Reflexões escritas no inverno
de 2012*
martha pires ferreira
Horizontes para com a vida política e
econômica esvaziaram-se, literalmente. A armadilha da globalização, mesmo no
campo das religiões, está em estado de implosão. Os senhores da racionalidade
estão perdidos sem direção. O Arquiteto do Universo deixou nas mãos dos mortais
as próprias responsabilidades e consequências dos seus atos. Somos sujeitos da
história, e, do direito à felicidade paradisíaca. O Panteão dos Deuses é uma
projeção de plenitude inalcançáveis para nós os mortais? Não, para a utopia aquariana.
Os Campos Elísios, Terra dos Bem-Aventurados, se estendem por aqui mesmo, nesse
chão que pisamos, cotidianamente.
Nosso olhar se volta para a
criatividade possível nas várias áreas da comunicação; comportamento libertário
e social, com envolvimento responsável por um mundo pautado nos valores humanos;
solidário e fraterno. De cuidados efetivos para com a qualidade de vida em
todos os níveis da existência. Desafio constante.
Estamos intoxicados de racionalidade,
de saberes, de ciências, de tecnologias de ponta, e miseráveis, famintos, de
qualidade de vida humana.
Somos medíocres, estúpidos, incapazes
de resolvermos questões básicas de felicidade para todos indistintamente, sem
excludências, sem reservas. Estamos na era paleolítica da brutalidade e
insensibilidade para com os espoliados, massacrados, marginalizados, incluindo
a Natureza, Mãe de todas as coisas. A
civilização atual perdeu a direção.
Gostamos de grifes, uísques, carros
blindados, tapetes persas, joias, etc., mas não gostamos de gente.
Hierarquizamos pessoas como produtos de mercadoria. Não nos interessa sermos
adultos e generosos, radicalmente, para com a humanidade, para com as questões
básicas da vida para todos; morar com dignidade, comer bem, ter educação de
qualidade, trabalhar no que se gosta, amar, sorrir. Não foi desperta a sensibilidade para com o
outro. Permanecemos adolescentes imaturos, e, representando papeis teatrais de
fazedores de progressos, indiferentes às crueldades à nossa volta. As máscaras
são múltiplas. Não cuidamos das fontes naturais da vida. Não aprendemos o que
seja alegria genuína de viver em comum. Oportunidades para todos, indistintamente.
A beleza do doar-se.
Só existe uma revolução a ser feita; a
da Ética e Moral; princípios espirituais humanos de responsabilidade para com a
Vida, a Natureza em seu todo; mineral, vegetal e animal. Incluindo os bichos estranhíssimos,
esquisitíssimos, que são o Homem e a Mulher; depredadores capazes de criar
belezas impensáveis no mundo das artes, das ciências e da tecnologia, como a
internet, mas imbecis incapazes de solucionar questões fundamentais de
qualidade de vida com harmonia e bem estar no planeta Terra.
É possível a Era de Ouro da
Humanidade, segundo a filosofia Yoga; é possível a Era da Beleza
porque a Era do Caminho da Sabedoria. E quem sabe, a Era da Arte de
Viver! O homem se harmonizando com
sua natureza – com o alargamento do seu eu profundo. O crescente emergir da
criatividade inegavelmente trará maiores possibilidades de felicidade e prazer
na esfera individual e coletiva.
Bom estar em sintonia fina com Pierre
Teilhard de Chardin, sua visão de mundo, ao que nos descreve em sua obra; O
Fenômeno Humano – salto quântico da espécie humana para níveis de consciência cada
vez mais depurados, mais elevados, nova chama criadora – A Lei Cósmica de Complexidade-Consciência.Para este sábio paleontólogo; “opção experimentalmente
apoiada no fato, curiosamente subestimado, que a partir do Passo da Reflexão nós
acedemos verdadeiramente a uma nova forma de Biologia, caracterizada, entre
outras singulares”. Chardin foi exímio observador da Natureza. Assim como se modifica a Física - passando do médio para o imenso ou ao seu oposto, ao ínfimo - existe de fato uma Biologia dos “infinitamente complexos" – da invenção à ordenação, da atração à repulsão e vice-versa. Da Vida em estado de irreversibilidade relativa ao estado de irreversibilidade absoluta – cósmica.
A Ciência só se ocupa com o que está “fora”, não se dá ao trabalho de olhar o Mundo, do lado de dentro, a partir da vida interna; simpatia e antipatia, emoções e afetos. O universo engendrado pela ciência dogmatizada tem como cânone as amarras da racionalidade. A intuição, que independe do raciocínio, é descartável. Presenciamos o “feitiço cartesiano” se esfacelar remetendo suas setas sem saber para qual direção.
Nas bases, os passos individuais e trocas de sociabilidade apontarão novos caminhos de Reflexão sobre a Vida. A Natureza ressalta em direção ao futuro para adiante. Estamos a caminho; a função essencial do ser humano é Ser Humano; é identificar-se com a Natureza em sua totalidade - Unus Mundo. A abelha, a fonte d’água ou e florzinha da estrada, também, são sujeitos no centro da História.
*Artigo publicado em outro lugar. Aqui, mínimas alterações_Ag. 2019.
-- postagem martha pires ferreira
~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~
Aqui no vazio que contem tudo _ Teilhard de Chardin _ o Paleontólogo, incansável pesquisador, que disse:
"O passado me revelou a construção do futuro".