Reflexões leituras – 2017 – Chardin e/ou Thomas Merton?
/ martha pires ferreira
Minha
obsessão pelos grandes da humanidade, suas obras, suas inquietações, suas vidas;
parte da minha caminhada peregrina. Ano passado percorri o pensamento político
da mestra Hannah Arendt, a política de fundo de quintal não interessa, exasperante,
nada nos acrescenta. Bebi em 2016 mais uma vez nas águas cósmicas do profeta e visionário
Theilhard de Chardin, reli suas obras, A
Energia Humana e um livrinho/joia
da filósofa Maryse Choisy – Teilhard e a
Índia. Ganhei de presente de um padre jesuíta / PUC, em razão de um grupo
de leituras e reflexões, a obra do papa Francisco, Amoris Laetitia, polêmico, instigante e fundamental para a
cristandade, hoje. Terminando o ano mergulhei no precioso Bede Griffiths, Rio de Compaixão, comentário cristão ao
Bhagavad Gita. Precioso. O silêncio interior abre portas de percepção.
Penso,
continuarei a ler Chardin? O Fenômeno Humano? Não sei. Interrompi e parei em
Thomas Merton (1915 -1968), arrumando meus livros, atraída por suas obras mais
contundentes. Não suas obras devocionais como Na Liberdade da Solidão
ou Espiritualidade, Contemplação e Paz,
que são ricas e essenciais para a vida espiritual. O que me atrai em Merton,
neste mundo tão conturbado, vazio do sagrado, na boca do abismo em que todos
nós estamos mergulhados, é a ponte que ele fez com as religiões de tradição do
Oriente; seu olhar agudo para com a espiritualidade na China - o Tao/ a via de Chuang Tzu - no Japão - o Zen e as aves de rapina / seu encontro com Suzuki - na Índia - a cultura milenar vedanta - no Budismo
Tibetano, seus encontros com Dalai Lama e sem esquecer-se do Oriente médio, sua
correspondência com sábios mestres do Sufi. Pontos de convergência nos diálogos
entre Ocidente e Oriente. Ainda, me instiga seu interesse pela cultura latina
americana - Hermana América - povos das Américas, tão
relegada e mesmo desprezada por estudiosos.
Tudo
na inquietação de Merton movia do conhecimento da interioridade profunda à vida
prática – a vida de eremita e de amante da natureza. Ébrio do Deus
Desconhecido, não menos angustiado diante das injustiças, guerras, violência e questões
sociais desumanas - tudo uma só realidade. Unia o céu da solidão amorosa à beleza
da matéria, mãe terra - o transcendente aos apelos sociais de toda a
humanidade.
Enquanto
vou juntando estes interesses em comunhão, mais que uma simples comunicação, me
detenho em uma das mais controvertidas de suas obras - Paz na era pós-cristã – livro proibido por seu superior, o abade geral do mosteiro de Gethsemani, em 1962. Este livro proibido de ser editado foi
mimeografado e distribuído clandestinamente naquela ocasião. Somente 42 anos de
sua morte ele foi finalmente publicado – Orbis Books, 2004. Pontualmente relevante, hoje, num mundo em transição
das mais radicais e profundas. Leitura imprescindível aos que lutam pela concórdia,
harmonia entre povos e nações.
– Thomas Merton / Paz na era pós-cristã, Editora Santuário, 2004.
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