quinta-feira, 11 de julho de 2019

Liberdade de escrever – sexualidade e espiritualidade


        Falar da sexualidade é falar da beleza da vida.
     A abordagem da sexualidade aqui se faz em razão da onda de hipocrisia, revestida de preconceitos moralistas, em torno deste assunto; o corpo, desejos e anseios físicos da natureza orgânica, que explodem em flor e frutos na adolescência, juventude e se estendem pela maturidade até sua serenidade, suavidade, na idade avançada, se bem canalizada e vivida.     
     A sexualidade é função sagrada. Não existe separação entre corpo e espírito/alma, ela faz parte essencial de um todo vital. Ela é afrodisíaca sempre que houver amor afetuoso para sustentá-la, vigorosamente. Seu uso inconsequente traz desapontamentos, temores, dissabores e mesmo angústia. A banalização do corpo é estrago, é frustração.
     A sensualidade é outra questão, sutil e delicada, que pode se manifestar em todas as nossas múltiplas percepções sensoriais, pela vida toda, no tempo e espaço. Tudo se interage, naturalmente.
     A ignorância e estreiteza das religiões fundamentalistas, moralistas, estão no fato de dogmatizar e policiar os desejos sexuais, em vez de orientar as pessoas, com tranquilidade, sempre que necessário, em suas funções orgânicas, seus impulsos vitais, sua intensidade criadora.
     Sem liberdade da inteligência é inviável o amor satisfatório em plenitude. A inteligência foca a intenção desejada pelas vias da atração e comando do coração. O anseio amoroso é por si mesmo afrodisíaco.   
    A sexualidade, esta potência, energia atômica, bem canalizada é impulsionadora de criatividade constante; estímulo para agir, produzir, realizar. Esta energia reprimida, negada, atrofiada, em geral, é causa de graves distúrbios, por vezes, degradantes.
     A afetuosidade alimenta as funções orgânicas, as fazendo sadias e vigorosas. Os casais em harmonia, bem realizados, mantêm pelo afeto amoroso o estímulo necessário ao apetite da sexualidade em ternura, prazer intenso e felicidade. A amorosidade pede reciprocidade, trocas pessoais, olho a olhos, pele a pele.
     Não há qualquer erro no uso destas funções orgânicas movidas pelo desejo, pelo instinto da natureza humana-animal. Pode sim, ser desastroso o abuso da sexualidade, pela ansiedade sem limites, a gozos sem consequências. Seu mau uso, em tempo inapropriado, em parcerias vazias, sem o mínimo de troca em valores emocionais, mesmo que passageiras e fortuitas, será sempre ilusória. Uma relação vazia é vazia, pode trazer certo alívio físico momentâneo, mas é fria, e, geralmente decepcionante. É importante haver algo de impulsionador no emocional, algo de afetivo nas atrações. O afeto pela vontade consciente envolve o bem da pessoa. Pontuando; o erro não está no uso da sexualidade, ela é dádiva da natureza, o erro está é no abuso dos instintos sem consciência de sua magnitude e sacralidade.     
     Quem tem sua sexualidade sadia, livre de censuras, sem medo de seus impulsos, sem repressões amargas, e se deixa ser levada pela sensualidade afetuosa e natural, viverá a vida com intensidade e alegria. Certamente, não será uma pessoa que use sua inteligência e vontade para promover guerras, não se alimentará de ódios, vingança ou ofensas plurais, não projetará em outros seus próprios recalques e hipocrisias. Quem está tranquilo com sua sexualidade, seus instintos, na ativa ou não, sabe caminhar e se alimentar da Amorosidade própria contida nesta energia que impulsiona e move nossa existência. E que tantas vezes nos encanta.
     Homens e mulheres, instintivamente, buscam seus pares na ânsia de complementação de opostos, com sede de prazer no que tange a expressão masculina e feminina; percepções internas e realizações dos impulsos vitais.
     A abordagem aqui não se limita a heterossexualidade. Se o ser humano tem opções sexuais em gênero, se a pessoa é homossexual, lésbica ou transexual, para ela tudo é natural, é da sua natureza. Nada a contestar. A sociedade, como um todo, está em processo de amadurecimento e compreensão destas questões vitais. O mundo se abre para outras perspectivas e entendimento do ser humano.
     O que devemos nos ocupar nas orientações sexuais, não são as opções de escolha dos parceiros, parceiras, mas a boa conduta humana, um proceder digno em distanciar-se das banalizações instintivas, explorações degradantes, repressões moralistas, desamor hipócrita, frieza afetiva, ausência de calor humano. E por aí vai.
     Necessário chamar atenção no que diz respeito à realização pessoal em harmonia com a vida cotidiana, obtenção da felicidade por viver corpo e alma num todo Amorizante.
     Existimos porque a sexualidade se fez revelar em nossos pais! Somos frutos da vida, potência da natureza. A vida não pede licença, cria.
      A inseminação artificial é outra questão da fonte da vida. Não cabem aqui explanações sobre os avanços da ciência.
      A castidade, voluntária ou não, é assunto muito pessoal. Pode ser um dom, e raro, quando assim desejada, por escolha, intenções íntimas. Merece respeito. Canalizada por sublimação, para outras funções, geralmente espirituais, como ocorreu com Mahatma Gandhi, são exceções. Aqui, também, não cabe tal abordagem, e, que nem tampouco vamos questionar.  
     Amar, conhecer o corpo. Deixar o corpo amar com arte, vigor e ternura. Sejamos seres humanos, esta é a nossa função. Viver a vida em plenitude! A sexualidade em seu nível mais elevado transborda vida com Amor incondicional, pleno em gozo e beleza criadora!
      Concluo com uma frase de um homem muito sofrido em sua vida sexual, humana - Os cavalos de Octavio Ignácio, SAMII, 1978, RJ - “É a posição que deveria ser. O sujeito tem que dominar o animal pelo espírito e não pela força”.

Martha Pires Ferreira
– Santa Teresa, 18/08/2018, depois do café da manhã, reflexões de uma velha senhora. E revisão em 3 de julho de 2019. 
Dois Amantes Albrecht . Dürer _ bico de pena, nanquim.
Fins séc. XV - Kunsthalle, Hamburgo 
Kitagawa Utamaro _ 1753 - 1808.
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