Amanhã, dia 30 de dezembro, a Livraria Leonardo da Vinci fecha suas portas para reforma. E reabrirá, esperamos todos, mas com nova direção. Desejo os melhores votos!
Hoje, passei um bom tempo neste espaço sagrado; uma Universidade Livre para mim.
Transcrevo aqui texto de setembro do ano passado.
Nossa Livraria Leonardo da Vinci -
joia maior
A maravilhosa Universidade Livre que é a
Livraria Leonardo da Vinci, no
coração da cidade do Rio de Janeiro, em plena Av. Rio Branco 185, cheia de prédios,
ônibus, metrô, carros e pernas, nos impulsiona, amantes desta Livraria, descer
a espiral - subsolo do Ed. Marques do Herval, e, mergulhar em seu amplo espaço
repleto de livros. Percorrer as estantes, saboreando obras preciosas nos mais
inusitados assuntos e autores. Um instante de conversa com a sábia Dona Vanna e
sua filha Milena Piraccini Duchiade, solicitas, instigantes e atentas a tudo. Cumprimentar
os fiéis funcionários que prontamente nos atentem com sorriso amigo e acolhedor
nos ajudando a garimpar nossos desejos e raridades.
Ali, nossa querida Dona Vanna, Giovanna
Piraccini, permitia que eu, ainda bem jovem, ficasse lendo, folheando,
apreciando as obras literárias ou de arte que nem sempre podia comprar. Sentada
confortável nas cadeiras de couro, antes do incêndio criminoso de 1973, e agora,
nas laranjinhas, igualmente confortáveis do séc. XXI - setembro de 2014 - estou
em casa. Tranquilo e deleite, com música ao fundo, é este espaço de cultura. Nunca
se curvou a big business, permanece
joia maior.
Parece sonho, mas é real, a Livraria Leonardo da Vinci jamais
deixou de me fascinar. Os livros me
atraindo e eu sendo atraída por tudo. Apreciando no canto dos olhos
intelectuais, músicos, cantor de ópera, poetas, filósofos, acadêmicos ou artistas
plásticos percorrendo estantes, comprando, conversando baixinho com nossa Dona
Vanna, com outros habituais, e, saindo. Impossível citar o público chegando de
todos os estados do Brasil e mesmo os frequentadores estrangeiros. Um mundo
inconcebível na minha formação cultural. Ali mesmo me apaixonei mais ainda
pelos saberes múltiplos. Completava exemplo de casa, escola e universidade. Para
mim um modelo de vida que permanece; um núcleo de conhecimento. Repito, a Livraria da Vinci é uma Universidade
Livre.
A intelectual mais próxima de mim a frequentar
a Livraria com assiduidade, com boa dose de paixão, foi a humanista e
psiquiatra Nise da Silveira que sempre aos sábados surgia em companhia da
artista plástica Marlene Hore ou do amigo Marcos Moreira.
Delicioso foi saber por Dona Vanna que o
sofá, no canto de um dos espaços da Livraria chama-se Sofá do Drummond, por ser
onde ele, o poeta Carlos Drummond de Andrade, dava suas entrevistas para poupar
sua casa e se preservar. Fotografei feliz com uma criança espantada.
Nossa doce e amada Livraria Leonardo da Vinci um beijão afetuoso - história viva e
inigualável que se mantém atuante no coração da cidade do Rio de Janeiro,
Brasil. Conhecer a da Vinci é
alegria vital.
Martha Pires Ferreira, uma andarilha
irresistível em mergulhos profundo, rabiscos, leituras e silêncios. (set. 2014)
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