Tenho passado algumas
horas com os deuses – os deuses das muitas mitologias. Prefiro, neste momento, procurar gregos/romanos;
Zeus/Júpiter, altivo, me promete ambrosias quando conquistar todo o Olimpo - visando o Planeta Terra. Por
ser um exímio sedutor não perde a chance de agradar para ter bons aliados. Percebi
logo que não consegue reter a potência de sua ira com a degradação dos
princípios da justiça, a Lei. E, se mantem firme ao organizar-se para
confrontar o rígido e estratificado Cronos/Saturno que em nada quer ceder, e, se
faz dono do Tempo inexaurível. Não será nada fácil o embate, a batalha entre os
deuses, para se obter nova ordem no Universo - o desafio será imenso como
tantos outros. Depois de delongas, impensáveis, me retiro e desço cuidadosa ao reino
dos mortos/infernos, bem junto à entrada do submundo para estar, sem receios, a
conversar com Hades/Plutão. Encontrei-o sereno em seu trono negro, cor de carvão
em brasas, como suas vestes requintadas; poder grandioso e alheio às
controvérsias dos mortais que se agitam inquietos como folhas de bananeiras em períodos
de ventania ou bambuzal em beira do abismo. Plutão nada teme, nada quer, nem
almeja. Tudo possui; o Tártaro, Campo das Danações de um lado e a Terra dos Bem-Aventurados
- Campos Elísios do outro! Sabe que cada fato/acontecimento tem o seu tempo de
nascimento, floração, maturação natural, declínio, putrefação e renovada floração.
Senhor absoluto do mundo subterrâneo determina a regeneração das espécies por continuada ressurreição. Chegou a me comunicar que a Humanidade está em processo de purgação
essencial para novos níveis do estado de ser, do sendo existencial. O que, na
verdade, não compreendi bem. Não apontou certezas, mas me garantiu que toda
incerteza se aflora das profundezas abissais, sem nome, para resplandecer noutros
paradigmas. Sou ouvido em plena apreensão sensível, humilde em minha
ignorância, apenas observando silenciosa. Continuo minhas jornadas nestes
terrenos insondáveis, nada prometo, embora pense em transmitir o que dos
espaços, sem limites, pontuo sinalizações. Levo comigo um amigo; Hermes/Mercúrio
para me ajudar nas anotações necessárias. Por certa proteção me coloco distante
das questões do relativo, não por defesa, mas para poder pousar meus frágeis
ombros no Todo absoluto, sem dimensões, sem conceitos ou lógicas formais. Tudo
renascerá a seu tempo. Aguardo, na quietude da contemplação, a magnitude
do Sol da Consciência que não pode irradiar luminosidade com um simples riscar
de fósforo.
Martha Pires Ferreira, manhã de 19 de setembro de 2019.
Plutão _ rapto de Perséfone (museu Borghese), a deusa da agricultura, da fertilidade, das estações do ano, das flores e frutos, das ervas e perfumes.
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