quinta-feira, 11 de junho de 2020

O que é Contemplação? / Vida _ interioridade

                            Martha Pires Ferreira _13/10/1982 / tempo de sombra /Brasil _ correções breves sem mexer no texto _ junho, 2020. 

Contemplação não é apenas um estado do ser a vivenciar a interioridade é o despertar da consciência viva de que toda a natureza procede de uma fonte, transcendente e infinitamente abundante, inalcançável, que apreendemos mais que pela simples intuição.
A Contemplação é a apreensão sensível e consciente de que tudo emerge de um princípio gerador de energia; unicidade criadora. A Contemplação é a compreensão clara de que todo o SER criado pertence à Totalidade, que está acima de todo o entendimento racional. Sem dúvida “a Contemplação é a mais alta expressão da vida intelectual e espiritual do ser humano”, dizia Thomas Merton. É a sintonia harmoniosa com o núcleo essencial da existência. É beber na Fonte da Vida. É assimilar o não dividido, experienciar o conhecimento da não dualidade de forma obscura, de maneira inexplicável e imperceptível à razão. Uma espécie de visão espiritual que por natureza todo ser humano procura, aspira, inconscientemente.
A Contemplação nos aproxima de verdades que não podem ser transmitidas por palavras, imagens ou mesmo qualquer outra forma de conceito. Transcende a definições. Qualquer elaboração racional, explicativa para dizer o que é a Contemplação esvazia o seu significado. Podemos apontar o que seja a Contemplação, jamais explicá-la. A vida contemplativa não é vida mental, nem de sensações. Não pode racionalmente ser abordada por conceitos por ser pura experiência interna; liberdade interna. Ela surge independente de nossa percepção consciente. Importante é estar atenta a esta tomada de consciência, desta liberdade extraordinária que brota do núcleo da vida, e que é possível de ser apreendida por todo ser humano.
O exercício da Contemplação pode ser sugerido por palavras, símbolos, sinalizações, mas no próprio momento em que se procura indicar, apontar, o que se sabe a seu respeito, o ser contemplativo retira o que disse e nega o que afirmou; assim agiam os sábios da Antiguidade oriental _ é algo intransmissível. O contemplativo age como com um koan – zen; afirma e nega; para abstrair a verdade pura. Conhece não conhecendo. Sabe sem saber.
A Contemplação é conhecer a verdade além do conhecimento. Nada pode expressar objetivamente sobre este Saber. A capacidade de contemplar é um dom. De certa forma não depende de nós, nos disponibilizamos, é um trabalho oculto, misterioso da criação despertando em nós a consciência do absoluto. É dom da graça.
A poesia, a música, a yoga, a meditação, as artes e mesmo a ciência em geral, tem algo com a experiência contemplativa. O exercício criativo das artes nos leva à Contemplação, ao estado de plenitude do Ser, que ao atuar é, ao mesmo, tempo atuado. Estando além do domínio do corpo é a união de opostos; matéria e espírito, terra e céu, o micro e o macro.
Vivenciar a Contemplação é ultrapassar a estética das artes, é ir além de qualquer premissa especulativa; vai além do nosso conhecimento, nosso saber, nosso discursar de ideias. É um apontar. O Taoismo aponta – o vazio; diz, apenas, que o vazio tudo contém. É o caminho do Tao, a Via que vai nos esclarecer o que contém este vazio.  
É contemplando que se apreende o significado e importância real da Contemplação. É contemplando que se é contemplado.           Podemos apontar dizendo que contemplar e simplesmente viver a vida; o viver naturalmente. A vida é um fato e qualquer explicação do que seja a vida é desnecessária, assim a Contemplação que não se apoia em valores formais do bem e do mal, do certo e do errado, da virtude ou do vício; não questiona, é inteira por si mesma. A vida é revelação diária. Basta viver conscientemente o nosso caminho, a nossa via para atingirmos o estado de Contemplação.
Contemplar não é alienar-se. Sentar-se e ficar quieta com o olhar vago e perdido nu, ponto ou direção, nada tem a ver com a Contemplação. Ela é mais do que a simples atenção ou estado de reflexão; ultrapassa todos os modos de ser. É observação sensível, sem interferência do intelecto. É mais do que intuição, porque intuir é função ativa da mente.
Contemplar é Ver sem Ver. É pura sutileza da alma apreendida em silêncio, no silêncio interior. O silêncio externo ajuda e cria condições próprias para se apreender a visão, experiência interna, que aflora das profundezas de cada ser humano. Os barulhos externos impedem que se escute a voz que emerge de dentro. Todos nós nascemos para bebermos na Fonte da Vida, onde qualquer um pode chegar, incondicionalmente, entretanto, somente aqueles que enfrentam os conflitos internos, as lutas e crises existenciais mais agudas, no que existe de mais contraditório, podem estar abertos para o despertar espiritual mais profundo e elevado.
O estado de Contemplação é um estado de plenitude, mas a passagem que nos leva a este nível mais elevado é sempre vivida por momentos de asperezas e situações tempestuosas, que por vezes, sangra. 
Somos seres frágeis, inseguros e instáveis, por isso em muitas situações regredimos, recuamos e nos tornamos inferiores necessitando de novos impulsos para a evolução, para avançar níveis mais altos de consciência e existência. Assim procede o fluxo energético, um constante convite para a evolução contínua.
Quando atingimos estados mais altos e mesmo sabemos viver na insegurança, somos capazes de resultados externos mais significativos, estáveis, por tanto, mais seguros, por consequência de nossa caminhada espinhosa, interna. Por resultado consequente obras surgem no mundo, mesmo que não percebidas por terceiros. Pode ser um fazer silencioso e produtivo. Como não existe nada de mais íntimo do que a sua vontade, somente ela, a vontade imperiosa, moverá a necessidade vital nesta tomada de consciência da totalidade que é a Vida. A atitude consciente diante de um objetivo é sempre movida pela vontade.
Viver sem esta consciência iluminada de que a vida é Totalidade, de que nada existe além da forma, conceitos, desejos, divisões, conflitos, paradoxos é viver como um miserável carregador de pedras, numa eterna sensação de peso, de carência e de tragédia, e, contínuas ilusões, decepções e frustrações. Viver sem a consciência da grandeza da vida é um peso incompreensível do significado maior da vida. Cada um de nós é um mundo, um Todo. A Contemplação é o estado interno de compreensão dos maiores valores da vida.
A civilização atual está em pleno estado de decadência, dissolução e morte (estávamos em 1982). Todos os valores são contestados, negados. Vivemos na escuridão do mundo; nada a nos oferecer segurança; horizonte. É um tempo de Sol poente – precisamos saber atravessar a noite dos sentidos como no processo Alquímico, transformador – é na escuridão que o Opus, a Obra, se faz. É das cinzas que nasce a sabedoria. É da morte dos valores existentes, sem mais suportes consistentes, que ressurgirá, ressuscitará, a Vida renovada. O futuro da humanidade.
Hoje, presenciamos, todos juntos, o processo civilizatório deteriorar-se por si mesmo. Não adianta ocuparmos nosso tempo culpando terceiros por um mundo que não está dando certo; projetando emoções desgastantes num sistema de vida já corrompido. “Um Mundo Novo necessita de raízes novas”, dizia Henry Miller. Estamos perplexos diante do mundo atual, mas temos que ser Heróis. Precisamos adquirir o exercício do silêncio interno que, irrevogavelmente, nos apontará a saída, o horizonte, o verdadeiro sentido da existência humana; seus valores sociais dignos, a certeza de um mundo Novo e Belo.
Não se trata de se alienar dos sofrimentos do mundo; quando se ama o mundo sofre-se com o mundo. Necessário, sim, é se defender das ilusões de um mundo dividido, cruel, desgraçado por ser tão desumano. Acompanhar o processo do mundo, mas atentos ao exercício dos valores internos em fidelidade íntima para com a Vida. Tarefa dificílima e tremenda, mas a única, talvez, capaz de libertarmos o mundo da sua miséria, já que somos nós mesmos a nos libertarmos de nossa própria miséria social. Precisamos acreditar que somos capazes de salvar o mundo – nosso mundo pessoal, e, consequentemente, o mundo coletivo. Utopias são necessárias! Retirar-se para dentro de si é retomar energias e encontrar a fonte da Vida, a razão da luta pela Vida.
O Fogo criador que nos aquece, a Mãe Terra com o alimento natural que em abundância nos oferece o Ar que respiramos e semeia as novas mensagens de Vida, a Água purificadora das fontes e irrigadora, o Éter que se expande nas atmosferas impensáveis – verdadeiras Alegrias da existência! Precisamos retornar à Fonte Primordial para renovarmos a face da Terra cansada e reencantarmos a beleza da Vida.
Contemplação é beber na Fonte em estado de Amor Humano, é trazer à tona o significado pleno da Vida. 

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Um comentário:

Martha Pires Ferreira disse...

Algum problema que torna-se impossível fazer pequenas correções no texto. Esta nova versão está difícil, ou interferências que impedem escrever.