Falar da sexualidade é falar da beleza da
vida.
A abordagem da sexualidade aqui se faz em
razão da onda de hipocrisia, revestida de preconceitos moralistas, em torno
deste assunto; o corpo, desejos e anseios físicos da natureza orgânica, que
explodem em flor e frutos na adolescência, juventude e se estendem pela
maturidade até sua serenidade, suavidade, na idade avançada, se bem canalizada
e vivida.
A sexualidade é função sagrada. Não existe
separação entre corpo e espírito/alma, ela faz parte essencial de um todo
vital. Ela é afrodisíaca sempre que houver amor afetuoso para sustentá-la,
vigorosamente. Seu uso inconsequente traz desapontamentos, temores, dissabores
e mesmo angústia. A banalização do corpo é estrago, é frustração.
A sensualidade é outra questão, sutil e
delicada, que pode se manifestar em todas as nossas múltiplas percepções
sensoriais, pela vida toda, no tempo e espaço. Tudo se interage, naturalmente.
A
ignorância e estreiteza das religiões fundamentalistas, moralistas, estão no
fato de dogmatizar e policiar os desejos sexuais, em vez de orientar as
pessoas, com tranquilidade, sempre que necessário, em suas funções orgânicas,
seus impulsos vitais, sua intensidade criadora.
Sem liberdade da inteligência é inviável o
amor satisfatório em plenitude. A inteligência foca a intenção desejada pelas
vias da atração e comando do coração. O anseio amoroso é por si mesmo afrodisíaco.
A sexualidade, esta potência, energia atômica,
bem canalizada é impulsionadora de criatividade constante; estímulo para agir,
produzir, realizar. Esta energia reprimida, negada, atrofiada, em geral, é
causa de graves distúrbios, por vezes, degradantes.
A afetuosidade alimenta as funções
orgânicas, as fazendo sadias e vigorosas. Os casais em harmonia, bem
realizados, mantêm pelo afeto amoroso o estímulo necessário ao apetite da
sexualidade em ternura, prazer intenso e felicidade. A amorosidade pede
reciprocidade, trocas pessoais, olho a olhos, pele a pele.
Não há qualquer erro no uso destas funções
orgânicas movidas pelo desejo, pelo instinto da natureza humana-animal. Pode
sim, ser desastroso o abuso da sexualidade, pela ansiedade sem limites, a gozos
sem consequências. Seu mau uso, em tempo inapropriado, em parcerias vazias, sem
o mínimo de troca em valores emocionais, mesmo que passageiras e fortuitas,
será sempre ilusória. Uma relação vazia é vazia, pode trazer certo alívio
físico momentâneo, mas é fria, e, geralmente decepcionante. É importante haver
algo de impulsionador no emocional, algo de afetivo nas atrações. O afeto pela
vontade consciente envolve o bem da pessoa. Pontuando; o erro não está no uso
da sexualidade, ela é dádiva da natureza, o erro está é no abuso dos instintos
sem consciência de sua magnitude e sacralidade.
Quem tem sua sexualidade sadia, livre de
censuras, sem medo de seus impulsos, sem repressões amargas, e se deixa ser levada
pela sensualidade afetuosa e natural, viverá a vida com intensidade e alegria.
Certamente, não será uma pessoa que use sua inteligência e vontade para promover
guerras, não se alimentará de ódios, vingança ou ofensas plurais, não projetará
em outros seus próprios recalques e hipocrisias. Quem está tranquilo com sua
sexualidade, seus instintos, na ativa ou não, sabe caminhar e se alimentar da
Amorosidade própria contida nesta energia que impulsiona e move nossa existência.
E que tantas vezes nos encanta.
Homens e mulheres, instintivamente, buscam
seus pares na ânsia de complementação de opostos, com sede de prazer no que
tange a expressão masculina e feminina; percepções internas e realizações dos
impulsos vitais.
A
abordagem aqui não se limita a heterossexualidade. Se o ser humano tem opções
sexuais em gênero, se a pessoa é homossexual, lésbica ou transexual, para ela tudo
é natural, é da sua natureza. Nada a contestar. A sociedade, como um todo, está
em processo de amadurecimento e compreensão destas questões vitais. O mundo se
abre para outras perspectivas e entendimento do ser humano.
O que
devemos nos ocupar nas orientações sexuais, não são as opções de escolha dos
parceiros, parceiras, mas a boa conduta humana, um proceder digno em distanciar-se
das banalizações instintivas, explorações degradantes, repressões moralistas,
desamor hipócrita, frieza afetiva, ausência de calor humano. E por aí vai.
Necessário
chamar atenção no que diz respeito à realização pessoal em harmonia com a vida cotidiana,
obtenção da felicidade por viver corpo e alma num todo Amorizante.
Existimos
porque a sexualidade se fez revelar em nossos pais! Somos frutos da vida,
potência da natureza. A vida não pede licença, cria.
A inseminação artificial é outra questão da
fonte da vida. Não cabem aqui explanações sobre os avanços da ciência.
A
castidade, voluntária ou não, é assunto muito pessoal. Pode ser um dom, e raro,
quando assim desejada, por escolha, intenções íntimas. Merece respeito. Canalizada
por sublimação, para outras funções, geralmente espirituais, como ocorreu com
Mahatma Gandhi, são exceções. Aqui, também, não cabe tal abordagem, e, que nem
tampouco vamos questionar.
Amar, conhecer o corpo. Deixar o corpo amar
com arte, vigor e ternura. Sejamos seres humanos, esta é a nossa função. Viver
a vida em plenitude! A sexualidade em seu nível mais elevado transborda vida
com Amor incondicional, pleno em gozo e beleza criadora!
Concluo com uma frase de um homem muito
sofrido em sua vida sexual, humana - Os cavalos de Octavio Ignácio, SAMII,
1978, RJ - “É a posição que deveria ser. O sujeito tem que dominar o animal
pelo espírito e não pela força”.
Martha Pires Ferreira
– Santa Teresa,
18/08/2018, depois do café da manhã, reflexões de uma velha senhora. E revisão
em 3 de julho de 2019.
Dois Amantes Albrecht . Dürer _ bico de pena, nanquim.
Fins séc. XV - Kunsthalle, Hamburgo
Kitagawa Utamaro _ 1753 - 1808.
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