Disse uma vez para mim mesma que nascemos
para a solidão. Toda a nossa vida é o peso e a suavidade, ao mesmo tempo, de se
caminhar só, de se viver intrinsecamente ligada a tudo, e, cercada de muitos,
mas na presença da solidão. Fazendo de conta que não somos sós, fingimos estarmos
presentes, não ausente, mesmo que deliberadamente nos colocando presentes ou à
margem.
Escondida no silêncio, que não é ausência
de calor e afeto, permanecemos na quietude das coisas á nossa volta e às que nos
transcendem ao pensamento. Longe das exterioridades, somos interioridade, segredos,
reservas pessoais. Caminhamos na liberdade da solidão. Impossível repassar as
percepções mais sutis e, sobretudo aquelas que nos tocam o absoluto tecido de infinitude,
na profundeza da alma. Impossível repassar o que vivenciamos no isolamento
pessoal mesmo estando com a mente e o coração abertos ás vicissitudes da vida. Na
solidão somos tocados pelo vazio, e que pode nos surpreender ao sermos tomados
de percepções plenas. Nada, nada se consegue transmitir do âmago, do mais
abissal escondido da alma, psique, espírito, essência humana. Coisas nossas
intransferíveis. Vivências que mesmo não as querendo secretas, elas se revelam
secretas por serem riquezas nossas, intransmissíveis.
Quem nasceu para a beleza da solidão saberá
viver sozinha até o fim. A solidão não carece de afeto, ela é rica em emoções
sensíveis. A beleza da solidão não se transmite, é realidade vivida na
liberdade pessoal, independente das pessoas e fatos do entorno.
O visionário vive a dor do mundo em
solidão, e, o mesmo no gozo da visão interna de totalidade, unicidade.
Intuitivamente se coloca acima e fora de si mesmo, estando em plena atenção, no
coração da vida em sentimento, sensação, delicadeza, realidades. Jamais, em
verdade, está só. Não é isolamento, é silêncio interior que tudo acolhe
afetuosamente.
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verão de 2018 - martha pires ferreira
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Na liberdade da
Solidão / ed. Vozes, 1961
Frases escolhidas em
Thomas Merton (um dos meus grandes mestres de Vida).
“A vida se revela a
nós somente na medida em que a vivemos”
“Pensamento e vida
são uma só coisa”. “A solução da vida é a própria vida”.
“Sabe alguém que
encontrou sua vocação, quando cessa de pensar em como viver e começa a viver”.
“Possuir Aquele que
não pode ser compreendido é renunciar a tudo que pode ser compreendido”.
“O deserto é,
portanto, o lugar lógico de habitação para o homem que não procura outra coisa
senão ser ele próprio – isto é, uma criatura solitária e pobre, dependendo
unicamente de Deus, sem nenhum grande projeto que se interponha entre ele e seu
Criador”.
“As palavras estão
colocadas entre silêncio e silêncio; entre o silêncio do mundo e o silêncio de
Deus”.
“Pouco adianta falar
aos homens de Deus e de Amor se não são capazes de escutar”.
“A pobreza significa
ter necessidade. Fazer votos de pobreza e nunca passar necessidade, nunca
precisar de algo sem logo obtê-lo, é rir-se do Deus Vivo”.
“Meu conhecimento de
mim mesmo no silêncio (não pela reflexão sobre mim mesmo, mas pela penetração
até o mistério de meu verdadeiro ser, que está além de palavras e de conceitos,
porque é totalmente pessoal) se abre no silêncio e na ‘subjetividade’ do
próprio ser de Deus”.
O Inominável - Sede insaciável de Thomas Merton. Mas Quem é Deus? Eu mesma me pergunto e me respondo ser o Todo, o tudo da Vida, que
nos transcende, que a inteligência e/ou a sensibilidade não alcança, mas
apreende em plenitude no silêncio, na liberdade da solidão interior.
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-- postagem Martha Pires Ferreira
2 comentários:
Lendo você, com carinho e admiração por tudo que você é.
A letra diminuiu (?) coisas do Blog
Seja você quem for, leitor/a, meu afeto pela sensibilidade e acolhimento.
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