o bem maior, a
retomada dos valores os mais refinados e de sensibilidade no seio da criação,
da Mãe Natureza em sua Totalidade _ ânsias de soluções e evolução.
Os anseios de eternidade passarão a ser, essencialmente, desejos a serem vividos e resolvidos aqui em nossa Terra
Mãe. Aqui mesmo, o Reino de Deus.
Cabeça de Zeus/Júpiter _ Museu do Louvre
Netuno _ Fontana, Firenze _1565
Com o olhar da Astrologia podemos dizer que a Espiritualidade
se fará surgir, em pessoas mais depuradas, com novos sopros, na chegada do
planeta da expansão, impulso vitais, ética, justiça e alteridade entre outros
valores _ Júpiter em signo de Peixes/Água, definidamente, no
final de dezembro deste ano de 2021. Encontrará ali presente, em Peixes, o
planeta da dissolução, ilusão, desapego, transcendência, doação, intuição,
compaixão e mais, Netuno – no último quadrante da Faixa do Zodíaco.
Tudo se manifestará a partir do coração aflito e esperançoso do ser humano,
cansado das regras externas detentoras de poderes/normas que não atendem às
solicitações pessoais e nem as do coletivo.
O ser humano buscará, reivindicará, outros caminhos dignos de vida
terrena, mais justos, igualitários e de espiritualidade genuína em profundidade.
Energias renovadas num apelo, em transcender, para novos níveis de evolução.
Esteja a inteligência voltada na preservação e cuidados para com a Mãe
Natureza e as questões sociais ou cairemos no abismo das degradações sem
retorno. A escolha é livre!
Ciclos de Netuno em Peixes/Água _ datas semelhantes, no passado, como as que vivemos hoje _ conjunção
de Júpiter e Netuno, os dois em domicílio _ 20/01/ano 1524, 6º44
__ 22/2/1690, 12º 31 __ 18/3/1856,
18º18 __ 12/4/2022, 23º 59 _ marcam momentos de avanço e evolução neste
caminhar desafiador que é a vida humana no seu cotidiano. Até os anos de 2025,
2026 observaremos algo inimaginável revelando outros paradigmas, em valores
essenciais à Vida!
Urgente caminharmos para a Espiritualidade que cuida e protege a Natureza,
nossa essencial fonte de Vida _ o Fogo,
da vontade, ação e determinação criadora _ a Terra que nos oferece as
mais plurais riquezas dos alimentos para o corpo_ o Ar que inspiramos e
expiramos, transpiramos _ a Água pura da fonte imprescindível à saúde.
Mãe Natureza _ fonte essencial de Vida
– requer todos os cuidados.
Este período de trevas _ de travessia _ aponta para uma Nova
Civilização; clama ser espiritualizada no nível da inteligência, do
pensamento se abrindo para a esperança com o coração afetuoso visando o bem
comum social solidário, participativo, fraterno e igualitário. Compromisso com
toda a humanidade, em conhecimento, segurança, educação e cultura, como uma só família _
libertando a alma do mundo aprisionada na matéria.
Quem viver, verá!
Martha Pires Ferreira
Dia
de Todos os Santos, 1 novembro de 2021.
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