Recebi, hoje, um e-mail do querido amigo Leonardo Boff com seu precioso artigo, que em muito me sensibilizou, e sem palavras, pela delicadeza a mim dirigidas.
Querida Marhta,
Aqui vai o artigo sobre o amor, dedicado a vc. Foi para o blog (www.leonardoboff.wordpress.com)
que automaticamente vai
para o meu twitter e no facebook.
Grande abraço meu e de Márcia, com carinho e amor
lboff
A falta que hoje
nos faz: o amor universal e incondicional
Dedicado à pensadora e mestre-astróloga Martha Pires
Ferreira
Vivemos atualmente tempos sombrios de muito ódio e falta de
refinamento. Precisamos resgatar o mais importante e que verdadeiramente nos
humaniza: o simples amor. Estimo que devemos sempre retomar o tema do amor
universal e sem précondições.
Sobre ele se disseram as coisas mais elevadas até o de designar o
nome próprio de Deus. Para superar o discurso, convencional, convém incorporar
a contribuição que nos vem das várias ciências da Terra, da biologia e dos
estudos sobre o processo cosmogênico. Mais e mais fica claro que o amor é um
dado objetivo da realidade global e cósmica, um evento bem-aventurado do
próprio ser das coisas, nas quais nós estamos incluídos.
Dois movimentos, entre outros, presidem o processo cosmogênico:
a necessidade e a espontaneidade.
Por necessidade de sobrevivência todos os seres
são interdepententes e se ajudam uns aos outros. A sinergia e a cooperação de
todos com todos, mais que a seleção natural, constituem as forças mais
fundamentais do universo, especialmente, entre os seres orgânicos. A
solidariedade é mais que um imperativo ético. É a dinâmica objetiva do próprio
cosmos e que explica por que e como chegamos até aqui.
Junto com essa força da necessidade comparece também a espontaneidade.
Os seres se relacionam e interagem espontanemente, por
pura gratuidade e alegria de conviver. Tal relação não responde a uma
necessidade. Ela se instaura por um impulso de criar laços novos, pela afinidade
que emerge espontaneamente e que produz o deleite. É o universo da novidade, da
irrupção de uma virtualidade latente que faz surgir algo maravilhoso e que
torna o universo um sistema aberto. É o advento do amor.
Ele se dá entre todos os seres, desde os primeiros topquarks que se
relacionaram para além da necessidade de criarem campos de força que lhes
garantissem a sobrevivência e o enriquecimento na troca de informações. Muitos
se relacionaram por se sentirem espontaneamente atraídos por
outros e comporem um mundo não necessário, gratuito, mas possível e real.
Desta forma, a força do amor atravessa todos os estágios da
evolução e enlaça todos os seres dando-lhes irradiação e beleza.. Não há razão
que os leve a se comporem em elos de espontaneidade e liberdade. Fazem-no por
puro prazer e por alegria de conviver. Cosmólogos há que afirmam ser o universo
todo colorido e, portanto, extremamente belo.
O amor cósmico realiza o que a mística sempre intuiu: “a rosa não
tem por quê. Ela floresce por florescer. Ela não cuida dela mesma nem se
preocupa se a admiram ou não”. Assim o amor, como a flor, ama por amar e
floresce como fruto de uma relação livre, como entre os enamorados.
Pelo fato de sermos humanos e autoconscientes, podemos fazer do
amor um projeto pessoal e civilizatório: vive-lo conscientemente, criar
condições para que a amorização aconteça entre os seres humanos e com todos os
demais seres da natureza. Podemos nos enamorar de uma estrela distante e fazer
uma história de afeto com ela.Os poetas sabem disso.
O amor é urgente no Brasil e no mundo. Milhares de refugiados são
excluídos e nordestinos, ofendidos. Mais que perguntar quem destila raiva e
intolerância é perguntar por que as praticam. Seguramente porque faltou o amor
como relação que abriga os seres humanos na bela experiência de cada um se
abrir e acolher jovialmente o outro e de se respeitarem mutuamente.
Digamo-lo com todas as palavras: o sistema mundial imperante não
ama as pessoas. Ele ama o dinheiro e os bens materiais; ele ama a força de
trabalho do operário, seus músculos, seu saber, sua produção e sua capacidade
de consumir. Mas ele não ama gratuitamente as pessoas como pessoas, portadoras
de dignidade e de valor.
Pregar o amor e dizer: “amemo-nos uns aos outros como nós mesmos
nos amamos”, significa uma revolução. É ser anti-cultura dominante e contra
o ódio imperante.
Há que se fazer do amor aquilo que o grande florentino, Dante Alignieri,
escreveu no final de cada cântico da Divina Comédia: “o amor que move o céu e
todas as estrelas”; e eu acrescentaria, amor que move nossas vidas, amor que é
o nome sacrossanto do Ser que faz ser tudo o que é.
Leonardo Boff é ecoteólogo, filósofo, escritor e escreveu A
força da ternura, Mar de Ideias, Rio de Janeiro 2012.
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