Recebi este texto, abaixo, de um amigo _ Mario de França Miranda _ Homilia do domingo dia 16 de maio, último. Escrita de forma simples e coloquial, palavras profundas e acalentadoras para este momento da travessia.
Jo 15, 9-17 (amor ao próximo)
No Evangelho deste domingo São João sintetiza de modo
brilhante o que foi a vida de Jesus Cristo e o que deve ser a vida do cristão.
Ele vai ao núcleo do que caracteriza
um autêntico discípulo de Jesus Cristo. Confrontado com este núcleo, tudo o que
a Igreja nos oferece para nossa caminhada neste mundo, a saber, ensinamentos,
normas, celebrações, só têm sentido se nos ajudam a viver realmente o amor ao
próximo. Pois o próprio culto a Deus se esvazia quando privado da caridade (Mt
5, 23s), sem falar que ela constitui o critério decisivo para nossa salvação
(Mt 25, 31-46). Uma verdade bastante clara para qualquer cristão consciente de
sua fé, mas que experimenta enorme dificuldade em torná-la realidade em seu dia
a dia devido a vários fatores.
A começar pela sociedade
atual agitada por transformações rápidas e sucessivas que geram
instabilidade e medo com relação ao futuro, levando-nos a buscar ansiosamente
seguranças que nos acalmem, vendo nos demais meros concorrentes que disputam as
mesmas e limitadas oportunidades. Além disso, estamos hoje dominados por um
individualismo de cunho cultural que busca garantia econômica e satisfação
imediata de prazeres. Com isso diminui a atenção ao bem comum, ao cuidado com
os demais, aos gestos realmente gratuitos para os menos favorecidos. Paira uma
indiferença generalizada com relação ao sofrimento alheio. Triste
característica cultural que não só atinge indivíduos, mas também nações como
constatamos hoje com a recusa em acolher refugiados ou com a resistência das
grandes indústrias farmacêuticas em aceitar a quebra de patente das vacinas.
Outra dificuldade provém do próprio termo, já que amor hoje recebe em geral uma compreensão limitada à
dimensão afetiva ou sexual, enquadrada numa perspectiva individualista ou
hedonista. Trata-se de um vocábulo bastante gasto e impreciso. Deste modo a
característica principal do ser humano que é a sua liberdade mal aparece. Pois
amor implica uma opção livre,
desinteressada, gratuita, que busca o bem do outro. Significa procurar fazer
feliz o outro e não buscar o outro para alcançar sua própria felicidade (Mt 5,
46).
Como temos a tendência de nos fazermos o centro de tudo, de buscarmos nossas próprias satisfações, de eliminarmos nossas inseguranças, de lutarmos para sobreviver numa sociedade de forte concorrência, de realizarmos nossos sonhos, de tudo olhar numa ótica egocêntrica, consequentemente a vivência da caridade sem dúvida implicará renúncia a esta tendência. Portanto, amar exige morrer um pouco para si mesmo, para seus próprios interesses. Também significa sair de sua zona de conforto em benefício do outro, se desinstalar de seus hábitos e comodidades, o que realmente não é nada fácil.
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