___ Na liberdade da Solidão – li esta obra
de Thomas Merton, pela primeira vez, quando ainda muito jovem, 1961. Não
tinha, ainda, meus 23 anos. Agora, chegando aos 81, neste mês de fevereiro, sem
qualquer questão com a idade, releio este Mestre, um homem que em muito me
identifiquei no temperamento rebelde e libertário, e, em sua visão de mundo com
grande paixão e espiritualidade – vida de solidão que a tudo transcende.
Suas palavras, sublinhadas, no velho livro
da Ed. Vozes:
“A vida se revela a nós somente na medida
em que a vivemos”
”Quando nossa vida se nutre de irrealidade,
morremos de fome. Não há maior desgraça do que confundir essa morte estéril com
a verdadeira e frutuosa “morte”, pela qual entramos na vida”.
“Viver não é pensar. Viver é o constante
ajustar-se do pensamento à vida e da vida ao pensamento, de tal modo que
estejamos sempre em crescimento, sempre tendo a experiência de coisas novas nas
antigas, e de antigas nas novas. Assim, a vida é sempre coisa nova”.
“Sem coragem jamais poderemos atingir a verdadeira
simplicidade”.
“Minha esperança está no que os olhos nunca
viram. Portanto, não me deixeis confiar nas recompensas vivíveis. Minha esperança
está naquilo que o coração não pode sentir. (...) Minha esperança está naquilo em
que a mão do homem jamais tocou”.
“Para espiritualizar nossos desejos,
desejemos não ter desejos”.
“Ideias e palavras não constituem o
alimento da inteligência, mas sim a verdade”.
“A solução do problema da vida é a própria
vida. Não se realiza a vida pelo raciocínio e a análise, mas antes de tudo,
vivendo”.
“Amar
a solidão e procurá-la não significa transportar-se de uma possibilidade geográfica
a outra. Torna-se alguém solitário no momento em que, seja qual for seu
ambiente externo, toma, de repente, consciência de sua própria e inalienável
solidão e compreende que jamais será outra coisa senão em solitário. Desde esse
momento, solidão não é apenas potencial – é atual.
Todavia, a solidão real sempre nos coloca
concretamente na presença de uma possibilidade não realizada e até irrealizável
de “perfeita solidão”. Mas isso tem que ser bem compreendido; pois perdemos a
realidade da solidão que já possuímos, se tentarmos com demasiada ansiedade realizar
a possibilidade exterior maior, que nos parece, por um nada, fora de nosso
alcance. A verdadeira solidão tem como um dos pontos integrantes a insatisfação
e incerteza que nos vem do fato de estarmos em face de uma possibilidade não
realizada. Não é uma busca frenética de possibilidades - e sim uma humilde aceitação
que nos estabiliza em presença de uma enorme realidade que, em certo sentido,
já possuímos, e que, por outro lado, é uma “possibilidade”, um objetivo de
esperança.
Só quando o solitário morre e vai para o céu
(ou chega até à Luz de Deus – parênteses é meu), é que vê com clareza que essa
possibilidade já estava atualizada em sua vida e ele não o sabia – pois sua
solidão consistia, sobretudo, na “possibilidade” de possuir Deus (a Luz da
Consciência em sua totalidade) e nada mais senão Deus, em sua pura esperança”.
“As palavras estão colocadas entre silêncio
e silêncio; entre o silêncio das coisas e o silêncio de nosso próprio ser.
Entre o silêncio do mundo e o silêncio de Deus”.
“Não é falar que rompe nosso silêncio, mas
a ansiedade de ser ouvido”.
“Toda nossa vida é uma meditação sobre
nossa decisão final – a única que importa”.
“O solitário é alguém que tomou uma decisão
tão forte que pode ser provada pelo deserto, isto é, pela morte”.
“O solitário é necessariamente alguém que
faz aquilo que quer. Em realidade, nada mais tem a fazer senão isso” - (segue
sua própria consciência).
“O Solitário deve ser alguém que tenha a
coragem de fazer, neste mundo, aquilo que mais tem vontade de fazer – viver em
solidão.
“Deveria eu ser capaz de voltar cada vez à
solidão como ao lugar que jamais descrevi a ninguém, ao lugar ao qual nunca
convidei alguém a ver, como um lugar cujo silêncio acalentou uma vida interior
conhecida unicamente por Deus”.
Martha Pires
Ferreira, 8 de fevereiro de 2020.
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