sábado, 25 de setembro de 2021

O Silêncio me habita _ sou habitada pelo Silêncio _ 2021

    
        Astrolábio planisférico séc. XV _ relógio do tempo / espaço poético!
     O Silêncio me chamou, se impôs presente em 2018. Eu me recolhi por cerca de quatro meses, com o mínimo de contatos com o mundo externo. Hoje, 2021, releio o que escrevi refletindo sobre estes três anos que se passaram, em que fomos surpreendidos por um vírus, uma praga, desconhecida que se abateu sobre o Planeta Terra, atingindo toda a humanidade. O Covid-19, ao surgir em 2020, nos determinou reservas, entretanto, não me afetou em nenhum momento. Aceitei minha clausura monacal sem contestações, assim estou aqui até este momento.
     A idade avançada se revelou imperiosa e implacável, surgiram outras questões de existência e qualidade de vida. Surgiram surpresas impensáveis. O fato de me recolher propiciou abrir outros horizontes, outras químicas se revelaram _ não mais qualquer fera a dominar, qualquer ira para aplacar, qualquer contrariedade para esquecer. Na tranquilidade o vento sopra mais enriquecido em valores essenciais
     O coração não adormece alienado nem descuidado, o corpo não se esfria no calor da energia _ a Vida é viva e calorosa. Continuo minha caminhada e não mais sou tragada pelas chagas das dores do mundo _ tento cuidar de feridos se for possível e acalentar almas desgarradas do leme de seus barcos fendidos pelas injustiças humanas. Aponto as direções da concórdia em delicadezas interiores, esperança que conduz ao reino da compreensão, em contraste com as complexidades múltiplas e mesmo contraditórias, aqui, onde todos nós, raça humana, habitamos. Aguardo a Luz de um novo amanhecer na história da humanidade, novos brilhos civilizacionais são possíveis quando somos amantes da Vida, incondicionalmente, em sua totalidade cósmica _ relógio do Tempo.
 
       Silêncio _ reflexões _ 2018
 
     Sempre foi necessário tempo de silêncio e reservas, para dominar o dragão rebelde e irado que habita em mim. E para apreender o que está por se abrir na alma como flor da Vida!
     Bem jovem ouvi em rádio fatos da vida de São Francisco de Sales, de um Sermão em que se dizia ter ele conseguido dominar sua tempestuosa ira depois de muitos anos de esforços internos. Sempre pensei nele sem ter lido quase nada sobre sua vida. Serviu-me de direção para sempre; dominar o dragão.  Sem o silêncio, tempo para a contemplação, isso é impossível. Ainda, por vezes, preciso agarrar este animal selvagem e dobrá-lo, fazendo-o quieto para não ser dominada por ele. Razão por que preciso de afastamentos em tempos de fúrias ao meu entorno; calo-me, observo e me distancio se não posso ajudar. Não sou omissa, jamais, e sim prudente para não acordar a fera. Diante de tanta ignomínia, barbárie e abusos de poderes, o silêncio grita na escuridão e aponta o recolhimento.
    Não tenho conflitos familiares, são os contatos com a sociedade que se manifestam e se revelam por atritos existenciais nesta travessia tão bizarra neste momento histórico para toda a humanidade o que me abate.
    Meu silêncio não é por temores é por consciência sacrificial diante da banalização da violência em risco de uma escalada sem precedentes, em especial aos mais degradados, despossuídos.
                Martha Pires Ferreira  22, outubro. 2018 / set. 2021.

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