sábado, 8 de novembro de 2008

Sinais do Firmamento e o lugar do astrólogo

A astrologia é um processo de autoconhecimento e de transformação.
Sua epistemologia se estabelece através dos conhecimentos da mecânica celeste - a correlação entre o planeta Terra, onde nascemos e vivemos, com todo o sistema solar, somado ao saber simbólico expresso na faixa do Zodíaco com seus doze signos, a partir do signo de Áries, 21 de março, quando se iniciam o equinócio da primavera para o hemisfério norte e o do outono para o hemisfério sul. A teoria astrológica se fundamenta, basicamente, numa linguagem simbólica do mundo mítico, onde o Sol, a Lua e os Planetas representam e expressam nossas próprias potencialidades, caracterizadas pelos elementos da natureza Fogo, Terra, Ar e Água.
As conexões existentes entre os ângulos e a natureza dos planetas com suas projeções na vida terrestre definem a íntima interação entre o macro e o microcosmo. O que nos remete a uma intimidade corpórea, intelectual e espiritual com o universo absoluto. Pulsamos racional e emocionalmente com o Cosmo. Somos unos com o Universo.
A Astrologia é um processo de depuração profunda, alquímica, em que as polaridades ativas e luminosas se complementam às receptivas e sombrias. Exercício de elaboração dos “metais interiores”. Elaboração pessoal que se estende ao coletivo e ao essencial na obra da criação - tentativa de liberar o ser humano das tramas da fatalidade e do determinismo conduzindo-o a estados de consciência cada vez mais elevados.
A carta natal nos pode dar uma visão geral, jamais precisões exatas. A Astrologia, mesma com sistemas os mais complexos, não é suficiente para ser precisa. Há limites próprios por ser acausal. Seus cânones não são os da razão pura, infalível para o conhecimento e domínio da natureza. Não é governada por leis cartesianas inflexíveis, imutáveis, uniformes. Acausal, ela depende da livre expressão de cada indivíduo: “os astros inclinam, não determinam.” As escolhas estão sempre movidas por possibilidades inatas, tendências, predisposições. São fenômenos de sincronicidade, no tempo e no espaço.
A Astrologia, enquanto objeto de observação dos ciclos planetários se manifestando no coletivo, no contexto mundial, sejam nações, instituições, ocorrências sísmicas, meteorológicas, organizações empresariais, decisões políticas, acordos diplomáticos, etc., analisará a partir dos mesmos conceitos básicos do céu zodiacal. Observações, eventos, acordos políticos e assim por diante.
Este é talvez o setor mais complexo e o mais sofisticado da ciência e arte da analisar o céu. Ele nos exige um acompanhamento das histórias civilizatórias, em épocas as mais remotas, e é sinalizado pelas grandes conjunções celestes, em especial em momentos que marcam profundas transformações políticas, econômicas e sociais.
Não se pode falar da história do pensamento sem incluir a contribuição que a Astrologia, de mãos dadas com a Astronomia, exerceu na Antiguidade mais remota. No berço de todas as civilizações, a Astrologia se voltava para a compreensão das necessidades de seus povos - os fenômenos cíclicos da natureza se manifestando no mundo agrícola e pastoril, os tipos de governo e as decisões de guerra e de paz. Na Antiguidade, o saber astrológico estava a serviço da compreensão do Universo e das realizações terrestres.
A história da civilização nos mostra os momentos de dicotomização entre o ser humano e ao Universo. Com a não observação dos sinais “escritos nas estrelas”, a história do homem se tornou a história das prepotências e das tiranias políticas, militares, religiosas e econômicas. Reinos de genocídios internacionais. Armadilhas que aprisionam os lobos da concorrência mundial.
A astrologia só tem futuro: resgatar a conexão humanista, homem e mulher, com o cosmo. Não haverá harmonia enquanto não houver uma compreensão da sinalização da linguagem celeste a serviço da Humanidade inteira. Céu e terra numa só realidade, uma só verdade.
A astrologia precisa estar a serviço dos valores humanos básicos que a atualidade desorientada anseia ansiosamente recuperar: a serenidade interior, a confiança no presente a as perspectivas para um futuro mais tranqüilo, a integridade pessoal, a liberdade, o senso de justiça, a autenticidade, a dignidade, a profundidade, a capacidade de amar, de se dar, de ser feliz e de compartilhar com seus semelhantes com bondade e generosidade emocional. Viver a plenitude de pertencer à criação de Deus e ter alegria por isso.
Astrologia não é um negócio rendoso, é um dar-se em amorosa disponibilidade à criação. O Astrólogo não é mais que um mero intérprete dos recados do Criador para a criatura.

Martha Pires Ferreira
Texto publicado - Oficina de astrologia Revista nº. 1 Ano I * Dezembro de 1998.

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi, oi , oi, Martha querida;

duas considerações:

1ª) acabei de ler seu estupendo texto "Conceito de Self para Carl C. Jung".
Nossa, amei e amei!!! Desses últimos encontros em que o "Self" foi 'esmiuçado'(e não desmerecendo aqui do que ouvi, por favor compreendam-me) não me senti tão inteira quanto ao ler seu texto.
Queria te pedir que o postasse aqui , ou na Casa, ou ainda se preferir, que me enviasse pois gostaria muito de encaminhá-lo, com sua devida autorização e créditos.
Num momento em que tantas "caminhos" de despertar de consciências têm sido ofertados, gostaria muito de levar "Jung" comigo. Porém ainda sou muito imatura qaunto à Ele, para anunciá-lo com maestria, como tão bem tu o fazes! Pensa nisto, por favor.
Ontem, foi tudo de bom!!Sempre é uma alegria radiante (sai de forma tão efusiva do encontro, viajando, que me senti perdida do meu caminho físico, rsrs,tive que pedir informação na rua!)

2ª) este texto aqui está maravilhoso. Fico extasiada quando te leio. Para não ocupar muito espaço aqui ao transcrever, digo que o último parágrafo concluiu de forma doce, poética sem perder a lucidez.

Isto aqui: "os astros inclinam, não determinam." evoca uma Astrologia, idônea e rsponsável. Realizada por quem entende de fato!!!
Bravo, Martha!!!

nota: para mim há duas Marthas, a dos encontros e a que escreve aqui. Cada uma com peculariedades: uma 'maestrina' veemente e charmosa - explosão de saberes; outra sensível, serena, poética e que juntas me encantam!

(nossa, hoje tô demais!desculpe meu 'arroubo' rs)

um beijo
denise
(denisenra@gmail.com)

Martha Pires Ferreira disse...

Denise,
Você exagera, eu apenas cumpro minha alegria de viver no mundo da criatividade, na beleza que é estar receptiva às complexidades da vida, no fluxo dos sopros.
O Tempo passa ligeiro e precisamos saber ser co-criadores com o próprio Criador.
O Grupo de Estudos C.G. JUNG como sempre ótimo! Sentimos sua falta
Até mais, martha

denise senra disse...

Querida Martha,
vim te "admirar" e encontro este lindo comentário. Nossa! estou exultante!!!
Como se aproxima as provas tenho estudado bem , intensificando leituras (para formar consciência crítica)e ando cansada. Como tériamos três encontros diretos, optei por me ausentar na quarta e não faltar mais até o último, deste ano , é claro. Mas confesso que no dia me deu um aperto no coração de faltar. Mas não tinha como mudar de direção, pois deixo meu filho com alguém para vir e tinha desmarcado com a pessoa. Fiquei me sentindo cortada.
Não sou exagerada nao. Vocé que é talentosa e charmosa demais!! E minha sensibilidade capta isto e não tem vergonha de se expressar!
Já fui na Casa e amei seu texto sobre a Biblioteca. Nossa, qualquer dia vou me sentar lá e abraçar meus autores favoritos.
E o Recital?? cheia de água na boca!
Agora vou indo para os estudos.
Até amanhã!
um beijo
ah! lamentei não poder ir na sua Palestra. Não faltará oportunidade, creio. E fico feliz de ler comentários tão exultantes sobre ela. Deve ter sido um glamour só!
Parabéns!!!!!
denise