sábado, 20 de agosto de 2011

Pablo Picasso - Flores do Bem

Portrait de Dora Maar - óleo sobre tela, 92 x 65 cm, 1937 - Musée Picasso, Paris


Le Repos - 1917. Col. particular


La femme à la poussete / 1950 - bronze 203 x 145 x 61cm
Musée Picasso, Paris


De Pablo Picasso

Não há quem não queira compreender a arte. Isso me faz estranhar que não se queira compreender, também, o canto dos pássaros. Por que amamos a noite, as flores e toda a beleza que nos rodeia sem ter vontade de analisar-lhes os mistérios?
Quando se trata, de uma obra de arte, todo mundo acha que tem de compreendê-la. Por que?
Deve-s perceber que um artista cria porque tem de criar, porque está possuído pela sua arte. O artista é apenas uma parcela mínima do universo e não deve merecer maior atenção do que as outras coisas da terra que dão beleza, alegria plenitude.
Não posso absolutamente esperar que pessoas que vêem meus quadros experimentem as mesmas emoções que senti. Um quadro chaga até a mim de distâncias e fontes remotas. Seria impossível alguém apreender os sonhos, os instintos e as idéias que me surgiram depois de um grande espaço de tempo e necessitaram de amadurecimento até que encontrassem uma expressão visual. E então como poderia então alguém ler o que realmente procurei dizer e tive de experimentar por vezes contra a minha vontade?
À exceção de muitos poucos artistas que abriram horizontes para as artes, os jovens artistas dão da sua maioria a impressão de não saberem o caminho que querem tomar. Em vez de fazerem uso de suas próprias interpretações, depois, pesquisarem de maneira própria, muitos deles julgam que devem acordar o passado e revivê-lo, justamente num tempo em que todo o vasto mundo está aberto para eles e a espera de ação de novos ideais.
Não se trata apenas do apego medroso ao passado, mas da escravização a velhas formas de arte que já cumpriram a sua missão. Vêem-se hoje numerosos quadros no estilo Fulano ou de Beltrano. O que é realmente raro é encontrar um jovem artista que pinte dentro de seu próprio estilo.
Não sou pessimista. Não combato forma alguma de arte porque não poderia viver sem a arte, sem dar a arte todo o meu tempo.
Amo a arte como a única razão de minha existência. Tudo que fiz em decorrência dela me deu imensa alegria e satisfação. Mas nem por isso encontro qualquer justificativa para que tanta gente no mundo insista em analisar a arte, forjando teorias e interpretações complicadas e teimando em dar largas ao seu analfabetismo artístico.

[ Meus arquivos -artigos / coporight B. P. Singer Features / 1972]

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