Martha Pires
Ferreira _13/10/1982 / tempo de sombra /Brasil _ correções breves sem mexer no texto
_ junho, 2020.
Contemplação não é apenas um estado do ser a vivenciar a
interioridade é o despertar da consciência viva de que toda a natureza procede
de uma fonte, transcendente e infinitamente abundante, inalcançável, que
apreendemos mais que pela simples intuição.
A Contemplação é a apreensão sensível e consciente de que tudo
emerge de um princípio gerador de energia; unicidade criadora. A Contemplação é
a compreensão clara de que todo o SER criado pertence à Totalidade, que está
acima de todo o entendimento racional. Sem dúvida “a Contemplação é a mais alta
expressão da vida intelectual e espiritual do ser humano”, dizia Thomas Merton.
É a sintonia harmoniosa com o núcleo essencial da existência. É beber na Fonte
da Vida. É assimilar o não dividido, experienciar o conhecimento da não
dualidade de forma obscura, de maneira inexplicável e imperceptível à razão.
Uma espécie de visão espiritual que por natureza todo ser humano procura,
aspira, inconscientemente.
A Contemplação nos aproxima de verdades que não podem ser
transmitidas por palavras, imagens ou mesmo qualquer outra forma de conceito.
Transcende a definições. Qualquer elaboração racional, explicativa para dizer o
que é a Contemplação esvazia o seu significado. Podemos apontar o que seja a Contemplação,
jamais explicá-la. A vida contemplativa não é vida mental, nem de sensações.
Não pode racionalmente ser abordada por conceitos por ser pura experiência
interna; liberdade interna. Ela surge independente de nossa percepção
consciente. Importante é estar atenta a esta tomada de consciência, desta liberdade
extraordinária que brota do núcleo da vida, e que é possível de ser apreendida
por todo ser humano.
O exercício da Contemplação pode ser sugerido por palavras,
símbolos, sinalizações, mas no próprio momento em que se procura indicar,
apontar, o que se sabe a seu respeito, o ser contemplativo retira o que disse e
nega o que afirmou; assim agiam os sábios da Antiguidade oriental _ é algo
intransmissível. O contemplativo age como com um koan – zen; afirma e nega;
para abstrair a verdade pura. Conhece não conhecendo. Sabe sem saber.
A Contemplação é conhecer a verdade além do conhecimento. Nada pode
expressar objetivamente sobre este Saber. A capacidade de contemplar é um dom.
De certa forma não depende de nós, nos disponibilizamos, é um trabalho oculto,
misterioso da criação despertando em nós a consciência do absoluto. É dom da
graça.
A poesia, a música, a yoga, a meditação, as artes e mesmo a ciência
em geral, tem algo com a experiência contemplativa. O exercício criativo das
artes nos leva à Contemplação, ao estado de plenitude do Ser, que ao atuar é,
ao mesmo, tempo atuado. Estando além do domínio do corpo é a união de opostos;
matéria e espírito, terra e céu, o micro e o macro.
Vivenciar a Contemplação é ultrapassar a estética das artes, é ir
além de qualquer premissa especulativa; vai além do nosso conhecimento, nosso
saber, nosso discursar de ideias. É um apontar. O Taoismo aponta – o vazio;
diz, apenas, que o vazio tudo contém. É o caminho do Tao, a Via que vai nos
esclarecer o que contém este vazio.
É contemplando que se apreende o significado e importância real da Contemplação.
É contemplando que se é contemplado. Podemos
apontar dizendo que contemplar e simplesmente viver a vida; o viver
naturalmente. A vida é um fato e qualquer explicação do que seja a vida é
desnecessária, assim a Contemplação que não se apoia em valores formais do bem e
do mal, do certo e do errado, da virtude ou do vício; não questiona, é inteira
por si mesma. A vida é revelação diária. Basta viver conscientemente o nosso
caminho, a nossa via para atingirmos o estado de Contemplação.
Contemplar não é alienar-se. Sentar-se e ficar quieta com o olhar
vago e perdido nu, ponto ou direção, nada tem a ver com a Contemplação. Ela é
mais do que a simples atenção ou estado de reflexão; ultrapassa todos os modos
de ser. É observação sensível, sem interferência do intelecto. É mais do que
intuição, porque intuir é função ativa da mente.
Contemplar é Ver sem Ver. É pura sutileza da alma apreendida em
silêncio, no silêncio interior. O silêncio externo ajuda e cria condições
próprias para se apreender a visão, experiência interna, que aflora das
profundezas de cada ser humano. Os barulhos externos impedem que se escute a
voz que emerge de dentro. Todos nós nascemos para bebermos na Fonte da Vida,
onde qualquer um pode chegar, incondicionalmente, entretanto, somente aqueles que
enfrentam os conflitos internos, as lutas e crises existenciais mais agudas, no
que existe de mais contraditório, podem estar abertos para o despertar
espiritual mais profundo e elevado.
O estado de Contemplação é um estado de plenitude, mas a passagem
que nos leva a este nível mais elevado é sempre vivida por momentos de asperezas
e situações tempestuosas, que por vezes, sangra.
Somos seres frágeis, inseguros e instáveis, por isso em muitas
situações regredimos, recuamos e nos tornamos inferiores necessitando de novos
impulsos para a evolução, para avançar níveis mais altos de consciência e
existência. Assim procede o fluxo energético, um constante convite para a
evolução contínua.
Quando atingimos estados mais altos e mesmo sabemos viver na
insegurança, somos capazes de resultados externos mais significativos,
estáveis, por tanto, mais seguros, por consequência de nossa caminhada
espinhosa, interna. Por resultado consequente obras surgem no mundo, mesmo que não
percebidas por terceiros. Pode ser um fazer silencioso e produtivo. Como não
existe nada de mais íntimo do que a sua vontade, somente ela, a vontade
imperiosa, moverá a necessidade vital nesta tomada de consciência da totalidade
que é a Vida. A atitude consciente diante de um objetivo é sempre movida pela
vontade.
Viver sem esta consciência iluminada de que a vida é Totalidade, de
que nada existe além da forma, conceitos, desejos, divisões, conflitos,
paradoxos é viver como um miserável carregador de pedras, numa eterna sensação
de peso, de carência e de tragédia, e, contínuas ilusões, decepções e
frustrações. Viver sem a consciência da grandeza da vida é um peso
incompreensível do significado maior da vida. Cada um de nós é um mundo, um Todo.
A Contemplação é o estado interno de compreensão dos maiores valores da vida.
A civilização atual está em pleno estado de decadência, dissolução
e morte (estávamos em 1982). Todos os valores são contestados, negados. Vivemos na escuridão do
mundo; nada a nos oferecer segurança; horizonte. É um tempo de Sol poente –
precisamos saber atravessar a noite dos sentidos como no processo Alquímico,
transformador – é na escuridão que o Opus, a Obra, se faz. É das cinzas que
nasce a sabedoria. É da morte dos valores existentes, sem mais suportes
consistentes, que ressurgirá, ressuscitará, a Vida renovada. O futuro da
humanidade.
Hoje, presenciamos, todos juntos, o processo civilizatório
deteriorar-se por si mesmo. Não adianta ocuparmos nosso tempo culpando
terceiros por um mundo que não está dando certo; projetando emoções
desgastantes num sistema de vida já corrompido. “Um Mundo Novo necessita de
raízes novas”, dizia Henry Miller. Estamos perplexos diante do mundo atual, mas
temos que ser Heróis. Precisamos adquirir o exercício do silêncio interno que,
irrevogavelmente, nos apontará a saída, o horizonte, o verdadeiro sentido da
existência humana; seus valores sociais dignos, a certeza de um mundo Novo e
Belo.
Não se trata de se alienar dos sofrimentos do mundo; quando se ama
o mundo sofre-se com o mundo. Necessário, sim, é se defender das ilusões de um
mundo dividido, cruel, desgraçado por ser tão desumano. Acompanhar o processo
do mundo, mas atentos ao exercício dos valores internos em fidelidade íntima
para com a Vida. Tarefa dificílima e tremenda, mas a única, talvez, capaz de
libertarmos o mundo da sua miséria, já que somos nós mesmos a nos libertarmos
de nossa própria miséria social. Precisamos acreditar que somos capazes de
salvar o mundo – nosso mundo pessoal, e, consequentemente, o mundo coletivo.
Utopias são necessárias! Retirar-se para dentro de si é retomar energias e
encontrar a fonte da Vida, a razão da luta pela Vida.
O Fogo criador que nos aquece, a Mãe Terra com o alimento natural
que em abundância nos oferece o Ar que respiramos e semeia as novas mensagens
de Vida, a Água purificadora das fontes e irrigadora, o Éter que se expande nas
atmosferas impensáveis – verdadeiras Alegrias da existência! Precisamos
retornar à Fonte Primordial para renovarmos a face da Terra cansada e reencantarmos
a beleza da Vida.
Contemplação é beber na Fonte em estado de Amor Humano, é trazer à
tona o significado pleno da Vida.
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Um comentário:
Algum problema que torna-se impossível fazer pequenas correções no texto. Esta nova versão está difícil, ou interferências que impedem escrever.
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