A astrologia é um processo de autoconhecimento e de transformação.
Sua epistemologia se estabelece através dos conhecimentos da mecânica celeste - a correlação entre o planeta Terra, onde nascemos e vivemos, com todo o sistema solar, somado ao saber simbólico expresso na faixa do Zodíaco com seus doze signos, a partir do signo de Áries, 21 de março, quando se iniciam o equinócio da primavera para o hemisfério norte e o do outono para o hemisfério sul. A teoria astrológica se fundamenta, basicamente, numa linguagem simbólica do mundo mítico, onde o Sol, a Lua e os Planetas representam e expressam nossas próprias potencialidades, caracterizadas pelos elementos da natureza Fogo, Terra, Ar e Água.
As conexões existentes entre os ângulos e a natureza dos planetas com suas projeções na vida terrestre definem a íntima interação entre o macro e o microcosmo. O que nos remete a uma intimidade corpórea, intelectual e espiritual com o universo absoluto. Pulsamos racional e emocionalmente com o Cosmo. Somos unos com o Universo.
A Astrologia é um processo de depuração profunda, alquímica, em que as polaridades ativas e luminosas se complementam às receptivas e sombrias. Exercício de elaboração dos “metais interiores”. Elaboração pessoal que se estende ao coletivo e ao essencial na obra da criação - tentativa de liberar o ser humano das tramas da fatalidade e do determinismo conduzindo-o a estados de consciência cada vez mais elevados.
A carta natal nos pode dar uma visão geral, jamais precisões exatas. A Astrologia, mesma com sistemas os mais complexos, não é suficiente para ser precisa. Há limites próprios por ser acausal. Seus cânones não são os da razão pura, infalível para o conhecimento e domínio da natureza. Não é governada por leis cartesianas inflexíveis, imutáveis, uniformes. Acausal, ela depende da livre expressão de cada indivíduo: “os astros inclinam, não determinam.” As escolhas estão sempre movidas por possibilidades inatas, tendências, predisposições. São fenômenos de sincronicidade, no tempo e no espaço.
A Astrologia, enquanto objeto de observação dos ciclos planetários se manifestando no coletivo, no contexto mundial, sejam nações, instituições, ocorrências sísmicas, meteorológicas, organizações empresariais, decisões políticas, acordos diplomáticos, etc., analisará a partir dos mesmos conceitos básicos do céu zodiacal. Observações, eventos, acordos políticos e assim por diante.
Este é talvez o setor mais complexo e o mais sofisticado da ciência e arte da analisar o céu. Ele nos exige um acompanhamento das histórias civilizatórias, em épocas as mais remotas, e é sinalizado pelas grandes conjunções celestes, em especial em momentos que marcam profundas transformações políticas, econômicas e sociais.
Não se pode falar da história do pensamento sem incluir a contribuição que a Astrologia, de mãos dadas com a Astronomia, exerceu na Antiguidade mais remota. No berço de todas as civilizações, a Astrologia se voltava para a compreensão das necessidades de seus povos - os fenômenos cíclicos da natureza se manifestando no mundo agrícola e pastoril, os tipos de governo e as decisões de guerra e de paz. Na Antiguidade, o saber astrológico estava a serviço da compreensão do Universo e das realizações terrestres.
A história da civilização nos mostra os momentos de dicotomização entre o ser humano e ao Universo. Com a não observação dos sinais “escritos nas estrelas”, a história do homem se tornou a história das prepotências e das tiranias políticas, militares, religiosas e econômicas. Reinos de genocídios internacionais. Armadilhas que aprisionam os lobos da concorrência mundial.
A astrologia só tem futuro: resgatar a conexão humanista, homem e mulher, com o cosmo. Não haverá harmonia enquanto não houver uma compreensão da sinalização da linguagem celeste a serviço da Humanidade inteira. Céu e terra numa só realidade, uma só verdade.
A astrologia precisa estar a serviço dos valores humanos básicos que a atualidade desorientada anseia ansiosamente recuperar: a serenidade interior, a confiança no presente a as perspectivas para um futuro mais tranqüilo, a integridade pessoal, a liberdade, o senso de justiça, a autenticidade, a dignidade, a profundidade, a capacidade de amar, de se dar, de ser feliz e de compartilhar com seus semelhantes com bondade e generosidade emocional. Viver a plenitude de pertencer à criação de Deus e ter alegria por isso.
Astrologia não é um negócio rendoso, é um dar-se em amorosa disponibilidade à criação. O Astrólogo não é mais que um mero intérprete dos recados do Criador para a criatura.
Martha Pires Ferreira
Texto publicado - Oficina de astrologia Revista nº. 1 Ano I * Dezembro de 1998.