Hoje, 25 de julho _ dia do escritor.
Inventam dia para tudo – aguardo o dia do Absoluto, outro do Silêncio, outro da Inteligência e por aí vai... Assim sendo resolvi homenagear uma pessoa que foi muito querida em minha vida _ Herbert Timm, poeta refinado que se manteve no silêncio abissal. Mostrou para poucos a sua produção. Viveu, literalmente, avesso a ser conhecido.
Poeta da solidão!
RESSURREIÇÃO - HERBERT TIMM (1937-2016) - poesia, nov. 2008.
Na fria noite
Da cidade grande
Sob a marquise dormem
Um velho, um menino e um cachorro
Sobre pedaços de papelão
Suave colchão
Zunindo em tropel de cavalaria
Passam carros projetando luminosas cores
Rumo aos úteros da noite
Na calçada.
Pétrea
Namorados, bêbados, turistas
Advogados, porteiros, travestis, prostitutas
Garçons, oftalmologistas
Protestantes, balconistas e maçons
Seguem em procissão
Passam todos
Caudaloso rio de carnes com botões
Celulares, canetas, carteiras, cigarros
Acesos
Pontinhos pirilampos
E óculos para longe
Para perto
Lentes sem contato
Ninguém percebe os três corpos
O do velho, o do menino, o do cachorro
No papelão
Sob a marquise da cidade grande
Fria
Dentro da noite anônima
Asfáltica.
Mas eis que amanhece
[Sempre amanhece
Mesmo que não haja sol]
Honey Bee Blue
A noite se foi
A Lua se apagou
E o velho
Zarolho
Fita o menino
Com seu único olho
Deep blue
Sorriem
O cachorro ressuscita
Levanta-se sobre as quatro
Pernas cambetas
E balança o rabo quando os vê.
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------- postagem Martha Pires Ferreira
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