Coisas que nos encantam
Martha Pires Ferreira*
- Momento em Revista –
1989
Símbolo sagrado, símbolo da vida, a
Árvore pertence à tríplice estrutura do Cosmo - seus galhos atingem o espaço
celeste, uraniano, indicador de fertilidade e fecundidade, voltados para a
luminosidade dos céus, seus troncos e ramos perpassam a face da Terra e suas
raízes se fundem no mundo chtoniano, subterrâneo, cheio de terror e imprevistos
que se escondem no abismo. O que explica a sua multiplicidade simbólica - via de comunicação
vivente. Une o mundo luminoso da consciência às sombras mais profundas e
obscuras do inconsciente.
A Árvore é a própria imagem do cosmo
vivendo em perpétua regenerescência e evolução ascensional. Elo vivo entre os
dois opostos - yang e yin.
A Árvore é a imagem do ser humano. Para
os antigos, quando não existia qualquer divisão entre o ser humano, os animais
e a flora, toda a natureza fazia parte da totalidade da criação.
Os livros maiores a expressam com
reverência. No judaísmo e no cristianismo é a via do espírito. Abraham plantou
uma Árvore em honra a Deus (Gên.21,23). No Apocalipse (22,2) São João refere-se
à Árvore como imagem - “Árvore da Vida, que produz doze frutos, dando cada mês
um fruto, servindo as folhas das árvores para curar as nações”.
A Árvore Kien-mou na China representa o
centro do mundo. Na Índia, às sombras da Árvore Bodhi o Buda atingiu a
iluminação. Os tratados alquímicos nos falam da Árvore Filosófica. Os textos
védicos se referem à Árvore reversa, com sua copa iluminada fertilizando a
terra. Na Antiguidade o firmamento representava os frutos da Árvore cósmica.
A Árvore demarca os limites do sagrado e
do profano. O espaço que lhe foi preservado na Terra faz a magnitude que
constitui a Floresta - um templo, um verdadeiro santuário. Com as organizações
sociais fomos, aos poucos, nos afastando da grandeza que a define como Áxe/eixo do
mundo (ideia de 4 a 3 mil anos a.C.).
Parque das Ruinas _ Santa Teresa
Campo de Santana
Com o avanço da racionalização, do
conhecimento científico e organizações codificadas, acrescida pela onipotência
do progresso tecnológico e da engenharia genética, deslocamos nossas
existências. Dicotomizados nos desviamos da Mãe-Natureza para criarmos templos
de pedra em cimento armado. Agora, na contemporaneidade pós-moderna, avançando
para o terceiro milênio, fizemos das instituições e poderes bancários nossa
casa de orações - onde o sagrado não tem espaço.
Retornar nossas atenções essencialmente
intuitivas para a magnitude da Floresta é religarmos os laços que nos unem aos
céus. É vivenciar o ritual de passagem que nos falam os Contos de Fada,
repletos de sabedoria e encantamento. Reencontrarmos a Floresta é resgatarmos a
Anima Mundi aprisionada nas profundezas da matéria. As Árvores - as florestas -
simbolizam a energia vital da Terra, ela mesma. Elas são o nosso oxigênio.
Destruí-las é genocídio e suicídio para toda humanidade.
No Brasil temos o orgulho de possuir a
mais bela floresta do mundo, a Amazônia, ameaçada pela ganância do poder
econômico e político. Defendê-la é preservar nossos laços íntimos com a
plenitude da vida - a Grande Mãe Natureza.
*artista plástica e astróloga.
_ Texto na íntegra - o negrito é atual.
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