terça-feira, 8 de outubro de 2019

Árvores _ Coisas que nos encantam


                         Coisas que nos encantam
                                            Martha Pires Ferreira* 
                                 - Momento em Revista – 1989

       Símbolo sagrado, símbolo da vida, a Árvore pertence à tríplice estrutura do Cosmo - seus galhos atingem o espaço celeste, uraniano, indicador de fertilidade e fecundidade, voltados para a luminosidade dos céus, seus troncos e ramos perpassam a face da Terra e suas raízes se fundem no mundo chtoniano, subterrâneo, cheio de terror e imprevistos que se escondem no abismo. O que explica a sua multiplicidade simbólica - via de comunicação vivente. Une o mundo luminoso da consciência às sombras mais profundas e obscuras do inconsciente.
      A Árvore é a própria imagem do cosmo vivendo em perpétua regenerescência e evolução ascensional. Elo vivo entre os dois opostos - yang e yin.
      A Árvore é a imagem do ser humano. Para os antigos, quando não existia qualquer divisão entre o ser humano, os animais e a flora, toda a natureza fazia parte da totalidade da criação.
A árvore da vida, gravura Ricius Potae Lucis, 1516
      Os livros maiores a expressam com reverência. No judaísmo e no cristianismo é a via do espírito. Abraham plantou uma Árvore em honra a Deus (Gên.21,23). No Apocalipse (22,2) São João refere-se à Árvore como imagem - “Árvore da Vida, que produz doze frutos, dando cada mês um fruto, servindo as folhas das árvores para curar as nações”.
       A Árvore Kien-mou na China representa o centro do mundo. Na Índia, às sombras da Árvore Bodhi o Buda atingiu a iluminação. Os tratados alquímicos nos falam da Árvore Filosófica. Os textos védicos se referem à Árvore reversa, com sua copa iluminada fertilizando a terra. Na Antiguidade o firmamento representava os frutos da Árvore cósmica.
    A Árvore demarca os limites do sagrado e do profano. O espaço que lhe foi preservado na Terra faz a magnitude que constitui a Floresta - um templo, um verdadeiro santuário. Com as organizações sociais fomos, aos poucos, nos afastando da grandeza que a define como Áxe/eixo do mundo (ideia de 4 a 3 mil anos a.C.).
Parque das Ruinas _ Santa Teresa
    Campo de Santana
     Com o avanço da racionalização, do conhecimento científico e organizações codificadas, acrescida pela onipotência do progresso tecnológico e da engenharia genética, deslocamos nossas existências. Dicotomizados nos desviamos da Mãe-Natureza para criarmos templos de pedra em cimento armado. Agora, na contemporaneidade pós-moderna, avançando para o terceiro milênio, fizemos das instituições e poderes bancários nossa casa de orações - onde o sagrado não tem espaço.
        Retornar nossas atenções essencialmente intuitivas para a magnitude da Floresta é religarmos os laços que nos unem aos céus. É vivenciar o ritual de passagem que nos falam os Contos de Fada, repletos de sabedoria e encantamento. Reencontrarmos a Floresta é resgatarmos a Anima Mundi aprisionada nas profundezas da matéria. As Árvores - as florestas - simbolizam a energia vital da Terra, ela mesma. Elas são o nosso oxigênio. Destruí-las é genocídio e suicídio para toda humanidade.
        No Brasil temos o orgulho de possuir a mais bela floresta do mundo, a Amazônia, ameaçada pela ganância do poder econômico e político. Defendê-la é preservar nossos laços íntimos com a plenitude da vida - a Grande Mãe Natureza. 
*artista plástica e astróloga.
_ Texto na íntegra -  o negrito é atual.

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