sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Natal se estende até dia 6 de janeiro

Riquezas iconográficas do Natal
Frei Filippo Lipi, séc. XV - natividade do Menino Jesus, e, já criancinha saboreando uvas enquanto José parece colher frutos de uma árvore. 

                        Natal
                                               Murilo Mendes

Meu outro eu angustiado desloca o curso dos astros, atravessa
os espaços de fogo e toca a orla do manto divino.
O ser dos seres envia seu Filho para mim,
para os outros que
O pedem e para os que O esquecem.
Uma criança dançando segura uma esfera azul com a cruz:
Vêm adorá-la brancos, pretos, portugueses, turcos, alemães,
russos, chineses, banhistas, beatas, cachorros e
bandas de música.
A presença da criança transmite aos homens uma paz inefável
que eles comunicam nos seus lares a todos os
amigos e parentes.
Anjos morenos sobrevoam o mar, os morros e
arranha-céus,
desenrolando, em combinação com a rosa-dos-ventos,
grandes letreiros onde se lê: GLÓRIA A DEUS NAS
ALTURAS E PAZ NA TERRA AOS HOMENS DE
BOA VONTADE.
Murilo Mendes (1901-1975) nasceu em Juiz de Fora, MG. Este poema, publicado em Tempo e eternidade (1935), representa bem a fase mais religiosa do poeta. Destaca-se o abrasileiramento do tema, com a presença de “anjos morenos” e a busca da paz de espírito anunciada pelo nascimento de Jesus.
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