Sibila, Cabríria, Carolina, Pretinha e Tigreza - filhotes
Desde
que me entendo por ser humano, andarilha neste planeta Terra, me vejo cercada
de bichos, os mais inusitados. Identifico-me com eles, sou bicho. Sou mais
particularmente identificada com os gatos. Sou pontualmente um bicho gata.
Posso
pensar no animal-bicho que desejar, é uma paixão visceral, não há exclusões. No
meu imaginário circulam as mais variadas espécies; um zoológico de ampla
extensão. Não conheço a África, entretanto, tigres, leões, leopardos, elefantes
ou gazelas habitam minha fazenda interior. Nem posso conceber o deserto, entretanto viajo
em camelos. Não há porque excluir animal que seja, nenhum. Todos fazem parte do
meu extenso bestiário.
É compreensível
que animais pestilentos, que fazem parte do mundo ctônico, obscuros como os
répteis, não sejam de meu interesse, e nem vou me deter com eles. Estão lá no
fosso obscuro da criação. No obscuro reino de temores. Sendo que as serpentes
me encantam, assim como os lagartos nas muralhas de Santa Teresa. Era possível
andar sozinha pela estrada, caminhando da casa onde eu morava, até ao Silvestre
apreciando estes animaizinhos, os voos das borboletas, a mata densa e beber
água da fonte ao passar pelo Chororó. Pelas manhãs os pássaros a cantar
melodias dionisíacas.
Na
infância galinhas, cabritos, patos e marrecos, cachorros ou cavalos me
encantavam. O suíno achava estranhíssimo. Acompanhava os pássaros pelo canto em
asas da liberdade. Por um tempo fiquei
cuidando da tartaruga de uma amiga, e assim aprendi segredos insondáveis pelo seu
andar com a paciência no tempo e reservas ao esconder a cabeça no próprio
corpo. Hoje, prazer é acompanhar os micos pulando nos galhos das árvores
enquanto rego minhas plantas na área de serviço. Aqui no principado de Santa
Teresa (não tão principado como já foi).
Desenhar
e redesenhar formas de uma zoologia fantástica faz parte do meu processo
criador. Animais são minhas vísceras, meu centro ordenador instintivo.
Já
tive dengue, logo se deduz que aquele mosquito de nome horroroso já se acercou
de mim. Só não me matou. Confesso que o zunir dos mosquitos é inacreditável
pela potência, desproporção entre o tamanho do inseto e seu zumbir. É incrível.
O mesmo se dando no reino das abelhas. Hienas, lobos e baratas, não. A “barata,
o inseto monstruoso” de Kafka é inesquecível. Seres das profundezas das águas;
beleza em movimento contínuo!
O
universo imagístico do povo chinês ao idealizar dragões nos encanta, e, a Ave Fenix da alquimia não fica por
menos. São riquezas insondáveis como o símbolo da pomba do Espírito Santo.
Dizia
minha saudosa amiga Nise da Silveira: “Eu me sinto bicho. Bicho é mais
importante que gente. Pra mim o teste é o bicho, se não passar por ele, não tem
vez. Freud disse que quem pensa que não é bicho, é arrogante.” Noutra ocasião
ela nos disse: “Desprezo as pessoas que se julgam superiores aos animais. Os
animais têm a sabedoria da natureza. Eu gostaria de ser como o gato: quando não
se quer saber de uma pessoa, levanta a cauda e sai. Não tem papo”.
Gatos/gatas coroam minha cabeça. Vivi muitos anos com
gatas. Minha casa sempre foi habitada pela presença sábia das gatas. Primeiro veio Sibila
I, em 1972, que gerou Sibila II. Sua filha, Cabíria viveu 10 anos. Carolina,
presente de uma amiga, foi a mais sábia das avós, viveu 16 anos e meio e
Tigresa, sua filha, 16 anos. Tigresa gerou a gata Preta, a neta mais doce, meiga e
encantadora que já tive. Preta, Pretinha
é neta de uma linhagem do território do sagrado. A sensibilidade, a percepção sutilíssima
e o mistério dos felinos são impossíveis de se descrever. Palavras são pobres
já que estamos diante de algo além do entendimento, pertencendo às fronteiras do
divino.
Diante dos gatos silenciamos em
reverência. Preta com quase 20 anos tudo acompanhava, sábia, sinalizava. Muita dor em mim ao partir tão idosa! Minha
deusa egípcia Bastet.
Sofia contemplando a paisagem!
Por
pouco tempo acolhi uma gatinha que dei o nome de Sofia, doente, muito frágil, veio
para minha casa, mas não resistiu, faleceu. Deixou marcas pela delicadeza e
travessuras. Gostava de pular pra o peitoril da janela, o que me preocupava,
tirava e ela rebelde ia tranquila mais uma vez contemplar a paisagem.
Acompanhei uma gatinha do jardim, dei o
nome de Florzinha. Sempre vinha ao meu encontro ao sair ou ao chegar da rua.
Miava feliz e me seguia. Uma doçura! Não sei o que ocorreu, faleceu de repente.
Ficou a saudade felina!
Florzinha do jardim
Observo
os gatos e gatas das ruas, mas não interfiro, não sou tão generosa para ir ao
seu encontro. Mulheres vizinhas cuidam destes felinos soltos, com dedicação.
A sabedoria destes felinos é
indescritível, está acima da nossa pretensa inteligência, compreensão. Os gatos, estes seres adoráveis!
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