quarta-feira, 25 de julho de 2018

A Solidão


     Disse uma vez para mim mesma que nascemos para a solidão. Toda a nossa vida é o peso e a suavidade, ao mesmo tempo, de se caminhar só, de se viver intrinsecamente ligada a tudo, e, cercada de muitos, mas na presença da solidão. Fazendo de conta que não somos sós, fingimos estarmos presentes, não ausente, mesmo que deliberadamente nos colocando presentes ou à margem.
     Escondida no silêncio, que não é ausência de calor e afeto, permanecemos na quietude das coisas á nossa volta e às que nos transcendem ao pensamento. Longe das exterioridades, somos interioridade, segredos, reservas pessoais. Caminhamos na liberdade da solidão. Impossível repassar as percepções mais sutis e, sobretudo aquelas que nos tocam o absoluto tecido de infinitude, na profundeza da alma. Impossível repassar o que vivenciamos no isolamento pessoal mesmo estando com a mente e o coração abertos ás vicissitudes da vida. Na solidão somos tocados pelo vazio, e que pode nos surpreender ao sermos tomados de percepções plenas. Nada, nada se consegue transmitir do âmago, do mais abissal escondido da alma, psique, espírito, essência humana. Coisas nossas intransferíveis. Vivências que mesmo não as querendo secretas, elas se revelam secretas por serem riquezas nossas, intransmissíveis.
     Quem nasceu para a beleza da solidão saberá viver sozinha até o fim. A solidão não carece de afeto, ela é rica em emoções sensíveis. A beleza da solidão não se transmite, é realidade vivida na liberdade pessoal, independente das pessoas e fatos do entorno.
     O visionário vive a dor do mundo em solidão, e, o mesmo no gozo da visão interna de totalidade, unicidade. Intuitivamente se coloca acima e fora de si mesmo, estando em plena atenção, no coração da vida em sentimento, sensação, delicadeza, realidades. Jamais, em verdade, está só. Não é isolamento, é silêncio interior que tudo acolhe afetuosamente. 
- verão de 2018 - martha pires ferreira
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Na liberdade da Solidão  / ed. Vozes, 1961
Frases escolhidas em Thomas Merton (um dos meus grandes mestres de Vida).

“A vida se revela a nós somente na medida em que a vivemos” 
“Pensamento e vida são uma só coisa”. “A solução da vida é a própria vida”. 
“Sabe alguém que encontrou sua vocação, quando cessa de pensar em como viver e começa a viver”. 
“Possuir Aquele que não pode ser compreendido é renunciar a tudo que pode ser compreendido”.     
“O deserto é, portanto, o lugar lógico de habitação para o homem que não procura outra coisa senão ser ele próprio – isto é, uma criatura solitária e pobre, dependendo unicamente de Deus, sem nenhum grande projeto que se interponha entre ele e seu Criador”.    
“As palavras estão colocadas entre silêncio e silêncio; entre o silêncio do mundo e o silêncio de Deus”. 
“Pouco adianta falar aos homens de Deus e de Amor se não são capazes de escutar”.  
“A pobreza significa ter necessidade. Fazer votos de pobreza e nunca passar necessidade, nunca precisar de algo sem logo obtê-lo, é rir-se do Deus Vivo”. 
“Meu conhecimento de mim mesmo no silêncio (não pela reflexão sobre mim mesmo, mas pela penetração até o mistério de meu verdadeiro ser, que está além de palavras e de conceitos, porque é totalmente pessoal) se abre no silêncio e na ‘subjetividade’ do próprio ser de Deus”.

O Inominável - Sede insaciável de Thomas Merton. Mas Quem é Deus? Eu mesma me pergunto e me respondo ser o Todo, o tudo da Vida, que nos transcende, que a inteligência e/ou a sensibilidade não alcança, mas apreende em plenitude no silêncio, na liberdade da solidão interior.
Ed. de 2001
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--  postagem Martha Pires Ferreira

2 comentários:

Unknown disse...

Lendo você, com carinho e admiração por tudo que você é.

Martha Pires Ferreira disse...

A letra diminuiu (?) coisas do Blog
Seja você quem for, leitor/a, meu afeto pela sensibilidade e acolhimento.